terça-feira, 15 de setembro de 2015

Textos Bíblicos Esquecidos - Partes 01, 02 e 03.


 Internautas Cristãos
textos biblicos esquecidos parte 01Alguns textos bíblicos são raramente lembrados, citados e pregados. Geralmente são textos pouco agradáveis aos ouvidos não regenerados, principalmente aqueles versos que falam da soberania de Deus, de Sua ira, justiça, da condição miserável do ser humano, da condenação, do fogo eterno, das leis de Deus, de Suas ameças, dos Seus juízos, da incapacidade e rebeldia humana, da eleição, da predestinação e da glória de Deus.

Então, estamos inciando uma série de posts com a finalidade de relembrar esses textos. Vamos postar somente os versículos, sem qualquer comentário, pois a Bíblia fala por si mesma.

Acompanhe:
Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade; que chamo a ave de rapina desde o Oriente e de uma terra longínqua, o homem do meu conselho. Eu o disse, eu também o cumprirei; tomei este propósito, também o executarei.
(Isaías 46:9-11)

Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? E nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai. E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados.
(Mateus 10:29-30)

Bem-aventurado aquele a quem escolhes e aproximas de ti, para que assista nos teus átrios; ficaremos satisfeitos com a bondade de tua casa—o teu santo templo.
(Salmos 65:4)

O SENHOR fez todas as coisas para os seus próprios fins, até o ímpio para o dia do mal.
(Provérbios 16:4)

O coração do homem traça o seu caminho, mas o SENHOR lhe dirige os passos.
(Provérbios 16:9)

Os passos do homem são dirigidos pelo SENHOR; como, pois, poderá o homem entender o seu caminho?
(Provérbios 20:24)

Como ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do SENHOR; este, segundo o seu querer, o inclina.
(Provérbios 21:1)

Tu já marcaste quantos meses e dias cada um vai viver; isso está resolvido, e ninguém pode mudar.
(Jó 14:5)

Para ele, os seres humanos não têm nenhum valor; ele governa todos os anjos do céu e todos os moradores da terra. Não há ninguém que possa impedi-lo de fazer o que quer; não há ninguém que possa obrigá-lo a explicar o que faz.”
(Daniel 4:35)

Mas, despedindo-se, disse: Se Deus quiser, voltarei para vós outros. E, embarcando, partiu de Éfeso.
(Atos 18:21)

 Internautas Cristãos
textos biblicos esquecidos parte 02Já vimos alguns textos bíblicos esquecidos. Agora, vamos seguir com a série e relembrar outros mais.

Em sua maioria, são textos desagradáveis para pessoas que não se submetem completamente à Palavra de Deus e pensam que seus conceitos particulares são melhores que os pensamentos do Senhor.

Inclusive alguns ditos “teólogos” não aceitam o sentido claro desses textos, e tentam dar a eles significados totalmente diferentes, fazendo verdadeiros malabrismos teológicos. Na verdade, essa é uma forma de rejeitar a Escritura, pois afirmam crer nela, mas lhe dão interpretações segundo suas próprias conveniências e preferências.

Assim como fizemos no primeiro artigo, vamos postar apenas os próprios textos, sem qualquer comentário, pois a Bíblia fala por si mesma. Para um entendimento mais preciso, leia ao menos o capítulo onde cada versículo se encontra.
Respondeu-lhe o SENHOR: Quem fez a boca do homem? Ou quem faz o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não sou eu, o SENHOR?
(Êxodo 4:11)

Quem é aquele que diz, e assim acontece, quando o Senhor o não mande? Acaso, não procede do Altíssimo tanto o mal como o bem?
(Lamentações 3:37-38)

Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas.
(Isaías 45:7)

Quando tocam a corneta de alarme, será que o povo não fica com medo? Por acaso, cai alguma desgraça sobre uma cidade, sem que o SENHOR Deus a tenha feito acontecer?
(Amós 3:6)

Todavia, ao SENHOR agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do SENHOR prosperará nas suas mãos.
(Isaías 53:10)

Levantaram-se os reis da terra, e as autoridades ajuntaram-se à uma contra o Senhor e contra o seu Ungido; porque verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios e gente de Israel, para fazerem tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram.
(Atos 4:26-28)

E mais uma vez o SENHOR disse a Moisés: —Eu lhe dei poder para fazer muitos milagres. Quando você voltar para o Egito, esteja pronto para fazê-los diante do rei daquela terra. Mas eu vou fazer com que ele fique teimoso e não deixe o povo de Israel sair de lá. Então você lhe dirá que eu, o SENHOR, digo o seguinte: “Israel é o meu primeiro filho. Já lhe disse que deixe o meu filho sair a fim de me adorar. Mas você não deixou, e por isso eu vou matar o seu filho mais velho.”
(Êxodo 4:21-23)

Porém o SENHOR endureceu o coração de Faraó, e não os ouviu, como o SENHOR tinha dito a Moisés.
(Êxodo 9:12)

Endurecerei o coração de Faraó, para que os persiga, e serei glorificado em Faraó e em todo o seu exército; e saberão os egípcios que eu sou o SENHOR. Eles assim o fizeram.
(Êxodo 14:4)

Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu poder e para que o meu nome seja anunciado por toda a terra. Logo, tem ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz. Tu, porém, me dirás: De que se queixa ele ainda? Pois quem jamais resistiu à sua vontade? Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra? Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição, a fim de que também desse a conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou de antemão.
(Romanos 9:17-23)



 Internautas Cristãos
textos biblicos esquecidos parte 03Em nossa sociedade atual há uma verdadeira crise de autoridade. A natureza humana se rebela e se revolta contra qualquer tipo de submissão.

O ego das pessoas não regeneradas não pode suportar sequer ouvir falar em hierarquia e obediência.

Os filhos não obedecem aos pais, as esposas não se submetem aos maridos, os cidadãos não reconhecem a autoridade que Deus concedeu aos governantes, e até mesmo os membros de igrejas não seguem a direção de seus líderes. Mas não foi assim que Cristo ensinou. 

Como fizemos na primeira e na segunda parte desta série, postaremos apenas os textos bíblicos. Eles falam por si sós: 
Obedeçam às autoridades, todos vocês. Pois nenhuma autoridade existe sem a permissão de Deus, e as que existem foram colocadas nos seus lugares por ele.
(Romanos 13:1)

Recomende aos irmãos que respeitem as ordens dos que governam e das autoridades,que sejam obedientes e estejam prontos a fazer tudo o que é bom.
(Tito 3:1)

Esposa, obedeça ao seu marido, como você obedece ao Senhor.
(Efésios 5:22)

Esposa, obedeça ao seu marido, pois é o que você deve fazer por ser cristã.
(Colossenses 3:18)

Filhos, o dever cristão de vocês é obedecer ao seu pai e à sua mãe, pois isso é certo.
(Efésios 6:1)

Filhos, o dever cristão de vocês é obedecer sempre ao seu pai e à sua mãe porque Deus gosta disso.
(Colossenses 3:20)

Escravos, em tudo obedeçam àqueles que são seus donos aqui na terra. Não obedeçam só quando eles estiverem vendo vocês, procurando com isso conseguir a aprovação deles. Mas obedeçam com sinceridade, por causa do temor que vocês têm pelo Senhor.
(Colossenses 3:22)

Obedeçam aos seus líderes e sigam as suas ordens, pois eles cuidam sempre das necessidades espirituais de vocês porque sabem que vão prestar contas disso a Deus. Se vocês obedecerem, eles farão o trabalho com alegria; mas, se vocês não obedecerem, eles trabalharão com tristeza, e isso não ajudará vocês em nada.
(Hebreus 13:17)

Você acha muito difícil colocar isso em prática? Acha injusto? Não aceita se submeter a ninguém? Então investigue o seu coração, e duvide de sua própria salvação. Lembre-se do que a Escritura Sagrada diz: “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.” (Tiago 4:6b).




10 Maneiras de usar uma Arma para a Glória de Deus

 Filipe Machado
10-maneiras-de-usar-uma-arma-para-a-gloria-de-Deus"Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus." (1 Coríntios 10:31)

01. Tenha-a dentro da legalidade, pois precisamos obedecer aos magistrados (Romanos 13:1-2);

02. Saiba manuseá-la e guardá-la de forma segura, pois somos responsáveis por isso
(1 Timóteo 5:8);

03. Não a use como instrumento de vingança pessoal, pois esta pertence ao Senhor (Romanos 12:19);

04. Não haja precipitadamente com ela, pois esta é a atitude dos tolos (Provérbios 25:8);

05. Use-a para defender sua esposa, pois se for necessário, devemos até mesmo dar nossa vida por elas (Efésios 5:25);

06. Não tenha prazer na morte, pois se Deus assim não tem, nós também não devemos (Ezequiel 33:11);

07. Pratique tiros ao alvo, a fim de ser corretamente instruído e preparado (1 Samuel 17:33-37);

08. Fale com os outros sobre como, biblicamente, é lícito defender-se (Êxodo 22:2-4);

09. Faça manutenções regulares em sua arma, pois é necessário cuidar dos bens dados pelo Senhor, pois são como que emprestados a nós (2 Reis 6:5);

10. Não confie em sua arma, mas no Senhor (Salmos 20:7).

Nota:
Por favor, não pense que esta postagem é uma apologia à morte ou para se atirar sem qualquer motivo. A única coisa biblicamente defensável é a legítima defesa.

Assim lemos claramente:
"Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira [de Deus], porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor. Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem."
(Romanos 12:19-21)

Paulo é preciso em suas palavras e ensina todos os cristãos a não serem "justiceiros particulares", de modo a não violarem a ordem do Senhor ao Estado. O apóstolo coloca um ponto sumário para nosso entendimento; isto é, o motivo pelo qual o cristão não deve ser vingativo é porque "Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor". Desta forma, o cristão não precisa desesperar-se ao ver a impunidade crescente em nossos dias – embora tenha de lutar contra ela –, afinal, é o Todo Poderoso quem está no controle de Sua criação e Ele a julgará com justiça no dia estabelecido:

"Minha é a vingança e a recompensa, ao tempo que resvalar o seu pé; porque o dia da sua ruína está próximo, e as coisas que lhes hão de suceder, se apressam a chegar."
(Deuteronômio 32:35)

Para informações mais detalhadas, recomendamos o livro "Armas, Defesa Pessoal e Bíblia".

Fonte: 2 Timóteo 3:16



Tripé Básico do Cristianismo: Partes 1, 2 e 3

 João R. Weronka
tripe-basico-do-cristianismoCreio que muitos cristãos concordam comigo que a igreja evangélica brasileira passa por um tempo difícil, um tempo de crise, seja ela de identidade ou mesmo teológica. Não quero e nem vou me aprofundar neste estudo sobre o que são os devaneios de “nossa” liderança gospel, que tem gerado inúmeras feridas no corpo. Esta crise é fruto do descaso que muitos líderes e crentes tem dado ao que chamo de Tripé Básico do Cristianismo, que consiste em:

1) Crer – a fé em Deus, nossa crença no único Deus;
2) Ensinar – ensinar acerca de Deus; levar o conhecimento da Palavra de Deus e do Deus da Palavra;
3) Defender – fazer a séria apologética cristã, defendendo os princípios elementares desta fé.

Creio piamente que devemos nos atentar a este tripé. Creio que ele pode produzir maturidade na vida das pessoas. Não se trata de uma fórmula mágica importada de Bogotá, Toronto ou Pensacola. Não se trata de a mais nova revelação neopentecostal. É apenas a aplicação simples de princípios que a Bíblia Sagrada – e de modo especial o Novo Testamento – nos mostram. Nós do NAPEC – Núcleo Apologético de Pesquisas e Ensino Cristão, somos um ministério paraeclesiástico que busca alertar a igreja sobre a importância do ensino bíblico genuíno e sobre a defesa da fé cristã. Não nos conformamos em ver o Evangelho sendo diluído em falsos ensinos e correntes nefastas. Por isso lançamos este alerta.

Crer

Quão fantástico e glorioso é quando uma pessoa abandona uma vida de escravidão ao pecado, uma vida distante de Deus e se encontra, de modo verdadeiro com Jesus Cristo, entregando sua vida a Ele e tendo-O como seu único Senhor e Salvador! Pude presenciar inúmeros encontros assim e ver, à medida que o tempo passou, a transformação que a genuína conversão produz. Esta profunda mudança é o “nascer de novo” (Jo 3.3). Jesus ilustrou a magnitude do momento do arrependimento através da Parábola da Dracma Perdida. No arremate desta parábola, Ele diz que “há júbilo diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende” (Lc 15.10). Há júbilo, há festa, há imensa alegria nos céus quando uma pessoa passa a crer em Deus.

A Fé É Um Dom Divino Sobrenatural. O pecado e Satanás cegaram de tal maneira os homens caídos (Ef 4.18; 2Co 4.4) que estes não podem perceber que o testemunho que o Senhor Jesus e os apóstolos deram é a Palavra de Deus, nem podem ‘ver’ e compreender as realidades das quais ela fala (Jo 3.3; 1Co 2.14), nem ‘chegar’ até Cristo numa confiança de auto-renúncia (Jo 6.44,65), se o Espírito Santo não os iluminar (cf. 2Co 4.6).” [1]

Somente aqueles que foram iluminados pelo Espírito Santo e nasceram de novo podem receber este ‘ensino’, ‘atração’ e ‘unção’ divinos e chegar até Cristo e nEle confiar (Jo 6.44-45; 1Jo 2.20,27). Deus, portanto, é o autor de toda fé salvífica (Ef 2.8; Fp 1.29).

A parte triste é que muitos não querem fazer a sua parte. Poucos são aqueles que estão verdadeiramente dispostos a experimentar a maravilha de entender aquilo que crêem. Tais crentes se tornam ovelhas desnutridas, sujeitas aos ventos de doutrina (Ef 4.14). Relacionar os motivos de tamanho desleixo não é tarefa difícil. Posso citar ao menos três deles:

1. Lideranças despreocupadas: quando não existe, da parte do pastor o devido zelo pela sã doutrina, o rebanho será desnutrido, fraco e imaturo;

2. Experiências Pessoais: pessoas que levam suas experiências pessoais e “revelações” acima das Escrituras, criando verdadeiras anomalias espirituais e por muitas vezes doutrinas heréticas embasadas em tais experiências e sem o mínimo respaldo bíblico;

3. Preguiça: Crentes preguiçosos que preferem passar a vida comendo mingau não desejando alimento sólido. Muitos destes acabam se decepcionando por não se aprofundar em Deus e ao se decepcionar lançam a responsabilidade sobre terceiros.

Nenhum de nós chegou ao conhecimento de Deus e à salvação em Cristo através de mérito próprio. Nossa natureza é caída, rebelde e carnal. Nossos impulsos nos levam para longe de Deus. A salvação é um presente de Deus para nós – feito que provém de Deus unicamente (Ef 2.8). O “crer” leva o homem a ter que se posicionar de modo formal diante de Deus, respondendo o chamado que o Senhor faz. Trabalhei certa vez sobre este tema com uma turma de Escola Bíblica, demonstrando a salvação chegando ao carcereiro de Filipos (At 16.27-34). Esta passagem resume de modo maravilhoso a obra de redenção que leva o ser humano ao caminho da profunda fé salvífica (crer) no Senhor Jesus. Tal carcereiro clamou por salvação (At 16.30); ouviu a palavra e ensino de Paulo e Silas (At 16.31-32); agiu mostrando a mudança imediata que Deus operou ali (At 16.33); alegrou-se com sua família e com a comunhão com seus irmãos em Cristo (At. 16-34).

Enfim, crer é o estopim que produz profundas mudanças na vida daquele que foi redimido por Deus. Mas o crente não pode se contentar e se conformar em ficar no raso, ele deve ter a ciência que é indispensável estabelecer bases sólidas acerca do ensino (sobre a fé) e a defesa (apologia da fé). E como a igreja tem negligenciado os mandamentos do Senhor relacionados a estas importantes pernas deste tripé!

Este texto é apenas a introdução ao tema. Na próxima semana trataremos do tema “Ensino”. Mas para que você possa ir refletindo desde já, lanço algumas perguntas:

1) Como anda sua fé? Você tem dado o espaço para que o Espírito Santo encha sua vida da plena convicção?

2) A igreja que você freqüenta – sua congregação – tem dado o devido apoio ao ensino? Existe uma escola bíblica (realmente bíblica)? Você a freqüenta?

Toda honra e glória ao Senhor!

Notas

[1] 
PACKER, James I. in ELWELL, Walter A. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Vol II. Edições Vida Nova. São Paulo, SP: 1990. p.154

Fonte: NAPEC

 João R. Weronka
tripe-basico-do-cristianismoEnsinar a Bíblia... é com muito pesar que escrevo isso: a Escola Bíblica se tornou um ministério fora de moda na igreja em nossos dias. Infelizmente vivemos o tempo do “oba-oba” nas igrejas evangélicas. Muita emoção, pouco compromisso (genuíno) com Deus. As igrejas parecem restaurantes espirituais, onde é posto um menu e o crente freguês consome apenas a mercadoria que lhe apraz. Cultos mecânicos dirigidos por ministros de plástico programados para falar, pular, berrar e agir de modo que agrade sua platéia, ávida por ouvir “pregação” que traga uma mensagem antropocêntrica geralmente relacionada a uma vida de prosperidade material ou coisas do gênero.

O retrato de uma igreja que abandonou o ministério de ensino bíblico é lastimável. Conforme as palavras de R.N. Champlin, tal igreja se torna “infantil, carnal, com disputas e cisões na igreja local. Um povo faminto espiritualmente, será um povo infeliz. A ausência de ensino cristão arma o palco para apostasia”. [1] Você já presenciou esta realidade triste? Eu posso falar sobre isso com propriedade.

É evidente que os cristãos não são enciclopédias ambulantes com capacidade de armazenar todos textos bíblicos de Gênesis a Apocalipse, mas existem informações muito básicas (que refletem nossa qualidade espiritual) que precisam e devem ser armazenadas, ou melhor, aprendidas.

Certa vez, perguntei para uma pessoa que freqüenta uma igreja evangélica há dez anos, sobre o livro de Tobias (texto apócrifo constante apenas nas versões Católico Romanas), e esta pessoa não tinha certeza sobre onde encontrar o livro em sua Bíblia... triste ver tal condição em crentes com tanto tempo de igreja, mas muito mais triste é ver que em sua comunidade não existe um convincente programa de ensino bíblico.

A Bíblia mal é manuseada em cultos, sendo misturada com ensinos dos gurus da envenenada Teologia da Prosperidade. Servindo alimento assim, como que o rebanho poderá crescer na graça e no conhecimento? Como expôs Paulo Romeiro sobre o problema do método de ensino materialista das igrejas neopentecostais onde os líderes ensinam que “a vida do cristão deve ser livre de qualquer problema. Ele deve morar em mansões, possuir carros caros, ter muito dinheiro e muita saúde. Se isso não ocorrer, estará caracterizada a ausência de fé, a vida em pecado ou então o domínio de Satanás. Em outras palavras, a característica do cristão maduro é a plena saúde física e emocional, além da prosperidade material”. [2] Pergunto: que Evangelho é esse? Que ensino é esse?

Se os crentes seguissem o exemplo dos cristãos da cidade de Beréia, não teríamos tamanha farra espiritual e teológica. Os crentes de Beréia foram chamados de nobres, já que examinavam as escrituras para comprovar se os ensinos eram condizentes (At 17.11).

O exame bíblico: a importância do ministério de ensino

O ensino numa comunidade cristã pode ser realizado através de muitos meios, mas é na escola bíblica, um departamento exclusivo para este assunto, que o caminho para maturidade é aberto. A Bíblia Sagrada mostra como o ensino é importante e apresenta parâmetros para que o mandamento de Deus seja cumprido. Além disso, mostra que estar na escola é uma dádiva tanto ao aluno como ao professor.

O mandamento

O Antigo Testamento mostra a importância que o ensino tinha na vida daquele povo. Observamos que Moisés foi um grande professor da Palavra de Deus aos judeus (Dt 4.10; 6.7; 4.14; 4.5). Por conseqüência temos a característica de ensino dentro dos ministérios levítico e profético, passando pelas “Escolas de Profetas”. Após o exílio, um complexo sistema de ensino foi criado (Escolas de Sinagoga). A sociedade incorporou a necessidade ao ponto que até as crianças dedicavam muito tempo ao estudo da Palavra de Deus.

No contexto do Antigo Testamento, temos uma relação de homens usados por Deus para ensinar Seu povo:

- Samuel (1 Sm 12.23)

- Josafá (2 Cr 17.7-12)

- Esdras e Neemias (Ne 8.17)

- Davi (Sl 51.13 – Cf. Sl 25.4; 27.11)

- Isaías (Is 28.10)

Passando para o Novo Testamento, verificamos que a ênfase de Deus no ensino permanece com sua devida importância. Acima de qualquer pessoa que tenha passado pela Terra temos em Jesus Cristo o mestre por excelência. Jesus foi um exímio ensinador. É preciso resgatar esta essência urgentemente! Vejamos a forma que a Palavra narra esta característica tão peculiar de Jesus:

E percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas e pregando o evangelho do reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo.” Mateus 4.23

Porquanto os ensinava como tendo autoridade; e não como os escribas”. Mateus 7.29

Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou.” João 13.13

E Jesus, saindo, viu uma grande multidão, e teve compaixão deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor; e começou a ensinar-lhes muitas coisas.” Marcos 6.34

Jesus implantou o sistema de ensino e os discípulos deram andamento em tal sistema. Paulo foi um grande mestre. Ele investiu no ensino, por exemplo, quando ficou em Antioquia por um ano deixando mestres preparados naquele lugar para poder partir com tranqüilidade (At 13.1); dedicou três anos em Éfeso e um ano e meio em Corinto (At 13.11). Ensinar e pregar eram vistos de modo distinto, traçando assim o perfil e definindo que os chamados pastorais e de mestre eram verdadeiramente separados (At 5.42; Ef 4.11). Isso nos leva a conclusão que o cristão comprometido com a Palavra precisa de mais tempo de estudo em casa e na Escola Bíblica, e não apenas se contentando com o texto exposto em dois ou três cultos semanais. É preciso mais!

As epístolas paulinas são grandes tratados de ensino e exposição do Evangelho, tanto que Paulo se torna um exemplo vivo de tal aplicação. Veja 2 Tm 1.11; 1 Tm 3.2; 2 Tm 2.2.

Infelizmente, a igreja hodierna não quer dar a devida atenção ao ensino. Um povo ensinado não pode ser manipulado com falsas promessas como as da Teologia da Prosperidade e das modas que a cada dia surgem nos arraias evangélicos. Leitor amado, olhe para sua igreja local, onde você congrega com seus irmãos em Cristo e reflita comigo: O que é importante? O que tem sido pregado? Riquezas ou o Evangelho de Cristo? O que tem sido ensinado? A Cruz? Existe um ministério de ensino bíblico? Pelo menos uma classe? Seu pastor se preocupa com isso? E você?

Como disse D.V. Hurst “poucas dúvidas pode haver quanto à importância do ministério de ensino. Durante o período da história bíblica, o ensinador ocupou posição estratégica na propagação da mensagem de Deus”. [3]

É urgente a necessidade de preparar a noiva de Cristo para Sua volta, e ensinar ao povo de Deus a sã doutrina é mais que necessário para que todos estejam firmes no Senhor e que nenhum se perca.

Conclusão

Concluindo esta segunda perna de nosso tripé, cito as sábias palavras de Wayne Grudem, ao descrever em sua Teologia Sistemática, os “Meios de Graça na Igreja”: “É justo apresentar o ensino da Palavra como primeiro e mais importante meio de graça dentro da igreja. Mas convém acrescentar que esse ensino abarca não só o ensino oficialmente reconhecido, ministrado pelo clero ordenado da igreja, mas também todo o ensino que ocorre nos estudos bíblicos, nas aulas das escolas dominicais, na leitura de livros cristãos sobre as Escrituras e mesmo no estudo pessoal da Bíblia”. [4]

No próximo artigo vamos concluir a análise deste tripé com a terceira perna, o defender. Vamos ver que apologética não é um bicho de sete cabeças nem um artefato de guerrilha, mas sim um meio para alcançar os perdidos. Vamos ver que a apologética é muito relevante para nossos dias. Até lá!

Toda honra e glória ao Senhor!

Notas:

[1]
 CHAMPLIN, Russel Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. 8ª Ed. Vol II. Hagnos. São Paulo, SP: 2006. p.390

[2] ROMEIRO, Paulo. Decepcionados com a Graça. Mundo Cristão. São Paulo, SP: 2005. p.98

[3] HURST, D.V. E Ele concedeu uns para mestres. Editora Vida. São Paulo, SP: 1991. p.10

[4] GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. Vida Nova. São Paulo, SP: 2003. p. 804

Fonte: NAPEC

 João R. Weronka
tripe-basico-do-cristianismoQuem precisa de apologética? Afinal, é mesmo necessária a tal “defesa da fé”? Não seria mais proveitoso investir tempo e esforços nos métodos de evangelismo “tradicionais”? A apologética é bíblica?

Se você gosta e entende a necessidade da apologética já deve ter ouvido questionamentos assim ou semelhantes. Se você é um cristão avesso a aplicação e necessidade da apologética já deve ter feito tais questionamentos (ou, ao invés de questionamentos, deve ter afirmado que a apologética é desnecessária). Talvez você não esteja nem lá, nem cá.

Este texto (o mais longo da série – peço sua paciência) finaliza esta simples trilogia e não tem a menor presunção de ser a palavra final sobre o assunto – um vasto assunto – trata-se de uma tentativa de acalmar os ânimos daqueles que não aceitam a disciplina apologética bem como orientar os extremistas que fizeram – e fazem – da apologética algo dispensável.

Não é rara a idéia que a apologética é uma arma de destruição, pois este pensamento permeia a mente de muitos cristãos. Posso afirmar que é um pensamento raso, produto daqueles que não compreenderam o real uso da apologética. Uma simples busca na web mostra o volume de sites, blogs, fóruns, listas de discussão e vídeos recheados de morte, ira e ódio religioso, posições muito aquém da recomendação bíblica de 1Pedro 3.15. Lembre-se, discordância não significa desrespeito.

A maioria daqueles que se dedicam à apologética, deram início naquilo que chamo de heresiologia [1]. É corriqueiro que estes estudiosos, após sua conversão ao cristianismo, se tornem “irados” com suas antigas frustrações religiosas, e acabam se tornando tão “anti-aquiloque eu acreditava” que passam a destilar um veneno religioso muito perigoso. Isso é morte, e nem de longe se assemelha à nobre tarefa apologética.

Seria a apologética relevante?

Sim, sem a menor dúvida. Por ser relevante, não gera morte, e sim vida. Veja como Gregory Koukl mostra o conceito geral que existe a respeito da apologética por aí (conceito tal que queremos derrubar neste texto):

A apologética desfruta de uma reputação questionável entre os não-simpatizantes. Por definição, os apologistas ‘defendem’ a fé. Eles combatem as falsas idéias, destroem especulações levantadas contra o conhecimento de Deus. Tais palavras soam como palavras de combate para muitas pessoas: façam um círculo com as carroças; levantem a ponte levadiça; preparem as baionetas; carreguem as armas; preparar, apontar, fogo! Não é surpresa, portanto, que os cristãos e incrédulos igualmente associem apologética a conflito”. [2]

Tomo a liberdade ainda, de citar Alan Richardson, que demonstra que a apologética é sim relevante:

A apologética trata das relações da fé cristã com a esfera mais vasta do conhecimento ‘secular’ do homem – a filosofia, a ciência, a história, a sociologia e as outras mais – visando demonstrar que a fé não discrepa da verdade descoberta por essas pesquisas. Tarefa como esta deve, necessariamente, ser empreendida em cada época. É mesmo um empreendimento de considerável urgência num período em que os conhecimentos científicos e as transformações sociais se processam tão rapidamente” [3]

Vimos nos estudos anteriores o passo inicial do “crer”, e partimos então para a importância da prática do ensino bíblico em nossas igrejas. No que diz respeito à necessidade e importância da apologética, destaco sua relevância no seguinte:

a) A saúde da igreja; b) A defesa própria; e c) Evangelismo

a) A saúde da igreja

O rebanho, a igreja, a comunhão dos crentes, precisa ser protegida das más influências externas e até mesmo das internas. Precisa de proteção, pois dia-a-dia se levantam falsos mestres e gurus trazendo um novo ensino que se opõem à pureza do Evangelho. Os motivos são diversos, mas é possível destacar alguns:

1. Movimentos sectários: existem centenas ou mesmo milhares de grupos que se opõem à fé cristã. Muitos destes grupos investem tempo e recursos materiais para que possam treinar seus seguidores no trabalho de proselitismo religioso. Muitas são as seitas que são especialistas em fisgar novos convertidos. O processo de discipulado dentro das igrejas precisa receber um plusapologético.

2. Ateísmo e movimentos semelhantes: a massa de pessoas que não crêem cresce a cada dia. E além do fator crescimento, os “sem crença” também se tornaram defensores ferrenhos de seus ideais. É difícil ficar parado vendo tudo isso acontecer e ainda apregoar, como alguns setores da igreja brasileira apregoam, que estamos passando ou mesmo chegando a um super avivamento espiritual. Discordo. O mundo está em franca secularização. A Europa está secularizada, os Estados Unidos estão em secularização e infelizmente as coisas estão em avanço nos arraias tupiniquins. Qual a função da apologética diante deste quadro? É prover nesta ambiente sociocultural tão hostil um cristianismo que não significa suicídio intelectual. Ao conhecer o Evangelho, não abdicamos do intelecto.

Assim pergunto: que avivamento é esse tão apregoado aos quatro cantos? Milhões de CDs e DVDs vendidos? Coleções de crachás dos seminários e eventos que injetam o lixo nas mentes incautas? Evangelho é mudança, é poder para aquele que crê! O cristianismo não pode ser lançado à periferia da existência intelectual, e se trabalharmos este lado em parceria com a ação de convencimento do Espírito Santo alcançaremos frutos de arrependimento e genuína conversão e isso corresponde a avivamento.

3. Heresias internas: assim como foi com a igreja primitiva que enfrentou problemas das mais variadas formas, como por exemplo, Himineu e Alexandre (1Tm 1.19-20; 2Tm 4.14-15) – e o apóstolo Paulo orientou Timóteo a guardar sua fé em relação ao ensino destes – a igreja evangélica está recheada de falsos ensinos. Uma invasão de falsos bispos, apóstolos (e apóstolas!), mestres, gurus e afins se auto-proclamam uma classe super-ungida e levam multidões ao erro. Os programas tele-evangelísticos (que Evangelho é esse pregado na televisão?) estão infectados com a perniciosa Teologia da Prosperidade e esta falsa teologia está nos púlpitos acompanhada de outras aberrações (amuletos, elementos místicos, ofertas “compra-benção”, determinismo, etc.) lançando Jesus Cristo ao banco de reservas.

Por tais motivos, que sequer fazem cócegas na totalidade dos problemas existentes, fica muito claro que a apologética tem muita utilidade (e necessidade). Vamos adiante.

b) Defesa própria

Aquele que acha que não é necessário saber dar respostas se engana. Como disse Jan Karel Van Baalen, “A resposta do escolar: ‘eu sei, mas não sei explicar’, engana somente o escolar. Se não soubermos responder o argumento do sectário, é porque não dominamos os fatos” [4]. É mais que necessário saber os fundamentos de nossa fé, saber verdadeiramente sobre o que cremos, deixar o leite de lado e partir para alimento sólido. O maior beneficiado por este esforço é o próprio cristão.

Vimos no segundo estudo sobre este tripé (ensino) que as Escolas Bíblicas estão “fora de moda”. Pergunto como poderemos formar uma geração de cristãos comprometidos com as verdades bíblicas se estes não são ensinados sobre a verdade? Os jovens andam cada vez mais desconfiados (mesmo dentro da igreja) se realmente a Bíblia é verdadeira; uma juventude alienada, viciada na mediocridade da moda gospel e contaminada pelo relativismo. É complicado. Se não houver um despertar para aquilo que realmente importa, as coisas ficarão muito feias num futuro breve. E mais uma vez pergunto: que avivamento é esse que não produz interesse e amor pelo Deus da palavra e pela palavra de Deus? Estar preparado corresponde a atender o preceito bíblico:

Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes.” Tito 1.9.

E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição. E muitos seguirão as suas dissoluções, pelos quais será blasfemado o caminho da verdade.” 2Pedro 2.1-2.

c) Evangelismo

É possível conciliar a apologética com o evangelismo? Não tenho dúvidas. Como já vimos, a verdadeira forma de fazer apologética não está naquele conceito distorcido de fazer desta ferramenta uma arma de guerra. A nobre tarefa evangelística requer preparo. Veja este fato interessante descrito por um renomado apologista com mais de 35 anos de serviço. Norman Geisler, logo após sua conversão a Cristo, passou a testemunhar sobre o Senhor junto às pessoas, mas após ser confrontado por um homem embriagado – que afirmou ser formando por um renomado instituto bíblico norte-americano – que tentou desencorajá-lo da pregação evangelística, e após sofrer questionamentos oriundos das testemunhas de Jeová e de mórmons, concluiu que era necessário estar mais bem preparado para a pregação: “Estou convencido de que muitos cristãos deixam de testemunhar porque não querem gastar algum tempo a fim de obter respostas para todas essas pessoas” [5]

Pregar o Evangelho é honroso ao cristão, e a defesa da fé está dentro do próprio contexto da pregação do Evangelho, do contrário, o apóstolo Paulo não teria feito as seguintes afirmações:

Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego.” Romanos 1.16

Mas outros, por amor, sabendo que fui posto para defesa do evangelho.” Filipenses 1.17

Eis o motivo porque faço uso da apologética. Repare nas epístolas que compõem o Novo Testamento, elas são de caráter evangelístico, de instrução, admoestação e com grande viés apologético. Enfim, fazer uma apologética sadia é simplesmente anunciar as verdades do Evangelho para aqueles que não crêem.

Vamos tomar, por exemplo, a tarefa de um missionário que será mandando para um local cuja cultura é completamente diferente da sua. É sabido que a influência da cultura na religião é muito grande, e vice-versa. O chamado divino é essencial, e a preparação é mais que necessária, e na preparação, a apologética também é útil:

Desempenhar o trabalho de missões requer muito mais do que se deslocar de uma região para outra, ou de um país para outro. Precisamos conhecer a cultura do lugar em que vamos semear o evangelho. Junto à cultura, teremos a religiosidade nativa. Conhecer antecipadamente tais elementos nos trará condições para alcançá-los adequadamente”. [6]

Vida cristã como argumento apologético

Apesar dos fideístas levantarem uma série de argumentos contra a apologética, está claro que na Bíblia o Senhor nos manda batalhar pela fé (Judas 3), tendo compaixão daqueles que duvidam (Judas 22) e fazendo tal tarefa com mansidão e respeito (1Pedro 3.15-16). Segundo Norman Geisler:

Quem tentar responder a perguntas de incrédulos certamente será insultado e tentado a perder a paciência, mas nosso objetivo principal é que cheguem ao conhecimento da verdade de que Jesus morreu por nossos pecados; Com uma tarefa tão importante a realizar, não devemos deixar de obedecer a este mandamento” [7]

Certa feita, um irmão em Cristo me disse que havia humilhado um membro de uma seita que batera no portão de sua casa. Ele humilhou aquela pessoa sem apresentar a verdade bíblica a ela. Definitivamente, não precisamos de atitudes assim, que além de ir contra o amor cristão, é algo selvagem, desrespeitoso e intolerante, e isso não é apologética cristã.

Uma apologética eficaz está totalmente ligada à prática do amor. Nós devemos ter o ensino correto, mas também devemos ter a prática correta. Apesar de discordar de grande parte daquilo que é ensinado no movimento da “Igreja Emergente”, empresto as palavras que Brian McLaren (expoente da Igreja Emergente) disse:

... muitas ortodoxias sempre, e em toda parte, têm suposto que ortodoxia (pensamento e opinião corretos acerca do evangelho) e ortopraxia (prática correta do evangelho) poderiam e deveriam estar separadas, para que alguém, no mínimo se orgulhe de tirar um “A” em ortodoxia, mesmo depois de ter tirado um “D” em ortopraxia, o que se trata apenas de uma classe eletiva de todo modo”. [8]

Entendemos que fomos comissionados pelo Senhor para evangelizar, e para tal precisamos agir espelhados no Senhor Jesus. Veja ainda o que Gregory Koukl complementa sobre fazer apologética:

Não é suficiente para os seguidores de Cristo ter apenas mente bem informada. Eles também necessitam de um método eficiente, combinando conhecimento com sabedoria e diplomacia. Necessitam das ferramentas de um embaixador, e não das armas de um guerreiro; de habilidades táticas, e não de força bruta”. [9]

Enfim, ortodoxia cristã sem a prática, sem a vivência do Evangelho se torna nada. Jesus nos deu dois grandes mandamentos: amar a Deus acima de tudo e todos – e isso é o parâmetro que rege nosso relacionamento com Deus. Você o ama? – e o amor ao próximo – nosso relacionamento interpessoal nos mostrará como está nossa ortopraxia (Mateus 22.35-40). Não dá para fazer apologética sem no mínimo ansiar em amar ao Senhor verdadeiramente sobre tudo e amar o próximo como a si...

Levando em conta esta condição indispensável, concluo esta trilogia citando a palavras de William Lane Craig, um dos grandes apologistas de nosso tempo: “Na maioria das vezes, o que leva um incrédulo a Cristo não é o que você diz, mas o que você é. Portanto, esta é apologética superior: a sua vida”. [10]

Toda honra e glória ao Senhor!

Notas

[1] 
Acredito plenamente que a heresiologia é um ramo da apologética cristã. A apologética consiste em diversos segmentos, e o estudo das falsas religiões e crenças é tão somente um destes segmentos.

[2] KOUKL, Gregory in BECKWITH, Francis J. & CRAIG, William Lane & MORELAND, J.P. Ensaios apologéticos: um estudo para uma cosmovisão cristã. Hagnos. São Paulo, SP: 2006. p.55

[3] RICHARDSON, Alan. Apologética cristã. JUERP. Rio de Janeiro, RJ: 1978. p.17

[4] VAN BAALEN, Jan Karel. O caos das seitas. Imprensa Batista Regular. São Paulo, SP: 1984.

[5] BECKWITH, Francis J. & CRAIG, William Lane & MORELAND, J.P. Ensaios apologéticos: um estudo para uma cosmovisão cristã. Hagnos. São Paulo, SP: 2006. p.10

[6] Bíblia apologética de estudo, 2ªed. Instituto Cristão de Pesquisas. São Paulo, SP: 2005. p.1351

[7] GEISLER, Norman L. Enciclopédia de apologética. Editora Vida. São Paulo, SP: 2002. p.57

[8] McLaren, Brian. Uma ortodoxia generosa. Palavra. Brasília, DF: 2007. p.37

[9] KOUKL, Gregory in Ensaios apologéticos. p.64-65

[10] CRAIG, William Lane. A veracidade da fé cristã. Vida Nova. São Paulo, SP: 2004. p. 305

Fonte: NAPEC

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O Líder Diante da Chegada da Morte - Lição 10 / EBD


 O Líder Diante da Chegada da Morte - Lição 10
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As cartas pastorais de Paulo são ricas em ensinamentos, conselhos, exortações e doutrinas, que têm grande valor para a vida cristã, tão carente de consistência e fundamentos, como nos dias atuais. Paulo escrevia à mão, em pergaminhos que, transformados em rolos, eram enviados a lugares os mais distantes, por intermédio de mensageiros ou portadores de suas missivas.

Depois que escreveu a Timóteo, na segunda carta, acerca da corrupção que haveria de dominar o mundo “nos últimos dias” (2 Tm 3.1), Paulo chama a atenção do seu discípulo amado para alguns aspectos preocupantes da realidade que viria sobre a igreja do Senhor Jesus Cristo, não só em Éfeso, na Ásia Menor, mas em todo o mundo, como se depreende de seu ensino pastoral. Em primeiro lugar, o apóstolo usa uma expressão forte, que poderia assustar Timóteo, pela veemência da recomendação do mestre ao jovem obreiro. Mas Timóteo já conhecia o linguajar de Paulo. Ele diz: “Conjuro-te, pois, diante de Deus e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu Reino, que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redar- guas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina” (2 Tm 4.1,2). Timóteo deveria transmitir a mensagem da “sã doutrina” de modo insistente, quer os ouvintes aceitassem quer não a palavra que lhes era enviada. A experiência, fundada na Palavra, mostra que, quando a mensagem é de Deus, o pregador deve falar, não o que o povo gosta de ouvir, mas o que Deus quer falar.

O verbo conjurar, no primeiro versículo, tem o sentido de rogar, suplicar, e não de tramar, maquinar, como ocorre, nas conjurações políticas. Paulo expressava seus sentimentos, de modo dramático, para que Timóteo levasse em consideração até as últimas consequências a nobilíssima missão que lhe era confiada, para que pregasse a Palavra de Deus, de modo insistente, em caráter de urgência, “a tempo e fora de tempo”, tendo em vista o que haveria de ocorrer, conforme o sentir profético do apóstolo. E sua forte recomendação deveria ser aceita, “diante de Deus e do Senhor Jesus Cristo”; e numa perspectiva escatológica: “que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu Reino”! Talvez seja o trecho da carta de maior gravidade. E o que estava por vir não era nada desejável nem comum.
Além da corrupção dos últimos tempos, Paulo antevia tempos em que, dentro da própria igreja local, levantar-se-iam homens que seriam usados pelo Diabo para rejeitar a sã doutrina e usar sua influência intelectual ou teológica para deturpar a verdade do evangelho de Cristo. Por isso, ele determina, em sua súplica, que Timóteo usasse a Palavra para redarguir, repreender e exortar “com toda a longanimidade e doutrina”. Aqui, há um grande ensinamento de ordem prática para a vida ministerial do obreiro, especialmente dos que lideram, na igreja local. A exortação não deve ser dada de forma pesada ou agressiva, como ocorre em muitos púlpitos. A palavra exortar vem do grego, parakaleo, que tem o sentido de chamar para fora, para consolar. Daí, porque o Espírito Santo é nosso paraldeto, nosso Consolador.

Timóteo deveria ser um obreiro firme na palavra na exortação, mas com “longanimidade” (gr. makrothumia), isto é, com paciência, diante dos que precisavam da mensagem firme e incisiva. Mais ainda. Paulo demonstra, nesse texto, que a exortação só tem sentido se, além de ser dada com longanimidade, tem que estar fundamentada na “doutrina” (gr. didache). Exortar não é “dar carão”, “sentar a ripa”, ou “sentar o pau”, nas ovelhas, como o fazem alguns pastores, em sua neurastenia descontrolada ou radicalismo exacerbado. Exortar é orientar com segurança, com firmeza, mas com amor, compreensão e longanimidade. Em seguida, Paulo esclarece o motivo da sua veemente recomendação.
A premência da recomendação incisiva de Paulo tinha motivo muito mais sério do que se poderia imaginar. Ele diz a Timóteo, seu filho na fé, e portador da mensagem para a igreja: “Porque virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas” (2 Tm 4.3,4). Era a incumbência mais significativa que Paulo ciaria a Timóteo, pois estava em análise o futuro e a sobrevivência da fé cristã e da igreja de Jesus, ameaçada pelos falsos mestres, e “doutores” falsos e hereges, que levariam os crentes a se desviarem da verdade da Palavra de Deus, da “sã doutrina”.
Preparando-se para o fecho da carta, Paulo dá sua última palavra pessoal a Timóteo: “Mas tu sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério” (2 Tm 4.5). Será que essas palavras foram só para Timóteo? Certamente, não. O Espírito Santo pôs na mente e na escrita de Paulo recomendações que se aplicam de modo perfeito aos obreiros do Senhor em todos os tempos, incluindo o tempo presente, em que há tantas aberrações ministeriais, na consagração cie homens despreparados para a elevada missão de um ministro do evangelho. O texto diz que o obreiro deve ser “sóbrio”, ou seja, simples, humilde. Deve ser sofredor, ou seja, capaz de saber suportar as aflições que possam surgir no ministério. E Timóteo deveria saber fazer “a obra de um evangelista” e cumprir o seu ministério, ou sua missão ou tarefa que lhe fora confiada.
Em seguida, tal como um corredor de “corrida de revezamento”, Paulo prepara-se para “passar o bastão” a Timóteo. O apóstolo estava perto de terminar a corrida (ou o combate), e Timóteo deveria substituí-lo, pois Paulo sentia que sua missão apostolar estava perto do fim. Lembremos que Paulo estava na prisão, e não no púlpito de uma igreja. Ainda esperava ver Timóteo, mas a urgência da mensagem apertava seu coração. Talvez Timóteo não percebesse tal situação, até que seus olhos pousaram nos últimos parágrafos da carta. E viu com profundo sentimento de santa tristeza que seu mestre, seu mentor e tutor, tinha consciência de que a morte se aproximava, no fim do seu ministério. Mas, em lugar de demonstrar medo ou pavor diante da morte, Paulo escreve o que poderia ser considerado um “cântico de vitória” no final da missão: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé” (2 Tm 4.7). O jovem obreiro deve ter-se detido mais tempo ante essa declaração de Paulo do que no restante de sua epístola. E sentido o peso da responsabilidade, ao pensar se estaria à altura de substituir o maior evangelista do cristianismo, o maior intérprete dos evangelhos, que se considerava, contudo, “o menor dos apóstolos” (1 Co 15.9).

I - A CONSCIÊNCIA DA MORTE NÃO TRAZ DESESPERO AO CRENTE FIEL
1. A Serenidade diante da Morte
Enquanto Timóteo ainda era um jovem obreiro, Paulo já era de certa idade, “o velho” (Fm 9), e já tinha consciência, dada por Deus, de que estava no final de sua longa, sacrificada e honrosa missão, que lhe fora confiada por Jesus Cristo, quando de sua dramática conversão no caminho de Damasco.
Ao escrever a Timóteo, sobre os últimos dias de sua vida e de seu ministério, Paulo usou uma figura emprestada dos antigos sacrifícios do Templo em Jerusalém. “Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo” (2 Tm4.6). É uma linguagem “técnica”, por assim dizer. Só pode entender quem lê acerca dos rituais dos sacrifícios na Antiga Aliança. Aquele que oferecia sacrifício ao Senhor, como “oferta de manjares”, o fazia com “flor de farinha”, misturada com azeite, na proporção indicada pela lei; e também derramava sobre ela uma porção de vinho, ou uma “libação” (Nm 15.5,7,10), uma oferta de caráter voluntário, “de cheiro suave ao Senhor” (Lv 2.2). Não era uma oferta pelos pecados, mas uma oferta de gratidão a Deus. Paulo considerava a sua vida, salva por Cristo, e toda a sua experiência no cristianismo, como uma “oferta de manjares”, uma “libação” ou “aspersão do sacrifício”, ante a proximidade da morte, que ele encarava com paz e serenidade.

2. A Certeza da Missão Cumprida
Ao se deter nas últimas linhas da carta, Timóteo deve ter sentido muita admiração pelo velho obreiro, quando este diz: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda” (2 Tm 4.7,8). No texto, que indica antecipadamente a consciência da proximidade da partida para a eternidade, vemos três aspectos a destacar:
1) “Combati o bom combate”
Paulo diz a Timóteo que está chegando ao fim da jornada, como servo de Deus, como apóstolo e fiel testemunha do Senhor, mas, como um lutador que enfrentava a luta, na arena, havia combatido “o bom combate”, ou seja, o bom combate da fé. Paulo conhecia as competições atléticas de sua época, E imaginou essa metáfora para indicar sua vitória, ante as lutas que houvera enfrentado, desde sua conversão e o desenvolvimento do seu ministério, sempre envolvido com opositores humanos, além da luta espiritual contra os inimigos do crente em Jesus.
Seu combate da fé era em defesa da igreja, lutando pelos irmãos em Cristo (Cl 2.1); era a luta contra os opositores que se levantavam contra sua missão (1 Ts 2.2). Todos os apóstolos de Jesus eram homens que combatiam “pela fé que uma vez foi dada aos santos” (Jd 3). Mas nenhum teve tantas oposições e ameaças quanto Paulo. Ele foi um obreiro muito perseguido, mas nunca desistiu da luta espiritual em prol do evangelho (2 Tm 3.11,12; 2 Tm 4.14; 1 Tm 1.20).
2) “Acabei a carreira”
No original, o texto indica que Paulo se referia à “pista de corrida” ’, nas competições em Atenas, em Roma, ou em outra cidade que conhecia. Em sua carreira ou “corrida”, Paulo diz que não olhava para trás, mas para as coisas que estavam diante dele, prosseguindo “para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3.13,14). Muitos têm começado a carreira da vida cristã, mas desistem, ante os obstáculos e os problemas que surgem pela frente.
Nessa “carreira”, as dificuldades são enormes, porque, além de ser uma luta constante, o crente tem que carregar uma cruz “de cada dia” (Lc 9.23). Diante dessa realidade, após as experiências vividas em seu ministério, Paulo mostrou a Timóteo que tinha a certeza de que sua carreira como ministro do evangelho houvera terminado. Mas o fazia com a consciência tranquila, mesmo diante da morte, de que cumprira o seu dever para com Deus e sua Igreja.
3) “Guardei a fé’’
Paulo quis dizer que não apenas lutou o “bom combate” e concluiu “a carreira”, mas não o fez de qualquer maneira. Ele guardou “a fé”. Isso quer dizer que ele foi fiel a Deus, em todas as circunstâncias de sua vida cristã. Ele não se embaraçou “com os negócios dessa vida” e militou legitimamente (2 Tm 2.4,5). Guardar a fé significa guardar a fidelidade estrita a Cristo e a seus ensinamentos. E Paulo ensinou de modo eloquente sobre esse cuidado. O crente é consolado pela fé (Rm 1.12); a justiça de Deus é pela fé (Rm 3.22); o homem é justificado pela fé (Rm 3.28; 5.1; G1 2.16); o justo vive pela fé (Gl. 3.11); a salvação é pela fé em Jesus (Ef 2.8). Paulo sabia o que era lutar e guardar a “fé que uma vez foi dada aos santos” (Jd 3).
II - O SENTIMENTO DE ABANDONO
O apóstolo Paulo contribuiu de forma decisiva e marcante para a expansão do evangelho de Jesus Cristo, não só no Oriente Médio, mas na África e na Europa. Foi o maior missionário de seu tempo. Além de seu trabalho missionário, Paulo foi um escritor extraordinário, que contribuiu para a formação do pensamento cristão, não só para sua época, mas para a Igreja do Senhor em todos os tempos. Dos 27 livros do Novo Testamento, ele escreveu treze. Mas, por permissão de Deus, terminou seus dias num cárcere de uma prisão romana.
Pela grandeza do seu ministério, como um verdadeiro formador de líderes e de discípulos de Cristo, como fruto de sua pregação, de suas mensagens e ensinos profundos, era de se esperar que, nos momentos cruciais em que estava vivendo, não faltassem os amigos e os irmãos ao seu lado. Mas, infelizmente, não foi o que aconteceu. O texto em apreço demonstra que ele experimentou a solidão e o abandono dos que faziam parte do seu círculo de relacionamentos. Como um fiel discípulo e imitador sincero de Cristo, Paulo soube o que era ficar só quando mais precisava de companhia.
1. O Clamor de Paulo na Solidão
Jesus exclamou sua solidão na cruz, sentindo a ausência necessária do Pai, por ter recebido sobre si os pecados da humanidade. Deus não poderia estar em comunhão com o pecado, no momento em que Cristo morria como “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” 0o 1.29). Paulo clamou pelo amigo, de dentro da prisão. Ele não tinha meios de comunicação rápidos, como hoje qualquer pessoa pode dispor. Sua carta deve ter demorado dias para chegar às mãos de Timóteo. No início da carta, ele já sentia a falta do amigo, quando escreveu: “desejando muito ver-te, lembrando-me das tuas lágrimas, para me encher de gozo” (2 Tm 1.4). No final da missiva, consta a premente súplica de Paulo ao seu filho na fé: “Procura vir ter comigo depressa” (2 Tm 4.9). Nas linhas seguintes, ele diz o porquê de sua pressa.
1) Demas o desamparou
“Porque Demas me desamparou, amando o presente século, e foi para Tessalônica” (2 Tm 4.10a). Tal expressão dá a entender que Demas, que era um cooperador e amigo de Paulo (Cl 4.14; Fm 24), na hora em que mais precisava dele, sentiu sua falta de amor.
2) Dois amigos tiveram que viajar
“Crescente, para a Galácia, Tito, para a Dalmácia” (2 Tm 4.10b). Não fica claro o motivo da viagem desses dois irmãos. Provavelmente, foram a serviço do ministério, a lugares distantes. Em alguns momentos, Paulo estivera cercado de amigos. Mas, por razões diversas, muitos tiveram que deixá-lo só. Tíquico foi mandado para Éfeso (2 Tm 4.12). Os textos das cartas dão a entender que Tíquico fora o mensageiro que levou a carta a Timóteo (cf. Tt 3.12; Cl 4.7; Ef 6.21,22), assim como foi portador de outras missivas; Erasto ficou em Corinto e Trófimo ficou doente em Mileto (2 Tm 4.20).
3) Só o médico amado ficou com Paulo
“Só Lucas está comigo” (2 Tm 4.11). Lucas, “o médico amado” (2 Tm 4.14), escritor do livro de Atos dos Apóstolos, e cooperador do apóstolo (Fm 24), fez-se presente, dando assistência a Paulo. Sem dúvida alguma, fora providência de Deus. Em idade avançada (Fm
1.9), Paulo precisava de cuidados médicos, de remédios e orientações clínicas. E ali estava o Dr. Lucas, seu amigo, que não o desamparou.
4) A necessidade de um amigo
“Toma Marcos e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério” (2 Tm 4.11b). E interessante esse apelo de Paulo. Marcos, ou João Marcos, filho de Maria (At 12.12), era um obreiro jovem, que, por seus impulsos, deixou de acompanhar Paulo, em uma de suas viagens missionárias, o que muito lhe desagradou (At 13.13), e foi motivo de contenda e separação entre Paulo e Barnabé (At 15.36-38). Foi um incidente muito desagradável entre aqueles irmãos. Mas, na carta em apreço, Paulo demonstra que deve ter refletido sobre Marcos, e conclui que, apesar do acontecido, aquele jovem obreiro lhe era “muito útil” ao seu ministério. O perdão é assim. Sara as mágoas e reaproxima os amigos e irmãos.
2. A Serenidade nos Últimos Dias da Vida
É impressionante o comportamento de Paulo, registrado na segunda carta a Timóteo. Mesmo consciente de que sua vida estava prestes a findar, ainda tem a calma para interessar-se por coisas que seriam absolutamente desprezadas por outras pessoas, naquela circunstância. Na primeira vez, Paulo ficou em prisão domiciliar, durante dois anos, quando podia receber visitas (At 28.16). Mas, no segundo encarceramento, deve ter ficado recluso em cárcere fechado. Contudo, sua serenidade era tal que ainda teve ânimo para solicitar a Timóteo algumas coisas e fazer recomendações importantes. “Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos” (2 Tm 4.13).
Como se aproximava o inverno (2 Tm 4.21), e Paulo sentia a necessidade da capa que deixara na casa de Carpo. Mas para quê os livros, os pergaminhos, se sua morte estava iminente? Antes de tudo, percebe-se quanto valor Paulo dava à leitura de livros, anotações, feitas em pergaminho. Talvez aqueles livros fossem livros da lei ou do Antigo Testamento. Ao que tudo indica, o seu julgamento, perante a justiça de Roma, pudesse demorar alguns dias ou meses. De qualquer forma, é um eloquente testemunho de que o homem de Deus, quando está seguro em sua comunhão com o Senhor, não teme a morte ou qualquer outra adversidade.
3. Preocupações Finais com o Discípulo
Parece algo desconexo, em relação às preocupações anteriores, quando solicitou objetos pessoais a Timóteo. Paulo passa de escrita sobre sua situação e necessidades, e se refere a um homem de mau caráter que lhe causara muitos problemas, e orienta Timóteo a respeito do mesmo (2 Tm 4.14,15). “Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe pague segundo as suas obras. Tu, guarda-te também dele, porque resistiu muito às nossas palavras” (2 Tm 4.14,15). Pela sua designação, “latoeiro”, esse indivíduo era um lanterneiro ou funileiro, que se tornou cristão, aparentemente, mas tornou-se inimigo de Paulo e de seu ministério.

III - A CERTEZA DA PRESENÇA DE CRISTO
1. Sozinho no Tribunal dos Homens
“Ninguém me assistiu na minha primeira defesa; antes, todos me desampararam. Que isto lhes não seja imputado” (2 Tm 4.16). De acordo com estudiosos, Paulo se referia à primeira audiência a que se fez presente, na sua segunda prisão, e não ao primeiro julgamento, do qual foi liberado, após ter ficado em prisão domiciliar, alugada por ele próprio, durante dois anos (At 28.30,31). Na situação de que trata o presente texto, Paulo se encontrava respondendo a processo judicial, e esperava o julgamento final. Esse juízo poderia demorar ainda algum tempo, como ocorreu na primeira detenção do apóstolo. Por isso, ele diz a Timóteo que volte depressa. E relata que sentiu a falta dos companheiros, naquela hora tão difícil em que se encontrava, dizendo “todos me desampararam”. Parece que Tíquico e Lucas, o “médico amado” não se encontravam na cidade, quando Paulo compareceu àquela audiência. Mas Paulo não era murmurador, nem guardou mágoa dos amigos ausentes. Pelo contrário, demonstrou que os perdoara, pedindo a Deus “Que isto lhes não seja imputado”.
2. Sentindo a Presença de Cristo
“Mas o Senhor assistiu-me e fortaleceu-me, para que, por mim, fosse cumprida a pregação e todos os gentios a ouvissem; e fiquei livre da boca do leão” (2 Tm 4.17). Na carta, Paulo declara que, não obstante ter sentido a falta dos irmãos e amigos, sentiu de perto a gloriosa presença de Deus. E acentua que Cristo, seu Senhor, lhe concedeu duas grandes bênçãos, naquela circunstância tão desconfortante. Primeiro, o assistiu. Ele não tinha advogado humano; respondeu sozinho as acusações injustas contra sua pessoa, fazendo sua própria defesa; mas o Senhor estava ao seu lado.
A segunda grande coisa que o Senhor proporcionou foi o fortalecimento do seu espírito, dando-lhe energia e ânimo para enfrentar não só o julgamento injusto, mas a própria morte, que se aproximava. Em terceiro lugar, Paulo diz que por ele fosse “cumprida a pregação e todos os gentios a ouvissem”, indicando que, de alguma forma, antes da sua morte, os gentios haveriam de ouvir a mensagem do evangelho. Há quem diga que ele se referia ao primeiro encarceramento, do qual fora liberto. E continuou a pregar o evangelho. Em seguida, ele diz: “e fiquei livre da boca do leão”. Há dificuldades de entendimento quanto a essa expressão.
Teria sido Paulo mais uma vez liberto da prisão, após o segundo julgamento? Teria sido ele inocentado e solto? Estudiosos das epístolas pastorais entendem que, em sua própria defesa, Paulo proclamou sua fé em Cristo, perante as autoridades e assistentes do júri. E que, dizendo que ficou “livre da boca do leão”, refere-se à sua libertação espiritual, de Nero, o imperador sanguinário, ou de Satanás, ainda que passando pelo “vale da sombra da morte” (SI 23.4). Tal entendimento se fortalece quando recordamos seu brado de vitória: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé” (2 Tm 4.7).
3. Palavras e Saudações Finais
“E o Senhor me livrará de toda má obra e guardar-me-á para o seu Reino celestial; a quem seja glória para todo o sempre. Amém!” (2 Tm 4.18). Vencendo as lutas do combate da fé, acabando a carreira que lhe foi proposta e guardando sua fé em Cristo, Paulo sentia-se liberto para sempre de “toda má obra”, e sentia-se guardado “para o seu Reino celestial” (de Cristo), a quem dá “glória para todo o sempre, amém”.
Paulo, com o ânimo fortalecido pelo Senhor, encontra forças para mandar saudações a seis amigos (2 Tm 4.19,20); lembra-se de Erasto, que ficou em Corinto, e do amigo Trófimo, que ficou doente em Mileto. E pede que Timóteo procure chegar a Roma antes do inverno, naturalmente, levando a sua capa, que deixara na casa de Carpo (2 Tm 4.21). E, de modo elegante, envia saudação em nome de “Eubulo, e Pudente, e Lino, e Cláudia, e todos os irmãos” que saudavam Timóteo. Isso mostra o quanto ele estava tranquilo, aguardando a vontade de Deus sobre sua vida e o fim do seu ministério. E conclui, saudando seu jovem discípulo, dizendo: “O Senhor Jesus Cristo seja com o teu espírito. A graça seja convosco. Amém!” (2 Tm 4.22).

CONCLUSÃO


Os últimos trechos da segunda carta de Paulo a Timóteo demonstram que um servo de Deus que se pauta pela obediência ao Senhor, vivendo em santidade, e fazendo a vontade divina, não se desespera, mesmo ante a iminência do dia final. Noutra carta, Paulo diz: “Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte” (1 Co 15.26), referindo-se à vitória de Cristo sobre todos os poderes e forças contrárias à vida do crente fiel. Ele tinha consciência de que a morte física aniquilava apenas o corpo, mas seu espírito e sua alma (o homem interior — 2 Co 4.16) estavam guardados em Cristo Jesus.