O Sermão da Montanha
O sermão do monte apresenta princípios éticos e
morais pertinentes ao reino vindouro do Messias? Que relação há entre a
degradação moral do gênero humano e os princípios anunciados por Jesus? O
sermão do monte é um conjunto de normas e princípios de cunho ético e moral? É
um estatuto do reino de Cristo? Basta comportar-se segundo alguns princípios
éticos e morais que o homem terá direito ao reino dos céus?
E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e,
assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos; E, abrindo a sua boca,
os ensinava, dizendo:
Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus;
Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;
Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;
Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;
Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;
Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus;
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus;
Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.
Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus;
Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;
Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;
Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;
Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;
Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus;
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus;
Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.
Há várias teorias que tentam explicar o sermão do monte.
Para alguns estudiosos o sermão do monte
é um 'evangelho' exclusivo do reino de Jesus. Outros compreendem que o sermão
apresenta princípios éticos e morais pertinentes ao reino do Messias.
Geralmente fazem um comparativo entre a degradação moral do gênero humano e os
princípios anunciados no sermão.
Diante das análises e de algumas
contradições, ficam as questões: O sermão do monte é um conjunto de normas e
princípios de cunho ético e moral? É um estatuto do reino de Cristo? Basta
praticar o que Jesus anunciou e o homem terá direito ao reino dos céus?
Para compreendermos a mensagem de Jesus,
é necessário observarmos alguns versículos do Antigo Testamento e a dinâmica do
aprendizado da Escritura naquela época. Dentre vários versículos destacamos:
"Bem-aventurado tu, ó Israel! Quem é como tu? Um povo salvo pelo SENHOR, o escudo do teu socorro, e a espada da tua majestade; por isso os teus inimigos te serão sujeitos, e tu pisarás sobre as suas alturas" ( Dt 33:29 );
"Provai, e vede que o SENHOR é bom; bem-aventurado o homem que nele confia" ( Sl 65:4 );
"Bem-aventurado aquele a quem tu escolhes, e fazes chegar a ti, para que habite em teus átrios" ( Sl 34:8 );
"Bem-aventurado o homem cuja força está em ti, em cujo coração estão os caminhos aplanados" ( Sl 84:5 ).
Sobre a dinâmica do aprendizado do povo
judeu, destacamos:
Vários livros do Antigo Testamento fazem
referência à bem-aventurança. Dentre eles o livro de Provérbios e o livro dos
Salmos são os que mais fazem referências as bem-aventuranças. Estes livros do
Antigo Testamento eram lidos constantemente nas sinagogas, e mesmo aqueles que
não sabiam ler conheciam de cor algumas das citações, entre elas as que
envolviam a ideia da bem-aventurança.
É importante lembrar que naquela época
um livro era caríssimo, e o povo não tinha acesso ou não sabiam ler, o que
fortalecia a necessidade de memorizar o que era lido. Eles dependiam da leitura
no templo para ouvirem trechos da lei, dos profetas e dos cânticos. O livro de
Provérbios e os Cânticos dos Salmos auxiliavam em muito no processo de
memorização.
Outra característica dos textos que
fazem referência a bem-aventurança é a conexão com o nome do Deus de Israel. No
Antigo Testamento a ideia da bem-aventurança decorre do favor de Deus para com
os homens.
Um mestre sempre se assentava para
ensinar e Jesus assentou sobre o monte cercado pelos seus discípulos e pela
multidão. A multidão ao ver que Jesus se assentou, cercou-lhe ansiosa para
ouvir o discurso.
Jesus havia percorrido toda a Galileia curando os enfermos, ensinando nas sinagogas e pregando o evangelho. A notícia de suas ações percorria todas as cidades. Uma grande multidão vinda de várias cidades o seguia ( Mt 4:25 ).
Vendo Jesus a grande multidão subiu a um
monte e assentou-se ( Mt 5:1 ); os seus discípulos aproximaram-se e ele passou
a ensiná-los!
Há muito tempo que o povo ouvia falar das bem-aventuranças prometidas nas escrituras, mas a situação era de opressão e miséria.
A fama de Jesus havia criado uma
expectativa na multidão, e quando Jesus falou sobre a bem-aventurança,
materializou-se a esperança dos ouvintes. Anos após anos os pais anunciavam aos
filhos uma época de alegria plena, mais ainda não tinham experimentado da
alegria prometida por Deus.
O sermão do monte iniciou-se com uma
mensagem de alegria a um povo oprimido e sem esperança. Jesus apresenta uma
esperança viva, porém, o discurso endurece logo em seguida. O povo esperava
refrigério e segurança nesta vida. Esperavam um Messias que os libertasse da
escravidão política.
Qual a mensagem Jesus transmitiu ao povo
no sermão do monte? Sobre que alegria Jesus falou? Que esperança foi
transmitida? A alegria prometida dependia do cumprimento de mais normas e
regras?
Conheça um pouco mais sobre este
importante sermão!
"Bem-aventurados os pobres de
espírito, porque deles é o reino dos céus"
As pessoas ao ouvirem: "Bem-aventurados...", logo fizeram conexão com algumas das citações bíblicas. Será que
Ele comentará um dos Provérbios? Será que ele citou Salmos? Ou a abordagem dele
será extraída da lei?
A bem-aventurança é um tema que prendeu
a atenção dos ouvintes de Jesus e em nossos dias ainda cria expectativa nos
leitores. Afinal, quem não quer ser bem-aventurado?
Quando Jesus complementa: "Bem-aventurados OS POBRES..." a mensagem toca ainda mais os ouvintes. Esta seria uma mensagem inesquecível, pois tocou a emoção do povo: "Será uma revolução social? É agora que alcançaremos a hegemonia política e a paz prometida?".
Quando Jesus complementa: "Bem-aventurados OS POBRES..." a mensagem toca ainda mais os ouvintes. Esta seria uma mensagem inesquecível, pois tocou a emoção do povo: "Será uma revolução social? É agora que alcançaremos a hegemonia política e a paz prometida?".
A promessa de alegria aos pobres é
plenamente compreensível, mas o que entender do qualificativo adicionado ao
substantivo pobre? "Bem-aventurados os pobres de
espírito...". Quem são os pobres de espírito?
Jesus estava rodeado de pobres de várias
cidades circunvizinhas. Se a mensagem fosse somente: 'bem-aventurados os
pobres', ela seria aceita e ovacionada pela multidão! Jesus teria conquistado
os seus ouvintes e mais seguidores. Mas, como um povo que professava 'a melhor'
religião, com princípios éticos e morais intocáveis e que se consideravam
filhos de Abraão poderia aceitar ou reconhecer ser um 'pobre de espírito'?
Como alguém observador da lei
reconheceria a condição de pobreza espiritual?
No Antigo Testamento não consta o
conceito 'pobre de espírito'. Mas, Aquele que representava uma esperança de
mudança na condição do povo, apresenta um novo conceito e uma necessidade de
reconhecer uma condição que caracteriza os pecadores ou os incircuncisos. Como
um filho de Abraão poderia reconhecer que era pobre de espírito?
Jesus completou a frase: "...porque deles é o reino dos céus". Muitos se perguntaram: De quem é o reino dos céus? Dos pobres de
espírito?
Além do mais, o povo estava a procura de
curas, de pães, de peixes, de um reino terreno, mas Jesus estava falando de um
outro reino: do reino dos céus!
Onde fica este reino? O que é o reino
dos céus?
Para responder essas perguntas devemos
observar a mensagem que foi anunciada desde o nascimento de Cristo: "E, naqueles dias, apareceu João batista
pregando no deserto da Judeia, e dizendo: Arrependei-vos, porque é chegado o
reino dos céus" ( Mt 3:1 -2); "Desde então começou Jesus a pregar, e a
dizer: arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus" Mt 4: 17.
Verifica-se que o reino dos céus diz da
pessoa de Cristo, como profetizou Isaías e reafirmou João Batista: "Porque este é o anunciado pelo profeta
Isaías, que disse: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor,
endireitai as suas veredas" (
Mt 3:3 ).
Quando Jesus disse: "Bem-aventurados os pobres de espírito, porque
deles é o reino dos céus", Ele não estava
denunciando a moral do povo. Ele não estava apregoando um reino humano ( Jo
18:36 ). Também não estava em busca de uma melhoria na condição socioeconômica
do povo ( Jo 12:8 ). Antes Jesus estava se apresentando ao povo por parábolas.
Com a sua mensagem, Jesus expôs ao povo
que Ele é o acesso ao reino dos céus, e que todos aqueles que reconhecessem que
eram pobres de espírito, estes seriam bem-aventurados. Àqueles que
reconhecessem a precária condição espiritual que se encontravam, pertenciam o
reino dos céus, que é Cristo. Eles precisavam reconhecer que eram necessitados
espiritualmente.
Enquanto queriam pão, Jesus estava
apresentado o pão vivo que desceu dos céus. Enquanto buscavam um reino, Jesus
estava lhes abrindo a porta do reino dos céus. A relutância em aceitar a
condição de necessitados espiritualmente persistiu até mesmo entre os
discípulos que criam nele: "Responderam
eles (os judeus que criam nele): somos descendentes de Abraão, e jamais fomos
escravos de ninguém" ( Jo 8:31 -33).
Eles acreditavam estar abastados
espiritualmente por serem descendentes de Abraão. Ao se auto proclamarem como
filhos de Abraão, os judeus estavam cônscios de que eram filhos de Deus ( Jo
8:41 ). Ser filho de Abraão para eles era o mesmo que ter a filiação divina.
Por isso João Batista disse que das pedras Deus poderia fazer filhos para si.
Em razão desta crença os judeus não admitiam que eram escravos de ninguém, uma
vez que se admitissem ser escravos, era o mesmo que admitir que alguém havia
conquistado o próprio Deus ( Jo 8:33 ).
"Bem-aventurados os que choram,
porque eles serão consolados"
O sermão prossegue: "Bem-aventurados OS QUE CHORAM...". A bem-aventurança depende da emoção humana? O choro como
conseqüência direta de uma emoção humana concede o favor de ser consolado?
Não! A ideia apresentada neste versículo
complementa a anterior.
O choro denota a condição de impotência frente a questões impossíveis. Após reconhecer a condição de miserabilidade espiritual, a reação do homem é o choro.
O choro denota a condição de impotência frente a questões impossíveis. Após reconhecer a condição de miserabilidade espiritual, a reação do homem é o choro.
A única ação de um miserável é o choro,
e serão consolados!
Para que o abatido seja consolado, é
preciso que habite com alguém que lhe arranque da miséria: "Porque assim diz o Alto e o Sublime, que
habita na eternidade, e cujo nome é Santo: Num alto e santo lugar habito; como
também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos
abatidos, e para vivificar o coração dos contritos" ( Is 57:15 ; Sl 51:17 ).
Compare:
"Bem-aventurados os pobres de espírito, porque
deles é o reino dos céus" ( Mt 5:3 ).
"...como também com o contrito e abatido de
espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração
dos contritos" ( Is 57:15 ).
O salmista quando pedia perdão ao Senhor
disse: "Cria em mim, ó Deus, um coração
puro, e renova em mim um espírito reto" (
Sl 51:10 ).
Quem haveria de consolar os que choram?
Os que choram serão consolados por Aquele que tem o reino dos céus. É Ele que
enxugará todas as lágrimas!
A resposta está em Isaias: "O espírito do Senhor DEUS está sobre mim;
porque o SENHOR me ungiu, para pregar boas novas aos mansos; enviou-me a
restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a
abertura de prisão aos presos; A apregoar o ano aceitável do SENHOR e o dia da
vingança do nosso Deus; a consolar todos os tristes"( Is 61:1 -2).
"Bem-aventurados os mansos, porque
eles herdarão a terra"
A mensagem de Jesus possivelmente formou
um impasse na mente dos ouvintes: Moisés, o homem mais manso da terra não
conseguiu herdar a terra, como herdar a terra se os ouvintes não se
consideravam maiores que Moisés "E
era o homem Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a
terra" ( Nm 12:3 ).
Se Moisés, considerado um dos homens
mais manso da terra, não conseguiu herdar a terra, qual a intenção de Jesus ao
declarar que os mansos são felizes?
Mas a pergunta persiste: Quem são os
mansos? Qual é a terra a se herdar?
"E os mansos terão gozo sobre gozo no SENHOR;
e os necessitados entre os homens se alegrarão no Santo de Israel" ( Is 29:19 ).
"Os mansos comerão e se fartarão; louvarão ao
SENHOR os que o buscam; o vosso coração viverá eternamente" ( Sl 22:26 ).
"Mas os mansos herdarão a terra, e se
deleitarão na abundancia de paz" (Sl
37:11).
À exemplo do Antigo Testamento as bem-aventuranças
decorre do Senhor de Israel, mas, como alcançar tamanha alegria e ainda herdar
a terra? E qual terra?
Jesus é a resposta: "Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de
mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas
almas" ( Mt 11:29 ).
"Bem-aventurados os mansos, porque eles
herdarão a terra;"
"....aprendei de mim, que sou manso e humilde
de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas"
Observe a relação entre os dois
versículos: aqueles que se deixarem instruir por Jesus, o Mestre por
excelência, estes serão felizes por alcançar o prometido, descanso para as
almas. Estes serão bem-aventurados por alcançar o prometido: a promessa de
herdar a terra equivale ao descanso para a alma para aqueles que se deixarem instruir.
Quando Jesus falou 'bem-aventurados os
mansos, porque eles herdarão a terra', não foi com o intuito de concitar os
ouvintes a que tivessem uma personalidade semelhante ou superior a de Moisés.
A mansidão que Jesus faz referência não
é comportamental, antes é a mansidão vinculada ao coração, ou a nova natureza
do homem. Após o homem aprender de Jesus haverá uma transformação na natureza
do homem, e estes receberão a plenitude de Cristo, e serão semelhantes a Ele:
mansos e humildes de coração ( Cl 2:10 ).
Quando Jesus afirmou que os mansos
herdarão a terra, Ele não fez referência a elementos deste mundo, mas ao
descanso preparado por Deus. A 'terra' representa um lugar de descanso que Deus
preparou para os que aprenderem daquele que é por excelência manso de
coração "Ora, nós, os que temos crido,
entramos no descanso..." ( Hb 4:3 -10).
A terra prometida no Antigo Testamento
estava atrelada a ideia de descanso, e no Novo Testamento a referência a terra
diz de coisas melhores: do descanso de Deus. Aqueles que aprenderem com Cristo,
estes terão descanso para as suas almas.
Aquele que encontra descanso para a sua
alma em Cristo não receberá como herança um torrão de terra, antes será
herdeiro de novos céus e nova terra "Mas
nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita
a justiça" ( 2Pe 3:13 ).
O apóstolo Pedro ao referir-se aos
mansos de coração, não fala do homem natural, mas daquele homem que não
conseguimos visualizar, aquele 'encoberto no coração', do homem regenerado, que
possui um incorruptível traje de um espírito manso e quieto "Mas o homem encoberto no coração; no
incorruptível traje de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de
Deus" ( 1Pe 3:4 ).
O que é precioso diante de Deus? O que
possui valor para com Deus? Segundo o apóstolo Paulo o que tem valor, o que tem
virtude diante de Deus, é o ser uma nova Criatura: "Porque em Jesus Cristo nem a circuncisão nem
a incircuncisão tem valor algum; mas sim a fé que opera pelo amor" ( Gl 5:6 ); "Porque em
Cristo Jesus nem a circuncisão, nem a incircuncisão tem virtude alguma, mas sim
o ser uma nova criatura" ( Gl 6:15 ).
Como a fé 'vem pelo ouvir', e o 'ouvir
pela palavra de Deus', quando Jesus diz que devemos aprender dele, é porque o
seu ensino produz fé que faz os seus ouvintes alcançar uma nova vida com
direito a ser herdeiro com Cristo. Como Cristo descansou de suas obras, como
herdeiros de Deus, os de novo gerado alcançam a bem-aventurança.
Através da regeneração o homem adquire a
natureza de Cristo, ou seja, é gerado segundo Deus um novo homem em verdadeira
justiça e santidade, características pertinentes a pessoa de Cristo. Somente
através do novo nascimento o homem torna-se humilde e manso de coração.
"Bem-aventurados os que têm fome e
sede de justiça, porque eles serão fartos"
Percebe-se que Jesus não estava se
referindo à justiça que é administrada nos tribunais dos homens! A abordagem de
Jesus em momento algum teve objetivos político. Jesus não estava preocupado com
os problemas atrelados as injustiças sociais. Jesus não estava promovendo mais
uma obra de caridade.
Em momento algum Jesus expôs os
princípios anunciados pela teologia da libertação em que a prática de justiça
esteja atrelada a transformações de ordem econômicas, social e políticas. Em
momento algum Jesus demonstra que a bem-aventurança dependa de transformações
sociais ou que se fundamenta nas relações sociais.
Jesus não estava promovendo diretamente
a prática da fraternidade, o equilíbrio nas relações no exercício do poder ou
incentivando a partilha de bens no intuito de equilibrar a distribuição de
riquezas.
Não! O sermão do monte trata de questões
eminentemente espirituais.
Se Jesus estivesse promovendo a
solidariedade humana como requisito para se alcançar a verdadeira alegria, ele
não teria protocolado um veemente protesto aos seus ouvintes: "Porque vos digo que, se a vossa justiça não
exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos
céus" ( Mt 5:20 ).
Você já observou o conceito dos fariseus
e dos escribas frente a multidão? Para o povo os fariseus e os escribas eram o
que a sociedade tinha de melhor. Porém, a análise de Cristo é diferente: "Assim também vós exteriormente pareceis
justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de
iniqüidade" ( Mt 23:28 ).
Os religiosos pareciam justos, mas a
natureza deles era incompatível com a divina: estavam plenos de iniqüidade.
Como seria possível as obras dos
ouvintes de Jesus alcançar uma posição maior em relação aos fariseus e
saduceus? Como entender o ter fome e sede de justiça? Onde os ouvintes de Jesus
encontrariam fartura de justiça?
Se conseguirmos responder a estas
perguntas, estaremos bem próximo de entender todos os conceitos apresentados
por Jesus no sermão do monte.
Jesus não se ocupou em estabelecer um
novo padrão de conduta para os seus ouvintes. Também não foi oferecido
felicidade e alegria com base nas emoções e motivações humanas.
A felicidade do homem neste mundo
envolve outros aspectos e não está vinculado ao que Cristo apregoou no sermão
do monte "Porque quem quer amar a vida, e
ver os dias bons, refreie a sua língua do mal, e os seus lábios não falem
engano. Aparte-se do mal, e faça o bem; Busque a paz, e siga-a" ( 1Pd 3:10 -11).
Se alguém procura a felicidade deste
mundo, basta seguir o que disse o apóstolo Pedro, ao citar o ( Sl 34:12 -14).
Basta ter uma vida correta diante da sociedade que o homem terá uma vida
tranqüila e sossegada em muitos aspectos.
O que Jesus oferece através das
bem-aventuranças vai além das perspectivas humanas e não se refere a este
mundo. A missão de Jesus é resgatar os pobres de espírito, sem qualquer
referência aos valores humanos, personalidade, caráter, moral, etc. Todos estes
elementos sofrem transformações ao longo do tempo, e difere de sociedade para
sociedade.
Os valores de hoje são totalmente
diferentes dos valores de cem anos atrás. O caráter e a moral sofreram
transformações e se adequou a sociedade moderna. Se a salvação estivesse
apoiada nestas questões circunstanciais, qual seria o padrão correto de conduta
nestes séculos de história da igreja?
Jesus não apoiou a sua doutrina no homem
ou em seus méritos. A doutrina de Jesus não faz acepção de pessoas, de condição
social, de épocas ou de cultura. A mensagem de Jesus é a mesma para os pobres e
para os ricos. Ambos precisam reconhecer a miséria espiritual que se encontram.
Todos os homens precisam arrependerem-se
e o primeiro passo está em reconhecer a condição de miséria espiritual e a
necessidade de socorro divino. Todos os homens estavam mortos em delitos e
pecados, sem qualquer distinção entre eles.
A próxima bem-aventurança anunciada por
Jesus encera um desejo de mudança. Diante da condição de miséria espiritual,
quando o homem reconhece a sua real condição, resta somente o choro, e a obra a
ser realizada para mudar este quadro fica na dependência de Deus.
Aqueles que se deixam instruir por
Jesus, o manso e humilde de coração, livram-se da condição de miséria
espiritual conforme foi apregoado tempos depois "Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele:
Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos.
E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" ( Jo 8:31 -32).
"Bem-aventurados os que têm fome e
sede de justiça, porque eles serão fartos"
Ainda persistem as perguntas: Como ter fome e sede de justiça? Onde encontrar fartura de justiça? A resposta para estas perguntas nos fará compreender melhor os conceitos apresentados por Jesus no sermão do monte.
"Ó VÓS, todos os que tendes sede, vinde às
águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde,
comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. Por que gastais o dinheiro
naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho naquilo que não pode
satisfazer? Ouvi-me atentamente, e comei o que é bom, e a vossa alma se deleite
com a gordura. Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma
viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, dando-vos as firmes
beneficências de Davi" ( Is 55:1 -3).
O paradoxo perdura: Diante de uma
multidão faminta e sedenta Jesus declara que aqueles que têm fome e sede são
felizes. As necessidades básicas dos ouvintes de Jesus eram evidentes. Porém,
Jesus não se atem a problemática social. O fato de não ser tolerante às
injustiças sociais não aproxima o homem de Deus. Promover projetos de cunho
social não é o caminho que conduz aos céus.
Em um mundo em crise social, econômica,
política, familiar, etc, as pessoas desejam mudanças urgentes e clamam por
justiça, mas esta 'fome' e 'sede' de justiça não é a que traz a verdadeira
felicidade. A mensagem do evangelho não coaduna com a teologia da libertação.
Somente os pobres de espírito têm sede e
fome de justiça. Os 'ricos' espirituais são aqueles que se consideram justos
diante de Deus. São aqueles que se justificam por meio de suas ações diante dos
homens.
Os pobres nada têm neste mundo para
sentirem-se seguros, mas eles terão o reino dos céus. Somente os pobres de
espírito sentem fome e sede de justiça, e em Deus serão fartos. Aquele que
concede o reino dos céus é justo e justificador, e somente ele pode satisfazer
o que é exigido pela sua justiça.
O profeta Isaías há muito tempo anunciou
aos pobres que bastavam vir e comprar o melhor que se podia oferecer: vinho e
leite. Que convite! Que alegria! Os pobres foram convidados a terem o que as
suas posses não podiam arrematar.
Porém, o profeta protesta: "Porque gastais o dinheiro naquilo que não é
pão, e o produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer?" ( Is 55:2 ). A quem o profeta se referia? Aqueles que consideravam
não ter sede e fome! Aqueles que consideravam ter trabalhado o bastante para
satisfazer as suas necessidades. Estes trabalharam em vão.
Os pretensos ricos estavam gastando
naquilo que não podia satisfazer a necessidade essencial do homem.
Mas, de que maneira os pobres de
espírito podem saciar a fome e a sede? A resposta é bem simples: "Ouvi-me atentamente... Inclinai os vossos
ouvidos...". Simples assim ser abastado de justiça?
É isso que o profeta Isaías disse: Todos que ouvirem atentamente a palavra de
Deus, estes comerão o que é bom, o melhor! O que pode fazer deleitar a alma.
Qual é o deleite da alma? O que a
palavra de Deus pode suprir? "Ouvi,
e a vossa alma viverá". Se o homem tem sede
e fome de justiça, ela será saciada a partir do momento que se obter da vida
que há em Deus. Só após tornar participante da natureza divina o homem estará
abastado de justiça.
Não é o trabalho do homem que satisfaz a
necessidade da alma. Não é doações, não é pratos de sopas, não é reconhecendo
os erros do dia-a-dia, não é fazendo sacrifícios que o homem irá satisfazer a
necessidade primária da criatura de Deus.
O que satisfaz a necessidade dos homens
é o fruto do trabalho de Deus: "Ele
verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu
conhecimento o meu servo, o justo, justificará a muitos; porque as iniqüidades
deles levará sobre si"( Is 51:11 ).
O fruto do trabalho do servo do Senhor
se resume em conhecimento. Conhecimento é transmitido através da palavra! O
trabalho do Senhor é realizado por meio da sua palavra, e todos que
participarem do fruto oferecido terão nova vida.
Após aprender daquele que é humilde e
manso de coração "Tomai sobre vós o meu jugo, e
aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso
para as vossas almas" ( Mt 11:29 ), o
homem encontrará descanso e o verdadeiro alimento para a alma.
Cristo não estava preocupado com a
miséria socioeconômica do povo. A falta de moradia não era a causa ou a
bandeira do evangelho. O evangelho social não estava em voga no discurso do
Messias.
Cristo levou a iniqüidade de todos nós,
mas é o conhecimento transmitido por Ele que nos justifica. Ou seja, quando
Paulo diz que a fé vem pelo ouvir e o ouvir pela palavra de Deus, nada mais é
do que aprendermos com Aquele que é manso e humilde de coração.
Através do conhecimento adquirido vem a
fé, e por meio da fé podemos agradar a Deus. Após adquirir vida através da
palavra de Deus, adquirimos um espírito manso, somos justificados, ou seja,
declarados justos diante de Deus.
Não é o caráter do homem que é
transformado. O homem não recebe uma moral 'nova' ao adquirir o conhecimento do
Santo. Antes, o homem tem o seu ser criado novamente em verdadeira justiça e
santidade ( Ef 4:24 ), e a sua alma alcança descanso no Bom Pastor.
Aqueles que entram por Cristo haverão de
entrar, sair e achar pastagem. Estes estão de posse do descanso prometido por
Deus ( Jo 10:9 ; Sl 23).
Através do evangelho de Cristo o homem
descobre a justiça de Deus ( Rm 1:17 ). Ao se alimentar das promessas contidas
no evangelho, o homem alcança maravilhosa fé que provem de Deus e passa a ter
vida dentre os mortos.
O ladrão na cruz foi justificado ao
refugiar-se em Cristo após reconhecer a sua miséria. Ele não tentou agarrar-se
a vida aqui, mas implorou pela futura ( Mt 10:39 ). Talvez aquele homem nunca
desejasse a justiça dos homens. Talvez ele sempre fosse um excluído da
sociedade. Mas, um único encontro com a justiça de Deus revelada aos homens foi
o suficiente para que um pobre de espírito obtivesse a vida eterna.
Jesus continuou a falar da necessidade
em se ter fome e sede de justiça em contraste com a situação dos fariseus e
saduceus "Porque vos digo que, se a
vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis
no reino dos céus" ( Mt 5:20 ).
Somente aqueles que se alimentam da
palavra de Deus têm em si a justiça maior, que ultrapassa em muito a dos
fariseus. Basta o homem reconhecer a sua pobreza espiritual que Deus não negará
o alimento necessário que produz nova vida "Porque,
assim como desce a chuva e a neve dos céus, e para lá não tornam, mas regam a
terra, e a fazem produzir, e brotar, e dar semente ao semeador, e pão ao que
come, assim será a minha palavra, que sair da minha boca; ela não voltará para
mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a
enviei" ( Is 55:10 -11).
Para os homens, os fariseus e os
escribas representavam o que a sociedade tinha de melhor, mas a análise de
Cristo é diferente: "Assim também vós exteriormente
pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de
iniqüidade" ( Mt 23:28 ).
Só em Cristo é possível obter a justiça
que vem de Deus. Após ser justificado por meio de Cristo o homem obtém o
direito de entrar no reino dos céus.
"Bem-aventurados os misericordiosos,
porque eles alcançarão misericórdia"
Por que os misericordiosos alcançarão misericórdia? É uma das qualidades que devemos ter? Jesus estava incentivando o perdão entre os seus ouvintes? Se não demonstramos misericórdia aos nossos semelhantes não obteremos da misericórdia de Deus?
A misericórdia aqui prometida não
refere-se a misericórdia que devemos oferecer aos nossos semelhantes. Ser
compassivo com o próximo não habilita ninguém a receber a misericórdia divina.
A experiência demonstra que ao sermos cordiais com os nossos semelhantes
teremos uma vida melhor nesta terra, mas isto não significa que obteremos
misericórdia de Deus porque exercermos misericórdia.
Só é bem-aventurado aquele que alcança a
misericórdia divina, pois toda bem-aventurança advém de Deus. Porém, tal
bem-aventurança não esta condicionada ao comportamento humano.
Daí surge à questão: Como ser
misericordioso para alcançar misericórdia? Se com Deus não barganha?
O que Jesus ensinou não se compara aos
ensinamentos budistas, espiritualistas, etc. Jesus não falou na reciprocidade
necessária ao tratamento humano. Ele não se ocupa em tratar de questões
comportamentais como o fazem as várias religiões pelo mundo.
Jesus está tratando desde o início do
sermão de questões exclusivamente espirituais e este versículo não é exceção:
Observe este salmo: "Bem-aventurado aquele cuja
transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a quem
o SENHOR não imputa maldade, e em cujo espírito não há engano" ( Sl 32:1 -2).
Ser misericordioso é condição que
decorre do novo nascimento, onde o justificado passa a ser semelhante a Cristo.
Tal semelhança não se manifesta na conduta, mas decorre da nova natureza.
Todo aquele que é instruído por Jesus
passa a ser manso e humilde de coração; aquele que se alimenta dos ensinos de
Cristo passam a ser fartos de Justiça, pois são criados em verdadeira justiça e
santidade; aqueles que recebem de Deus misericórdia, passam a condição de
misericordiosos.
A misericórdia de Deus é demonstrada em
perdão. Deus não imputa maldade àqueles que são alvos de sua misericórdia.
Como? O salmista responde:
"Bem-aventurado aquele cuja
transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto"
Quem é bem-aventurado? A resposta é aquele! Aquele quem? O transgressor, o pecador! Se o transgressor, o pecador, é quem recebe a dádiva de Deus, percebe-se que o salmista fala do velho homem. O homem precisa de perdão, mas para isso a velha natureza precisa ser coberta na morte com Cristo.
O transgressor é alvo do perdão divino
desde que seja satisfeita uma condição da retidão e da justiça divina: a alma
que pecar, esta morrerá! Ou seja, se você é pecador só cessará do pecado após
morrer com Cristo. Este é o novo e vivo caminho que nos foi aberto pelo corpo
de Cristo.
O versículo citado acima aponta para o
homem não regenerado.
"Bem-aventurado o homem a quem o
SENHOR não imputa maldade, e em cujo espírito não há engano"
O homem cuja transgressão é perdoada, após receber o perdão, estará na condição apresentada neste verso: O Senhor não lhe imputará maldade, e em seu espírito não haverá engano, visto que foi de novo criado, segundo Deus, em verdadeira justiça e santidade.
Estes dois versículos apontam duas
situações distintas de um mesmo homem. Bem-aventurado é o homem:
a)
cujo pecado é coberto, e;
b) cujo espírito não há engano. Este é o novo homem e aquele o velho
homem.
O novo homem gerado em Cristo não tem
maldade a ser imputada. Se tivesse, é certo que seria imputada, pois Deus não
tem o culpado por inocente. Só o novo homem não possui engano ou falsidade em
sua natureza.
Quando o apóstolo Paulo recomenda aos
cristãos serem misericordiosos, ele está abordando questões comportamentais
pertinentes aos cristãos, mas o tema não é o mesmo apresentado por Jesus "Antes sede uns para com os outros benignos,
misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em
Cristo" ( Ef 4:32 ).
Agora, quando Cristo diz: "Sede, pois, misericordiosos, como
também vosso Pai é misericordioso" (
Lc 6:36 ), ele está falando do mesmo tema apresentado na bem-aventurança. O
homem é bem-aventurado quando alcança a filiação divina. As condições
necessárias para que o homem seja verdadeiramente misericordioso só é possível
àquele que Deus recebe por filho.
Observe o que Jesus ensinou: "E, levantando ele os olhos para os seus
discípulos, dizia: Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de
Deus. Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis fartos.
Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque haveis de rir. Bem-aventurados
sereis quando os homens vos odiarem e quando vos separarem, e vos injuriarem, e
rejeitarem o vosso nome como mau, por causa do Filho do homem. Folgai nesse
dia, exultai; porque eis que é grande o vosso galardão no céu, pois assim
faziam os seus pais aos profetas";
Porém aos abastados espiritualmente
diz: "Mas ai de vós, ricos! porque já
tendes a vossa consolação. Ai de vós, os que estais fartos, porque tereis fome.
Ai de vós, os que agora rides, porque vos lamentareis e chorareis. Ai de vós
quando todos os homens de vós disserem bem, porque assim faziam seus pais aos
falsos profetas";
E Jesus passa a alertar os seus
ouvintes:
"Mas a vós, que isto ouvis, digo: Amai a
vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam; Bendizei os que vos maldizem, e
orai pelos que vos caluniam. Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a
outra; e ao que te houver tirado a capa, nem a túnica recuses; E dá a qualquer
que te pedir; e ao que tomar o que é teu, não lho tornes a pedir. E como vós
quereis que os homens vos façam, da mesma maneira lhes fazei vós, também";
Observe que é impossível ao homem
alcançar o padrão de comportamento descrito acima, mas é plenamente possível a
qualquer homem o comportamento descrito abaixo?
"E se amardes aos que vos amam, que recompensa
tereis? Também os pecadores amam aos que os amam. E se fizerdes bem aos que vos
fazem bem, que recompensa tereis? Também os pecadores fazem o mesmo. E se
emprestardes àqueles de quem esperais tornar a receber, que recompensa tereis?
Também os pecadores emprestam aos pecadores, para tornarem a receber outro
tanto";
Jesus recomenda um novo padrão de
comportamento aos seus ouvintes?: "Amai,
pois, a vossos inimigos, e fazei bem, e emprestai, sem nada esperardes, e será
grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo; porque ele é benigno até
para com os ingratos e maus. Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai
é misericordioso. Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não
sereis condenados; soltai, e soltar-vos-ão. Dai, e ser-vos-á dado; boa medida,
recalcada, sacudida e transbordando, vos deitarão no vosso regaço; porque com a
mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo";
A nova forma de comportamento demonstra
que o homem está de posse da filiação divina. As questões comportamentais não
levam o homem a alcançar a filiação divina, mas quando se alcança a filiação
por meio de Cristo, o homem terá em si as condições necessárias para ter um
comportamento a altura de sua nova condição.
Quando Jesus disse: "Sede, pois, misericordiosos..." o que realmente ele recomendou? A resposta encontra-se na
parábola: "E dizia-lhes uma parábola: Pode
porventura o cego guiar o cego? Não cairão ambos na cova? O discípulo não é
superior a seu mestre, mas todo o que for perfeito será como o seu mestre. E
por que atentas tu no argueiro que está no olho de teu irmão, e não reparas na
trave que está no teu próprio olho? Ou como podes dizer a teu irmão: Irmão,
deixa-me tirar o argueiro que está no teu olho, não atentando tu mesmo na trave
que está no teu olho? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então
verás bem para tirar o argueiro que está no olho de teu irmão";
Jesus recrimina os lideres religiosos
judeus: eles eram cegos guiando uma multidão de cegos. Qualquer um que
aprendesse com um fariseu, o máximo que alcançaria era ser um fariseu.
A perfeição que alguém poderia alcançar
aprendendo de um fariseu seria: "...
exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de
hipocrisia e de iniquidade" (
Mt 23:28 ).
"Porque não há boa árvore que dê
mau fruto, nem má árvore que dê bom fruto. Porque cada árvore se conhece pelo
seu próprio fruto; pois não se colhem figos dos espinheiros, nem se vindimam
uvas dos abrolhos. O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem
mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal, porque da abundância do seu
coração fala a boca"
Por meio de parábolas Jesus evidência um
princípio pertinente ao evangelho: só é possível um homem produzir o bem a
partir do momento que ele estiver ligado a oliveira, que é Cristo.
Aquele que não está em Cristo obrará o
mal sempre, e aquele que em Cristo estiver produzirá segundo a espécie da sua
boa árvore, o bem. A transformação que se opera na natureza transbordará além
do coração. O homem poderá tirar o bem do bom depósito.
"E por que me chamais, Senhor, Senhor, e não
fazeis o que eu digo? Qualquer que vem a mim e ouve as minhas palavras, e as
observa, eu vos mostrarei a quem é semelhante: É semelhante ao homem que
edificou uma casa, e cavou, e abriu bem fundo, e pós os alicerces sobre a
rocha; e, vindo a enchente, bateu com ímpeto a corrente naquela casa, e não a
pode abalar, porque estava fundada sobre a rocha. Mas o que ouve e não pratica
é semelhante ao homem que edificou uma casa sobre terra, sem alicerces, na qual
bateu com ímpeto a corrente, e logo caiu; e foi grande a ruína daquela
casa".
Toda obra que o homem edifica se não
estiver alicerçada em Cristo, nada representa para Deus. O exemplo da árvore e
da casa alicerçada versa sobre os mesmos princípios.
"Bem-aventurados os limpos de
coração, porque eles verão a Deus"
Observe que após a segunda
bem-aventurança ocorreu uma mudança sutil na composição do texto. No início do
sermão Jesus destaca a necessidade daqueles que são bem-aventurados: pobres e
que choram. Ele destacou a necessidade e o que alcançaram: o reino dos céus e o
serem conciliados.
Deste ponto em diante Jesus passou a
destacar a nova condição daqueles que já haviam alcançado o reino dos céus e
estavam consolados. Jesus passa a descrever os bem-aventurados como mansos,
misericordiosos, puros de coração, pacificadores, etc.
Só é possível ver a Deus quando se está
limpo de coração, e a palavra de Deus tem esta função, remover todas as
impurezas. Por meio da palavra do evangelho os discípulos estavam limpos. De
igual forma, todos quantos ouvirem do evangelho e crerem em Cristo também estão
limpos: "Vós já estais limpos, pela
palavra que vos tenho falado" (
Jo 15:3 ).
Quem são os limpos de coração? Como
alcançar esta condição?
Os limpos de coração são aqueles que
ouviram e aprenderam de Cristo, que é manso e humilde de coração. Os limpos de
coração são aqueles que alcançaram a condição de filhos de Deus, uma vez que
morreram com Cristo e ressuscitaram com Ele uma nova criatura.
O novo homem é criado através do poder
de Deus que o evangelho contém, e por meio desta nova criação o homem passa a
ter um novo espírito e um novo coração, limpo de impurezas ( Rm 1:16 ; Jo 1:12
-13). Estes são os Regenerados.
Alguém pode questionar: Como é possível
ver a Deus? João responde: "Deus
nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o
revelou" ( Jo 1:18 ).
Aqueles que são instruídos por Cristo
verão a Deus, pois estão completamente lavados peal palavra do evangelho.
"Bem-aventurados os pacificadores,
porque eles serão chamados filhos de Deus"
Jesus dá outro título aos
bem-aventurados: pacificadores!
Quem são, e o que é ser um pacificador?
Seriam aqueles que repudiam a guerra? Não!
Os pacificadores são aqueles que levam
as boas novas de paz. Àqueles que anunciam que Deus está em Cristo
reconciliando consigo mesmo o mundo! Estes são os pacificadores "Isto é, Deus estava em Cristo
reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pós em nós
a palavra da reconciliação" (
2Co 5:19 ).
Aqueles que cumprem o ide de Jesus,
estes são os pacificadores. Jesus, o Filho de Deus foi enviado ao mundo para
proclamar a palavra da verdade: "O
Espírito do Senhor DEUS está sobre mim; porque o SENHOR me ungiu, para pregar
boas novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a
proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos" ( Is 61:1 ).
Todos quantos recebem a mensagem do
evangelho também são comissionados a levar as boas novas de salvação. Além da incumbência
maravilhosa de anunciar o evangelho o Cristão é agraciado com a filiação
divina.
Somente os filhos de Deus, os de novo
nascido, podem levar a semente da palavra da verdade. Isto porque eles são
nascidos da semente incorruptível, e o que anunciam, o fruto dos lábios, contém
a semente incorruptível.
"Bem-aventurados os que sofrem
perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus"
A missão dos pacificadores não é fácil. Eles sofrerão perseguições, mas o reino dos céus pertence a eles.
A perseguição é por causa da justiça de
Deus expressa no evangelho. Os bem-aventurados não serão perseguidos por
questões humanas, mas por causa da mensagem de Cristo, que é a justiça de Deus
aos homens "Mas agora se manifestou sem a
lei a justiça de Deus, tendo o testemunho da lei e dos profetas; Isto é, a
justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que creem;
porque não há diferença" ( Rm 3:21 ).
O motivo da perseguição dos
pacificadores é por causa de Cristo, a justiça de Deus aos homens.
"Bem-aventurados sois vós, quando
vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por
minha causa"
Jesus para de falar das bem-aventuranças ao apontar para os seus discípulos.
Os discípulos deveriam entender que eram
bem-aventurados quando sofressem injurias e perseguições. É uma alegria ser
participante das aflições de Cristo.
Através das bem-aventuranças Jesus estava se apresentando ao povo, visto
que todas elas fluem de Cristo. Em Cristo está estabelecida a alegria dos povos
e das nações.
Mesmo quando perseguido e injuriado o
bem-aventurado é bem-aventurado: a felicidade transcende desta vida para a
eterna. Estevão se alegrou ao ver a face do Senhor!
Não são as perseguições ou as agruras
desta vida que tornam um homem bem-aventurado. Problemas fazem parte do
cotidiano. A bem-aventurança decorre do evangelho de Cristo, pois Cristo é que
concede aos homens a condição de alegria em Deus.
Após anunciar as beatitudes, Jesus
demonstrou que somente os seus seguidores alcançam a verdadeira felicidade"Bem-aventurado sois vós..." ( Mt 5:11 ).
A verdadeira alegria pertence aqueles
que, por causa de Cristo, haveriam de ser perseguidos e injuriados "Ora, todos quantos querem viver
piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos" ( 1Tm 3:12 ).
Todos quantos estiverem em Cristo serão
perseguidos, mas, além de estarem de posse das bem-aventuranças, deveriam
exultar por causa do galardão guardado nos céus. Que privilegio e que alegria!
Ser perseguido como foram perseguidos os profetas do passado e ainda ter
direito a um grande galardão guardado nos céus (v. 12)!
Cristo declara que os seus seguidores,
além de serem bem-aventurados e de possuírem galardões guardados nos céus,
também são o sal da terra.
Em que aspecto os seguidores de Jesus
são o sal da terra? Os seguidores de Cristo conservam o padrão das sãs palavras
do evangelho. Mediante a ação do Espírito Santo os cristãos guardam-na em bom
depósito ( 2Tm 1:13 ).
A palavra de Deus é alimento que dá vida
aos homens, e os seguidores de Cristo também desempenham a função do sal: torna
agradável ao paladar (ouvidos) o alimento (evangelho).
O cristão quando anuncia o evangelho não
está fazendo a 'obra' de Deus, como alguns pensam realizar.
A obra de Deus é a de conceder vida, e
vida em abundância, e homem algum realizará está obra, que é exclusiva de Deus"Por isso, nem o que planta é alguma coisa,
nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento" ( 1Co 3:7 ).
Não foi dado aos seguidores de Cristo
fazer a obra que é realizável somente por Deus "Que faremos para executarmos as obras de
Deus?" ( Jo 6:28 ).
Os seguidores de Cristo podem se
oferecer como libação sobre o sacrifício, mas nunca realizarão a obra de
Deus "E, ainda que seja oferecido por
libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, folgo e me regozijo com todos
vós" ( Fl 2:17 ).
Os bem-aventurados são sal por ter a
função de dar sabor agradável, o que torna agradável aos homens a mensagem do
evangelho.
O apóstolo Paulo preocupou-se muito com
estes aspectos ao pedir que orassem por ele "Orai
também juntamente por nós, para que Deus nos abra a porta da palavra, a fim de
falarmos do ministério de Cristo, pelo qual estou preso. Orai para que o
manifeste como devo fazer" ( Cl 4:3 -4).
Os cristãos devem andar em sabedoria
para os que estão de fora, aproveitando bem cada oportunidade para proclamar o
evangelho. Para isso a palavra do Cristão deve ser temperada com sal! Qual
palavra deve ser temperada? A palavra (mensagem) do evangelho.
O andar do cristão, ou a resposta
conveniente são elementos que 'temperam' a palavra do evangelho aos que são de
fora.
O apóstolo Pedro faz referência aos
bem-aventurados e a perseguição em decorrência do evangelho: "Mas alegrai-vos no fato de serdes
participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da sua
glória vos regozijeis e alegreis. Se pelo nome de Cristo sois vituperados,
bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus;
quanto a eles, é ele, sim, blasfemado, mas quanto a vós, é glorificado. Que
nenhum de vós padeça como homicida, ou ladrão, ou malfeitor, ou como o que se
entremete em negócios alheios; Mas, se padece como cristão, não se envergonhe,
antes glorifique a Deus nesta parte" (
1Pe 4:13 -16).
Caso o cristão não desempenhe a função
do sal, com que se há de salgar? Todos quantos se dizem seguidores de Cristo
devem estar cônscios de sua condição. Se o cristão não desempenhar o papel para
qual foi comissionado, resta ser lançado fora e servirá de pasto aos homens.
O cristão deve ter muito cuidado para
não confundir: 'ser pisado pelos homens' e o 'ser bem-aventurado por sofrer
perseguições'. Quando os cristãos são perseguidos por causa do evangelho é
bem-aventurado, mas, haverá aqueles que padecem por se intrometer em negócios
alheios, etc.
O Cristão é a luz do mundo, pois é filho
da Luz "Enquanto tendes luz, crede na
luz, para que sejais filhos da luz. Estas coisas disse Jesus e, retirando-se,
escondeu-se deles" ( Jo 12:36 ). Os discípulos eram
luz no Senhor, visto que, creram em Cristo.
Sendo luz no mundo, isto indica que, tal
qual Jesus é, os discípulos o eram neste mundo "... porque, qual ele é, somos nós também
neste mundo" ( 1Jo 4:17 ).
A função dos seguidores de Cristo é a de
conceder luz ao mundo (casa) que está em trevas.
Os seguidores de Jesus tornam-se luz,
por serem nascidos da Luz (regeneração). Agora, na condição de filhos da luz,
os nascidos de novo devem comportar-se como filhos "Porque noutro tempo éreis trevas, mas agora
sois luz no SENHOR; andai como filhos da luz" ( Ef 5:8 ).
Quem
é nascido de novo deve comportar-se de modo digno da vocação para qual foi
chamado, ou seja, não deve portar-se como andam os outros gentios ( Ef 4:1 e
17).
TÍTULO: O Sermão do Monte – Bases e valores do Reino de Deus
CONTEÚDO: Ensino dos principios e valores do Sermão do Monte:
O Modo de viver do Crente - Mt
5:3-16
Grandes
ensinos de Jesus
Qual
o propósito do Sermão do Monte
As
Bem-aventuranças e seu efeito em nós Sal e Luz
A lei de Deus para o Crente. Mt.
5:17-48
Graça
uma liberdade mais dura
Seus
Direitos e a opção da Amor e perdão
O crente diante do Mundo – 6:1 – 7:29
Práticas
religiosas
O
dia-a-dia do Reino de Deus
CHAMADOS
AO COMPRIMISSO
O caráter do discípulo – Parte I
Mateus 5
Versículos de Mateus 5 do livro de Mateus da
Bíblia.
1 Vendo as multidões, Jesus subiu ao monte e se assentou. Seus
discípulos aproximaram-se dele,
2 e ele começou a ensiná-los, dizendo:
3 "Bem-aventurados
os pobres em espírito,
pois deles é o Reino dos céus.
os pobres em espírito,
pois deles é o Reino dos céus.
4 Bem-aventurados
os que choram,
pois serão consolados.
os que choram,
pois serão consolados.
5 Bem-aventurados os humildes,
pois eles receberão a terra por herança.
pois eles receberão a terra por herança.
6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça,
pois serão satisfeitos.
pois serão satisfeitos.
7 Bem-aventurados
os misericordiosos,
pois obterão misericórdia.
os misericordiosos,
pois obterão misericórdia.
8 Bem-aventurados
os puros de coração,
pois verão a Deus.
os puros de coração,
pois verão a Deus.
9 Bem-aventurados
os pacificadores,
pois serão chamados
filhos de Deus.
os pacificadores,
pois serão chamados
filhos de Deus.
10 Bem-aventurados
os perseguidos
por causa da justiça,
pois deles é o Reino dos céus.
os perseguidos
por causa da justiça,
pois deles é o Reino dos céus.
11 "Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa, os
insultarem, os perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês.
12 Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a sua recompensa nos
céus, pois da mesma forma perseguiram os profetas que viveram antes de vocês.
13 "Vocês são o sal da terra. Mas, se o sal perder o seu sabor,
como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para ser jogado fora e pisado
pelos homens.
14 "Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade
construída sobre um monte.
15 E, também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma
vasilha. Ao contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os
que estão na casa.
16 Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as
suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus.
A lei de Deus para o Crente. Mt.
5:17-48
Graça
uma liberdade mais dura
Seus
Direitos e a opção da Amor e perdão
O cumprimento da
lei
17 "Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim
abolir, mas cumprir.
18 Digo a verdade: Enquanto existirem céus e terra, de forma alguma
desaparecerá da Lei a menor letra ou o menor traço, até que tudo se cumpra.
19 Todo aquele que desobedecer a um desses mandamentos, ainda que dos
menores, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será chamado menor no Reino dos
céus; mas todo aquele que praticar e ensinar estes mandamentos será chamado
grande no Reino dos céus.
20 Pois eu digo que, se a justiça de vocês não for muito superior à
dos fariseus e mestres da lei, de modo nenhum entrarão no Reino dos céus.
21 "Vocês ouviram o que foi dito aos seus antepassados: 'Não
matarás', e 'quem matar estará sujeito a julgamento'.
22 Mas eu digo a vocês que qualquer que se irar contra seu irmão
estará sujeito a julgamento. Também, qualquer que disser a seu irmão: 'Racá',
será levado ao tribunal. E qualquer que disser: 'Louco!', corre o risco de ir
para o fogo do inferno.
23 "Portanto, se você estiver apresentando sua oferta diante do
altar e ali se lembrar de que seu irmão tem algo contra você,
24 deixe sua oferta ali, diante do altar, e vá primeiro
reconciliar-se com seu irmão; depois volte e apresente sua oferta.
25 "Entre em acordo depressa com seu adversário que pretende
levá-lo ao tribunal. Faça isso enquanto ainda estiver com ele a caminho, pois,
caso contrário, ele poderá entregá-lo ao juiz, e o juiz ao guarda, e você
poderá ser jogado na prisão.
26 Eu garanto que você não sairá de lá enquanto não pagar o último centavo.
27 "Vocês ouviram o que foi dito: 'Não adulterarás'.
28 Mas eu digo: Qualquer que olhar para uma mulher e desejá-la, já
cometeu adultério com ela no seu coração.
29 Se o seu olho direito o fizer pecar, arranque-o e lance-o fora. É
melhor perder uma parte do seu corpo do que ser todo ele lançado no inferno.
30 E, se a sua mão direita o fizer pecar, corte-a e lance-a fora. É
melhor perder uma parte do seu corpo do que ir todo ele para o inferno.
31 "Foi dito: 'Aquele que se divorciar de sua mulher deverá
dar-lhe certidão de divórcio'.
32 Mas eu digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher, exceto
por imoralidade sexual, faz que ela se torne adúltera, e quem se casar com a
mulher divorciada estará cometendo adultério.
33 "Vocês também ouviram o que foi dito aos seus antepassados:
'Não jure falsamente, mas cumpra os juramentos que você fez diante do Senhor'.
34 Mas eu digo: Não jurem de forma alguma: nem pelos céus, porque é o
trono de Deus;
35 nem pela terra, porque é o estrado de seus pés; nem por Jerusalém,
porque é a cidade do grande Rei.
36 E não jure pela sua cabeça, pois você não pode tornar branco ou
preto nem um fio de cabelo.
37 Seja o seu 'sim', 'sim', e o seu 'não', 'não'; o que passar disso
vem do Maligno.
38 "Vocês ouviram o que foi dito: 'Olho por olho e dente por
dente'.
39 Mas eu digo: Não resistam ao perverso. Se alguém o ferir na face
direita, ofereça-lhe também a outra.
40 E, se alguém quiser processá-lo e tirar de você a túnica, deixe que
leve também a capa.
41 Se alguém o forçar a caminhar com ele uma milha, vá com ele duas.
42 Dê a quem pede, e não volte as costas àquele que deseja pedir algo
emprestado.
43 "Vocês ouviram o que foi dito: 'Ame o seu próximo e odeie o
seu inimigo'.
44 Mas eu digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os
perseguem,
45 para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus.
Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e
injustos.
46 Se vocês amarem aqueles que os amam, que recompensa vocês
receberão? Até os publicanos fazem isso!
47 E, se saudarem apenas os seus irmãos, o que estarão fazendo de
mais? Até os pagãos fazem isso!
48 Portanto, sejam perfeitos como perfeito é o Pai celestial de vocês.
O crente diante do Mundo – 6:1 – 7:29
Práticas
religiosas
O
dia-a-dia do Reino de Deus
Mateus 6
Versículos de Mateus 6 do livro de Mateus da
Bíblia.
1 "Tenham o cuidado de não praticar suas 'obras de justiça'
diante dos outros para serem vistos por eles. Se fizerem isso, vocês não terão
nenhuma recompensa do Pai celestial.
2 "Portanto, quando você der esmola, não anuncie isso com
trombetas, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, a fim de serem
honrados pelos outros. Eu garanto que eles já receberam sua plena recompensa.
3 Mas, quando você der esmola, que a sua mão esquerda não saiba o
que está fazendo a direita,
4 de forma que você preste a sua ajuda em segredo. E seu Pai, que vê
o que é feito em segredo, o recompensará.
5 "E, quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas. Eles
gostam de ficar orando em pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem
vistos pelos outros. Eu asseguro que eles já receberam sua plena recompensa.
6 Mas, quando você orar, vá para seu quarto, feche a porta e ore a
seu Pai, que está em secreto. Então seu Pai, que vê em secreto, o recompensará.
7 E, quando orarem, não fiquem sempre repetindo a mesma coisa, como
fazem os pagãos. Eles pensam que por muito falarem serão ouvidos.
8 Não sejam iguais a eles, porque o seu Pai sabe do que vocês
precisam, antes mesmo de o pedirem.
9 Vocês, orem assim:
"Pai nosso, que estás nos céus!
Santificado seja o teu nome.
"Pai nosso, que estás nos céus!
Santificado seja o teu nome.
10 Venha o teu Reino;
seja feita a tua vontade,
assim na terra como no céu.
seja feita a tua vontade,
assim na terra como no céu.
11 Dá-nos hoje o nosso
pão de cada dia.
pão de cada dia.
12 Perdoa as nossas dívidas,
assim como perdoamos
aos nossos devedores.
assim como perdoamos
aos nossos devedores.
13 E não nos deixes cair
em tentação,
mas livra-nos do mal,
porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém.
em tentação,
mas livra-nos do mal,
porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém.
14 Pois, se perdoarem as ofensas uns dos outros, o Pai celestial
também perdoará vocês.
15 Mas, se não perdoarem uns aos outros, o Pai celestial não perdoará
as ofensas de vocês.
16 "Quando jejuarem, não mostrem uma aparência triste como os
hipócritas, pois eles mudam a aparência do rosto a fim de que os outros vejam
que eles estão jejuando. Eu digo verdadeiramente que eles já receberam sua
plena recompensa.
17 Ao jejuar, arrume o cabelo e lave o rosto,
18 para que não pareça aos outros que você está jejuando, mas apenas
a seu Pai, que vê em secreto. E seu Pai, que vê em secreto, o recompensará.
19 "Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a
ferrugem destroem e onde os ladrões arrombam e furtam.
20 Mas acumulem para vocês tesouros nos céus, onde a traça e a
ferrugem não destroem e onde os ladrões não arrombam nem furtam.
21 Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração.
22 "Os olhos são a candeia do corpo. Se os seus olhos forem
bons, todo o seu corpo será cheio de luz.
23 Mas, se os seus olhos forem maus, todo o seu corpo será cheio de
trevas. Portanto, se a luz que está dentro de você são trevas, que tremendas
trevas são!
24 "Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará
o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a
Deus e ao Dinheiro.
25 "Portanto eu digo: Não se preocupem com sua própria vida,
quanto ao que comer ou beber; nem com seu próprio corpo, quanto ao que vestir.
Não é a vida mais importante que a comida, e o corpo mais importante que a
roupa?
26 Observem as aves do céu: não semeiam nem colhem nem armazenam em
celeiros; contudo, o Pai celestial as alimenta. Não têm vocês muito mais valor
do que elas?
27 Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar uma hora
que seja à sua vida?
28 "Por que vocês se preocupam com roupas? Vejam como crescem os
lírios do campo. Eles não trabalham nem tecem.
29 Contudo, eu digo que nem Salomão, em todo o seu esplendor,
vestiu-se como um deles.
30 Se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é
lançada ao fogo, não vestirá muito mais a vocês, homens de pequena fé?
31 Portanto, não se preocupem, dizendo: 'Que vamos comer?' ou 'Que
vamos beber?' ou 'Que vamos vestir?'
32 Pois os pagãos é que correm atrás dessas coisas; mas o Pai
celestial sabe que vocês precisam delas.
33 Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça,
e todas essas coisas serão acrescentadas a vocês.
34 Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã trará as
suas próprias preocupações. Basta a cada dia o seu próprio mal.
Mateus 7
Versículos de Mateus 7 do livro de Mateus da
Bíblia.
1 "Não julguem, para que vocês não sejam julgados.
2 Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida
que usarem, também será usada para medir vocês.
3 "Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão e
não se dá conta da viga que está em seu próprio olho?
4 Como você pode dizer ao seu irmão: 'Deixe-me tirar o cisco do seu
olho', quando há uma viga no seu?
5 Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá
claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão.
6 "Não deem o que é sagrado aos cães, nem atirem suas pérolas
aos porcos; caso contrário, estes as pisarão e, aqueles, voltando-se contra
vocês, os despedaçarão.
7 "Peçam, e será dado; busquem, e encontrarão; batam, e a porta
será aberta.
8 Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e àquele que
bate, a porta será aberta.
9 "Qual de vocês, se seu filho pedir pão, lhe dará uma pedra?
10 Ou, se pedir peixe, lhe dará uma cobra?
11 Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus
filhos, quanto mais o Pai de vocês, que está nos céus, dará coisas boas aos que
lhe pedirem!
12 Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles façam
a vocês; pois esta é a Lei e os Profetas.
13 "Entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo o
caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela.
14 Como é estreita a porta, e apertado o caminho que leva à vida! São
poucos os que a encontram.
15 "Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de
peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores.
16 Vocês os reconhecerão por seus frutos. Pode alguém colher uvas de
um espinheiro ou figos de ervas daninhas?
17 Semelhantemente, toda árvore boa dá frutos bons, mas a árvore ruim
dá frutos ruins.
18 A árvore boa não pode dar frutos ruins, nem a árvore ruim pode dar
frutos bons.
19 Toda árvore que não produz bons frutos é cortada e lançada ao
fogo.
20 Assim, pelos seus frutos vocês os reconhecerão!
21 "Nem todo aquele que me diz: 'Senhor, Senhor', entrará no
Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos
céus.
22 Muitos me dirão naquele dia: 'Senhor, Senhor, não profetizamos em
teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos
milagres?'
23 Então eu lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de
mim vocês que praticam o mal!
24 "Portanto, quem ouve estas minhas palavras e as pratica é
como um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha.
25 Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram
contra aquela casa, e ela não caiu, porque tinha seus alicerces na rocha.
26 Mas quem ouve estas minhas palavras e não as pratica é como um
insensato que construiu a sua casa sobre a areia.
27 Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram
contra aquela casa, e ela caiu. E foi grande a sua queda".
28 Quando Jesus acabou de dizer essas coisas, as multidões estavam
maravilhadas com o seu ensino,
29 porque ele as ensinava como quem
tem autoridade, e não como os mestres da lei.
CHAMADOS
AO COMPRIMISSO
O caráter do discípulo –
Parte I
O chamado do
Mestre
Jesus iniciou sua atuação pública de forma impressionante. Após passar
pelo batismo e pela tentação no deserto, ele começou seu ministério ensinando,
pregando e curando, como vemos no registro do evangelista Mateus:
“Jesus foi por toda a Galiléia, ensinando nas
sinagogas deles, pregando as
boas novas do Reino e curando todas
as enfermidades e doenças entre o povo. Notícias sobre ele se espalharam por
toda a Síria, e o povo lhe trouxe todos os que estavam padecendo vários males e
tormentos: endemoninhados, epiléticos e paralíticos; e
ele os curou.” (Mt
4.23-24) (com grifo).
Em meio às aflições, dramas, males e
tormentos vivenciados por muitos, Cristo surgiu operando sinais extraordinários
e trazendo cura. A esperança irrompeu em meio ao sofrimento e a alegria visitou
corações que antes viviam um cotidiano de tristeza e dor. Tente imaginar, ao
ler o texto bíblico acima, o impacto gerado naqueles que padeciam enfermidades,
e também nas pessoas envolvidas de alguma forma com aquelas situações! É
magnífico! O efeito não poderia ser outro, senão o descrito por Mateus no
versículo seguinte:
“Grandes multidões o seguiam, vindas da Galiléia, Decápolis,
Jerusalém, Judéia e da região do outro lado do Jordão.” (Mt 4.25)
Entre as
pessoas que acompanhavam tais feitos, existiam aquelas que estavam interessadas
em algo mais do que simplesmente o alívio de suas dores. O ministério de Cristo
não foi marcado somente por feitos maravilhosos, mas também pelo ensino, como
registra Lucas ao falar sobre o evangelho que escreveu: “em meu livro anterior, Teófilo, escrevi a respeito de tudo o que
Jesus começou a
fazer e a ensinar” (Atos 1.1 – com grifo). No texto
citado inicialmente nesse artigo lemos também que Jesus ensinava e pregava.
Seguindo o texto do evangelho de
Mateus, lemos:
“Vendo as multidões, Jesus subiu ao monte e se assentou. Seus
discípulos aproximaram-se dele, e ele começou a ensiná-los, dizendo…” (Mt 5.1-2)
O que será que Ele diria agora? Em um
contexto de sinais tão extraordinários, o que Cristo ensinaria aos que
desejavam segui-lo? Será que Ele diria que a partir de então não haveria mais
choro, fome, injustiças, lutas e perseguições? Com tamanho poder manifesto,
alguns devem ter imaginado que segui-lo significaria uma vida sem aflições e
dores. O que Ele disse, então?
O que
segue no registro do evangelista é conhecido como o Sermão
do Monte. Nesse trecho, encontrado nos
capítulos 5 a 7 do evangelho de Mateus, Jesus dá diversas instruções sobre
o caráter do discípulo. Ele dirige seu ensino aos seus seguidores que se aproximaram dele para
ouvir suas orientações (Mt 5.1). Em um relato muito semelhante feito por Lucas,
lemos: “olhando para os seus discípulos, ele disse…” (Lc
6.20a).
O pastor e
escritor John Stott afirmou(1): “o Sermão
do Monte é a descrição mais completa do
Novo Testamento a respeito da contracultura cristã. Aqui se encontra um sistema
cristão de valores, um padrão ético, a devoção religiosa, a correlação com o
dinheiro, o estilo e uma rede de relacionamentos – todos completamente opostos
ao mundo não-cristão.” Também afirmou sobre o mesmo texto: “em
todos os momentos, Jesus ensina seus seguidores a serem diferentes – diferentes
tanto da igreja nominal quanto do mundo secular, diferentes dos religiosos e
dos irreligiosos”.
Pelo
descrito acima, já podemos perceber que o
discurso de Jesus aos seus discípulos não tem como tônica a ausência de
sofrimentos nesse mundo, o engrandecimento pessoal, ou o fim de todos os
problemas do homem, mas apresenta o significado do discipulado cristão em meio
a um mundo hostil e perverso. Após
realizar tantos sinais miraculosos, Jesus conclama seus seguidores a serem
diferentes do mundo secular e da religião vazia, vivendo outros valores, outra
ética e outros padrões de relacionamento com Deus, com os demais e com o mundo
que os cerca!
Esse
artigo dá início a uma série sobre o Sermão
do Monte, quando meditaremos brevemente sobre
o ensino de Cristo nesse importante trecho das Escrituras Sagradas. Mas, desde
já, sugiro algumas reflexões: será que estamos como a multidão, indo a Cristo
pelo que Ele pode fazer por nós, ou como os discípulos, que se aproximaram dele
para ouvi-lo? Será que estamos dispostos a seguir O
CHAMADO DO MESTRE mesmo que isso implique em
abrir mão de valores seculares pelos princípios do Reino de Deus?
Que o Senhor nos ajude a viver de
modo digno do evangelho!
A felicidade
segundo Jesus Cristo
Como vimos no artigo anterior dessa série, o Sermão do Monte foi
ministrado por Jesus àqueles que desejavam segui-lo, indicando como deve
ser o caráter dos seus discípulos. Logo no início do sermão, Cristo apresenta
as bem-aventuranças (Mt 5.1-12), oito características que refletem o perfil
daqueles que verdadeiramente dedicam sua vida ao Senhor. Não encontramos
ali um cardápio de opções, do tipo “posso escolher algumas características e
negligenciar outras”, mas sim um conjunto completo, um padrão excelente, uma
descrição de como devem ser as mais íntimas percepções do cristão acerca de
Deus, de si mesmo e do próximo! E isso é bem diferente da felicidade segundo o
sistema do mundo em que vivemos…
Identificamos
um padrão no texto em questão: Jesus sempre começa com bem-aventurados e
encerra com uma promessa. “A palavra que Jesus usou para bem-aventurados
é makarios. Refere-se ao mais elevado bem-estar possível
para o ser humano” (1). A partir da compreensão dessa palavra e da
certeza do cumprimento das promessas, feitas pelo próprio Deus encarnado, o que
podemos esperar? Ouvir que são felizes os que tem muitos bens, os que vivem
sorrindo, os que sabem impor sua autoridade e vontade? Ou talvez os espertos e
maliciosos, que sempre estão criando situações para favorecimento próprio, os
justiceiros, arrogantes e os que se alegram com intrigas? Em nossa sociedade
decaída, pessoas como essas são muitas vezes consideradas felizes.
Mas, como em todo o sermão, Jesus
apresenta uma oposição aos padrões do mundo em que vivemos! Ele indica como
bem-aventurados aqueles que manifestam em seu íntimo sentimentos considerados
indignos por muitos! E também indica promessas maravilhosas! “Único de todas as
pessoas da terra, Jesus tinha realmente vivido ‘do outro lado’, e aquele que
desceu do céu sabia bem que os despojos do reino dos céus podem facilmente
contrabalançar qualquer miséria que possamos encontrar nessa vida” (2).
Ele começa
falando sobre pobres em espírito, sobre aqueles que reconhecem sua total dependência de Deus! A pobreza
material implica na ausência daquilo que é mais essencial ao ser humano, como
alimento e vestimentas, por exemplo. A pobreza em espírito é o reconhecimento
que não temos condições de suprir nossas necessidades espirituais (e até
materiais…) sem o socorro do alto! Sem o favor de Deus, nada somos ou podemos
fazer!
O
reconhecimento do pecado que nos aflige leva-nos à segunda
bem-aventurança. Ao reconhecermos nossas fraquezas, somos levados a chorar pela nossa maldade, e também por vermos o efeito devastador do
mal na vida do nosso próximo. E tudo isso deve levar-nos à mansidão, a uma resposta adequada às muitas situações desagradáveis que surgem
em nossas vidas. Ao reconhecermos nossa dependência profunda de Deus, e também
a maldade de nossos corações, ficamos mais preparados para compreender o
próximo em meio ao drama da condição humana, agindo com
humildade e reagindo com mansidão diante das dificuldades da vida.
Por mais
que reconheçamos que vivemos em um mundo hostil, sujeitos à maldade do ser
humano e das hostes de Satanás, precisa haver em nosso íntimo fome
e sede pela justiça de Deus! John
Stott afirma que devemos ansiar pela justiça em três aspectos: legal, moral e
social. A justiça legal trata de nossa justificação, de ansiarmos por um
relacionamento correto com Deus, fundamentado na obra de Cristo a nosso favor.
A justiça moral trata de uma conduta que agrada a Deus, do desejo por
crescimento em santidade, manifestando aspectos do caráter santo de Cristo em
nossa vida. E por fim, a justiça social, o desejo pelo fim (ou ao menos pela
redução) da opressão vivida pelos homens, o que inclui termos atitudes que
promovam benefícios ao nosso próximo (3).
E Jesus
segue dizendo “bem-aventurados os misericordiosos”. Como destaca John Stott, “na segunda metade das bem-aventuranças, nós
nos voltamos ainda mais de nossa atitude para com Deus à nossa atitude para com
nossos semelhantes, começando com a misericórdia” (4). Nossa maior motivação
para sermos misericordiosos é pensarmos como Deus é misericordioso conosco! Com
alguém disse, Deus demonstra misericórdia em não recebermos o que merecemos por
nossos pecados – a condenação; e sua graça, seu favor imerecido, em recebermos
o que não merecemos – sua maravilhosa salvação! Como aprendemos com a parábola
do credor incompassivo (Mt 18.23-35), nós recebemos de Deus o perdão de uma
dívida que não poderíamos pagar, o que deve levar-nos a perdoar aqueles que nos
ofendem e a sermos misericordiosos com aqueles que fizeram algo contra nós ou
com quem simplesmente temos a oportunidade de exercer misericórdia.
E o que
dizer da pureza de coração? Em nossa sociedade pessoas são exaltadas por sua malícia, e muitos
vivem mentiras engenhosas em suas vidas! A mídia exalta a sensualidade, e a
falsidade impera em muitos relacionamentos. Mas Jesus nos chama à pureza, tanto
no sentido de vivermos uma vida transparente, sem máscaras e duplicidades,
quanto em nos guardarmos em Deus de tanta impureza e malícia que nos cerca!
Como lemos nas Escrituras: “sobre
tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as
fontes da vida” (Pv 4.23).
“Bem
aventurados os pacificadores”. Muitas
intrigas que vemos em nossa sociedade, desde escândalos na televisão a
problemas no cotidiano do trabalho, seriam evitados se pessoas ouvissem e
cressem nessas palavras de Cristo! Como seus discípulos, somos felizes por
trazermos paz, e não por pormos “lenha na fogueira”! Temos paz com Deus (Rm
5.1) e devemos ser portadores da sua paz, rogando aos homens que se reconciliem
com o Senhor (2 Co 5.20) e também uns com os outros! Como diz
Paulo em Rm 12.18: “Façam todo o possível para viver em paz com todos.”
Assim,
tendo o caráter que Cristo estabelece para seus discípulos, o que devemos
esperar de imediato? Que os homens nos exaltem por nossa humildade, valorizem
nossa pobreza em espírito, ajam com misericórdia conosco como devemos agir com
eles? Cristo não nos garante isso. Assim como aconteceu com profetas do Antigo
Testamento, uma vida consagrada a Deus implica em perseguição (ver 2 Tm 3.12). Mesmo que não enfrente perseguição física,
com prisões e açoites, um verdadeiro discípulo de Cristo sofrerá oposição do
sistema mundano, que é contrário ao que Deus estabelece para nós, uma
vez que tal sistema é hostil ao próprio Deus! Mas isso não deve ser motivo
de tristeza, e sim de alegria; de felicidade segundo
Jesus Cristo, e não segundo os padrões desse
mundo!
E as promessas? Jesus diz que
esses que tem o caráter descrito no texto de Mt 5 são bem-aventurados, e
que desses é o Reino dos Céus! Serão consolados, receberão a terra por herança,
serão satisfeitos em sua necessidade de justiça, obterão misericórdia, verão a
Deus e serão chamados filhos de Deus! Olhando somente as promessas, parece
óbvio pensarmos que serão muito felizes mesmo! Por exemplo,
parece mais fácil ser manso diante das dificuldades que surgem em
nossas vidas se entendermos que a terra será recebida por herança! Mas há um
caminho, uma jornada, e tais promessas serão experimentadas em parte aqui, mas
plenamente somente no fim, na glória eterna do Senhor!
“Em uma vida caracterizada pela pobreza, pelo luto, pela humildade, pela
fome de justiça, pela misericórdia, pela pureza, pela pacificação e pela
perseguição, o próprio Jesus encarnava as bem-aventuranças” (5)
Essa frase resume o propósito maior de tudo o que foi escrito até
aqui. Vivermos as bem-aventuranças, em última análise, significa vivermos de
acordo com o propósito para o qual fomos criados, ou seja, sermos à imagem e
semelhança de Deus, expressa em Jesus, o Filho, que é “o resplendor da glória
de Deus e a expressão exata do seu ser” (Hb 1.3a).
Que Deus nos abençoe, e que possamos
refletir algo da excelência do caráter de Cristo, cumprindo
o propósito de sermos sal e luz nesse mundo, assunto que será tema do
próximo artigo dessa série.
Um os maiores estudos
bíblicos e proferido pelo Senhor Jesus Cristo.
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