A Morte, o Estado Intermediário e a Glorificação
• Qual é o propósito da morte na vida cristã?
• Que acontece ao corpo e à alma quando morremos?
• Quando receberemos o corpo ressurreto?
• Como ele será?
1. EXPLICAÇÃO E BASE BÍBLICA
A. Morte: Por que os
cristãos morrem?
Nosso estudo da aplicação da redenção
deve incluir uma consideração da morte e da questão de como os cristãos devem
ver a própria morte e a morte dos outros. Devemos também perguntar sobre o que
nos acontece entre o tempo que morremos e o tempo em que Cristo vai retornar
para nos dar corpos ressurretos.
1. A morte não é uma punição para os cristãos.
Paulo diz-nos claramente que “agora, já
não há condenação para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). Todas as
penalidades dos nossos pecados já foram pagas. Assim, muito embora saibamos que
os cristãos morrem, não devemos considerara morte dos cristãos uma punição de
Deus ou de alguma forma um resultado da penalidade devida a nós por causa dos
nossos pecados. É verdade que a penalidade pelo pecado é a morte, mas essa
penalidade não mais se aplica a nós — nem em termos de morte física nem em
termos de morte espiritual ou separação de Deus. Tudo isso foi pago por Cristo.
Portanto, deve haver outra razão que não a punição de nossos pecados para a
morte que os cristãos enfrentam.
[Nota de Hélio: o parágrafo acima tem graves erros. Em primeiro lugar, o
que a única Bíblia verdadeira (em qualquer idioma, aquela mais fielmente
traduzida a partir do Textus Receptus, e que foi usada por todos crentes de
todas as igrejas batistas e reformadas de todas as nações, desde Lutero 1922
até recentemente) diz é “Portanto, agora nenhuma condenação há
para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas
segundo o Espírito.” (ACF) Há, sim, condenação (quanto à
comunhão, correção, galardão, o ser usado por Deus, etc.; não quanto à salvação
eterna) para o salvo que andar segundo a carne (Compare At 5:1-10; 1Co 3:12,15;
5:9-10; Gl 5:16-18; 1João 3:20-21; 5:16)! Em segundo lugar, há, sim, condenação
de morte física (não de perca de salvação) para certas condições de crentes
que, aos olhos de Deus, são grosseiramente pecaminosas e teimosamente rebeldes,
ver 1Cor 5:5 “Seja entregue a Satanás para destruição
da CARNE, para que o espírito seja salvo no dia do SENHOR Jesus.” (ACF) e 1Co 11:30 “Por causa disto há entre vós muitos
fracos e doentes, e muitos que DORMEM.” (ACF)]
2. A morte é o resultado final da vida no mundo decaído.
Em sua grande sabedoria, Deus decidiu que não nos aplicaria os
benefícios da obra redentora de Cristo de uma só vez. Antes ele escolheu
aplicar os benefícios da salvação de modo gradual em nossa existência.
Semelhantemente, ele resolveu não remover todo o mal do mundo de imediato, mas
esperar até o juízo final e o estabelecimento do novo céu e da nova terra. Em
resumo, ainda vivemos em um mundo decaído e nossa experiência de salvação é
ainda incompleta.
O último aspecto do mundo decaído a ser removido será a morte. Paulo
diz: “24
Depois virá o fim, quando tiver entregado o reino a Deus, ao Pai, e quando
houver aniquilado todo o império, e toda a potestade e força. 25 Porque convém
que reine até que haja posto a todos os inimigos debaixo de seus pés. 26 Ora, o
último inimigo que há de ser aniquilado é a morte.” (1Co 15:23-26 ACF) Quando Cristo retornar, então se cumprirá a palavra
que está escrita: “A morte foi destruída pela vitória”. “Onde está, á morte, a
sua vitória? Onde está, á morte, o seu aguilhão?” (lCo 15.54,55). Mas até
aquele tempo a morte vai permanecer uma realidade mesmo na vida dos cristãos.
Embora a morte não nos venha como penalidade pelos nossos pecados individuais
(porque isso foi pago por Cristo) [Nota de Hélio: quanto à salvação ou
perdição eternas, o salvo jamais será julgado por nenhum pecado que,
infelizmente, venha a cometer, pois Cristo os levou todos vicariamente sobre
Si, ao morrer em nosso lugar, como nosso substituto. Mas, quanto à disciplina,
comunhão e usabilidade, o salvo pode ser julgado de vários modos, até ao ponto
da morte física 1Co 5:5; 11:30] , ela vem como resultado de
vivermos no mundo decaído, onde os efeitos do pecado não foram ainda removidos.
Ligados à experiência da morte estão outros resultados da queda que prejudicam
nosso corpo físico e assinalam a presença da morte no mundo — tanto os cristãos
como os não-cristãos experimentam o envelhecimento, as doenças, os prejuízos,
os desastres naturais (como as enchentes, tempestades violentas e terremotos)
[Nota de Hélio: e desastres provocados pelo homem, ainda caído (guerras,
crimes, acidentes, etc.)]. Embora Deus muitas vezes responda às orações para
libertar cristãos (e também não-cristãos) de alguns desses efeitos da queda por
certo tempo (indicando assim a natureza do seu Reino que se aproxima), os
cristãos acabam experimentando todas essas coisas em alguma medida, e, até que
Cristo retorne, todos nós ficaremos velhos e morreremos. O “último inimigo”
ainda não foi destruído. E Deus resolveu permitir que experimentássemos a morte
antes de ganharmos todos os benefícios da salvação que foi conquistada para
nós.
3. Deus usa a experiência da morte para completar nossa santificação.
Durante toda a nossa jornada na vida cristã, sabemos que nunca temos de
pagar qualquer penalidade pelo pecado, pois tudo foi pago por Cristo (Rm
8.1) [Nota de Hélio: quanto à salvação ou perdição
eternas, o salvo jamais será julgado por nenhum pecado que, infelizmente, venha
a cometer, pois Cristo os levou todos vicariamente sobre Si, ao morrer em nosso
lugar, como nosso substituto. Mas, quanto à disciplina, comunhão e usabilidade,
o salvo pode ser julgado de vários modos, até ao ponto da morte física
1Co 5:5; 11:30]. Portanto, quando realmente experimentamos
dor e sofrimento nesta vida, não devemos nunca pensar que é porque Deus nos
esteja punindo (para o nosso mal) . As vezes o sofrimento é simplesmente
resultado da vida o no mundo pecaminoso e decaído e às vezes é porque Deus nos
está disciplinando (para o nosso bem), mas em todo o caso Paulo nos assegura:
“Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos
que foram chamados de acordo com o seu propósito” (Rm 8.28).
O propósito positivo de Deus nos disciplinar está claramente afirmado em
Hebreus 12 , onde lemos: “pois o Senhor disciplina a quem ama [...] Deus nos
disciplina para o nosso bem, para que participemos da sua santidade. Nenhuma
disciplina parece ser motivo de alegria no momento, mas sim de tristeza. Mais
tarde, porém, produz fruto de justiça e paz para aqueles que por ela foram
exercitados”(Hb 12.6,10,11). Nem toda disciplina serve para nos corrigir quando
cometemos pecados; Deus pode permiti-la para o nosso fortalecimento, a fim de
que possamos ganhar mais capacidade de confiar nele e de resistir ao pecado no
desafiador caminho da obediência. Vemos isso claramente na vida de Jesus, que,
mesmo sendo sem pecado, todavia “ aprendeu a obedecer por meio daquilo que
sofreu” (Hb 5.8). Ele foi aperfeiçoado “mediante o sofrimento” (Hb 2.10).
Portanto, devemos ver toda fadiga e sofrimento que nos acontece na vida como
algo que Deus nos traz para o nosso bem, para o fortalecimento de nossa
confiança nele, para nossa obediência a ele e, em última instância, para
aumentar nossa capacidade de glorificá-lo.
O entendimento de que a morte não é de modo algum a punição pelo pecado
[Nota de, mas simplesmente algo que Deus nos faz passar a fim de tornar-nos
mais parecidos com Cristo, deve servir de grande encorajamento para nós. Esse
entendimento deve retirar de nós todo o temor da morte que assalta a mente dos
crentes (cf.Hb 2.15). Todavia, embora Deus venha anos fazer um bem por meio do
processo da morte, devemos ainda lembrar que a morte não é natural, não é uma
coisa boa e, no mundo criado por Deus, ela é algo que não deveria existir. Ela
é uma inimiga — algo que Cristo finalmente vai destruir (1Co 15.26).
4. Nossa obediência a Deus é mais importante que preservar a vida.
Se Deus usa a experiência da morte para aprofundar a confiança nele e
para fortalecer nossa obediência a ele, então é importante que nos lembremos de
que o alvo de preservar a vida neste mundo a qualquer custo não é o alvo maior
para o cristão: a obediência a Deus e a fidelidade a ele em todas as
circunstâncias são coisas muito mais importantes. Essa é a razão pela qual
Paulo pôde dizer:
“Estou pronto não apenas para ser amarrado, mas também para morrer em
Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus” (At 21.13; cf. 25.11). Ele disse aos
presbíteros de Éfeso: “Todavia, não me importo, nem considero a minha vida de
valor algum para mim mesmo, se tão-somente puder terminar a corrida e completar
o ministério que o Senhor Jesus me confiou, de testemunhar do evangelho da
graça de Deus” (At 20.24). Quando Paulo estava em prisão, não sabendo se
morreria ali ou se sairia vivo, ainda pôde dizer: “Aguardo ansiosamente e
espero que em nada serei envergonhado. Ao contrário, com toda a determinação de
sempre, também agora Cristo serei engrandecido em meu corpo, quer pela vida,
quer pela morte” (Fp 1.20).
A persuasão de que podemos honrar ao Senhor mesmo na morte e de que a
fidelidade a ele é muito mais importante que preservar nossa vida deu coragem e
motivação aos mártires no decorrer de toda a história da igreja. Quando
confrontados com a escolha entre preservar a própria vida e pecar ou abrir mão
da própria vida e ser fiel, escolhiam abrir mão da própria vida: “diante da
morte, não amaram a própria vida” (Ap 12.11). Mesmo em tempos em que há pouca
perseguição e pouca coisa semelhante ao martírio, seria bom fixarmos essa
verdade em nossa mente de uma vez por todas, pois, se desejarmos abrir mão até
mesmo de nossa vida por fidelidade a Deus, veremos que é muito mais fácil abrir
mão de qualquer outra coisa por causa de Cristo.
B. O que devemos pensar
sobre nossa morte e a morte dos outros?
1. Nossa própria morte.
O NT nos encoraja a ver a própria morte não com temor, mas com alegria pela
perspectiva de partir e estar com Cristo. Paulo diz: “Temos, pois, confiança e
preferimos estar ausentes do corpo e habitar com o Senhor” (2Co 5.8). Quando
está na prisão, não sabendo se seria executado ou se seria solto, ele pode
dizer: “porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro. Caso continue
vivendo no corpo, terei fruto do meu trabalho. E já não sei o que escolher!
Estou pressionado dos dois lados: desejo partir e estar com Cristo, o que é
muito melhor” (Fp 1.21-23).
Também lemos as palavras de João no Apocalipse: “Então ouvi uma voz dos céus
dizendo: ‘Escreva: Felizes os mortos que morrem no Senhor de agora em diante'.
Diz o Espírito: ‘Sim, eles descansarão das suas fadigas, pois as suas obras os
seguirão” (Ap 14.13).
Os crentes, portanto, não precisam ter medo de morrer, porque a Escritura nos
assegura de que nem mesmo a morte “será capaz de nos separar do amor de Deus
que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8.39; cf. Sl 23.4). De fato, Jesus
morreu para libertar “aqueles que durante toda a vida estiveram escravizados
pelo medo da morte” (Hb 2.15). Esse versículo nos lembra de que, quando falamos
de maneira clara sobre nossa ausência de temor da morte, isso proporciona um
forte testemunho para pessoas idosas que tentam evitar falar sobre a morte e
que não possuem nenhuma resposta para ela.
2. A morte de parentes e amigos cristãos.
Embora aguardemos o tempo de nossa própria morte com a expectativa
alegre de estar na presença de Cristo, nossa atitude será um tanto diferente
quando experimentarmos a morte de amigos crentes e parentes. Nesses casos,
experimentaremos a tristeza genuína — mas mesclada com alegria porque eles
foram estar com o Senhor.
Não é errado expressar a tristeza real pela perda da comunhão com os
nossos amados que morrem e também tristeza pelo sofrimento e angústia que eles
possam ter experimentado antes de morrer. Às vezes os cristãos pensam que
mostram falta de fé se lamentam profundamente por um irmão na fé que morreu.
Mas a Escritura não dá apoio a essa idéia, porque, quando Estêvão foi
apedrejado, lemos : “Alguns homens piedosos sepultaram Estêvão e fizeram por
ele grande lamentação” (At 8.2). Certamente não houve nenhuma falta de fé por
parte de ninguém pelo fato de Estêvão estar no céu experimentando grande
alegria na presença do Senhor. Todavia, a tristeza daqueles homens piedosos
mostrou o genuíno pesar que sentiram com a perda da comunhão de quem amavam, e
não foi errado expressá-la — foi correto! Mesmo Jesus, diante da tumba de
Lázaro, “chorou” (Jo 11.35), experimentando tristeza pelo fato de Lázaro ter
morrido e por suas irmãs e outras pessoas estarem experimentando tristeza, bem
como também, sem dúvida, pelo fato de que havia morte no mundo, pois, em última
instância, a morte é antinatural e não deveria estar no mundo criado por Deus.
Não obstante, a tristeza que sentimos pela morte de nossos queridos está
claramente misturada com esperança e alegria. Paulo não diz aos tessalonicenses
que eles não deveriam de forma alguma sentir aflição por causa dos seus amados
que haviam morrido, mas ele escreve:
“Irmãos, não queremos que vocês sejam ignorantes quanto aos que dormem,
para que não se entristeçam como os outros que não têm esperança” (lTs 4.13).
Eles não deviam se entristecer do mesmo modo, com o mesmo desespero amargo,
como acontece com os descrentes. Mas certamente eles se entristeceriam. Ele
lhes assegura que Cristo “morreu por nós para que, quer estejamos acordados
quer dormindo, vivamos unidos a ele” (lTs 5.10) e, desse modo, ele os encoraja
dizendo que os que morrem vão estar com o Senhor. Essa é a razão por que a
Escritura pode dizer: “Felizes os mortos que morrem no Senhor [...] eles
descansarão das suas fadigas, pois as suas obras os seguirão” (Ap 14.13). De
fato, a Escritura mesmo nos diz: “O SENHOR vê com pesar a morte de seus fiéis”
(S1 116.15).
Portanto, embora tenhamos genuína tristeza quando amigos e parentes
cristãos morrem, podemos dizer com a Escritura: “‘Onde está, á morte, a sua
vitória? Onde está, ó morte, o seu aguilhão?' [...] Mas graças a Deus, que nos
dá a vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo (lCo 15.55,57). Ainda que
choremos, nosso choro deve ser misturado com adoração a Deus e ações de graças
pela vida dos queridos que morreram.
3. A morte dos descrentes.
Quando os descrentes morrem, a dor que sentimos não está misturada com a
alegria da segurança de que eles foram estar com o Senhor para sempre. Essa
dor, especialmente em relação àqueles com quem estivemos bastante ligados, é
muito profunda e real. Paulo, ao pensar a respeito de alguns de seus irmãos
judeus que haviam rejeitado Cristo, disse: “Digo a verdade em Cristo, não
minto; minha consciência o confirma no Espírito Santo: tenho grande tristeza e
constante angústia em meu coração. Pois eu até desejaria ser amaldiçoado e
separado de Cristo por amor de meus irmãos, os de minha raça” (Rm 9.1-3).
Deve ser dito ainda que muitas vezes não temos certeza absoluta de que
uma pessoa persistiu ate a morte em sua rejeição a Cristo. O conhecimento da
morte iminente que uma pessoa tem vai com freqüência produzir uma sondagem
genuína do coração por parte da pessoa que está à morte, e às vezes as palavras
da Escritura ou palavras de testemunho cristão que foram ouvidas muito tempo
atrás serão lembradas, podendo levar ao arrependimento e fé genuínos.
Certamente não temos qualquer certeza de que isso aconteceu a menos que haja
uma evidência explícita disso, mas também é salutar perceber que em muitos
casos temos um conhecimento provável, mas não absoluto de que aqueles a quem
conhecemos como descrentes persistiram em sua incredulidade até a morte. Em
alguns casos simplesmente não sabemos.
Não obstante, após a morte de um não-cristão certamente seria errado
fornecer qualquer indicação a outros de que pensamos que tal pessoa foi para o
céu. Isso seria simplesmente fornecer uma informação errônea e uma segurança
falsa e diminuiria a urgência da necessidade dos que ainda estão vivos de
confiar em Cristo. É muito melhor, em tais ocasiões, à medida que Deus
proporciona oportunidade, gastar tempo para refletir sobre nossa vida e nosso destino
e ainda partilhar o evangelho com outras. De fato, as ocasiões em que somos
capazes de falar como amigos aos amados de um descrente que morreu são muitas
vezes as oportunidades que o Senhor abre para falarmos a respeito do evangelho
com os que ainda estão vivos.
C.
O que acontece quando as pessoas morrem?
1. A alma dos crentes vai imediatamente para a presença de Deus.
A morte é a cessação temporária da vida corporal e a separação entre a alma e o
corpo. Uma vez que o crente morre, embora o seu corpo físico permaneça na terra
sepultado, no momento da morte sua alma (ou espírito) vai imediatamente para a
presença de Deus com regozijo. Quando Paulo reflete sobre a morte, ele diz:
“Temos, pois, confiança e preferimos estar ausentes do corpo e habitar com o
Senhor” (2Co 5.8). Estar ausente do corpo é estar em casa com o Senhor. Ele
também diz que o seu desejo é “partir e estar com Cristo, o que é muito melhor”
(Fp 1.23). Jesus disse ao ladrão que estava à sua direita: “Hoje você estará
comigo no paraíso” (Lc 2 3.43). O autor de Hebreus diz que, quando os cristãos
comparecem para adorar juntos, eles vêm não somente à presença de Deus no céu,
mas também à presença dos “espíritos dos justos aperfeiçoados” (Hb 12.23).
Contudo, como veremos em mais detalhes a seguir, Deus não vai deixar o corpo
para sempre na sepultura, pois, quando Cristo retornar, a alma dos crentes será
reunida ao corpo, o corpo será ressuscitado dentre os mortos e os crentes
viverão com Cristo eternamente.
a. A Bíblia não ensina a doutrina do purgatório.
O fato de que a alma dos crentes vai imediatamente para a presença de
Deus significa que não há nada semelhante a purgatório.
No ensino da Igreja Católica Romana, o purgatório é o lugar para onde a
alma dos crentes vai a fim de ser purificada do pecado, até que esteja pronta
para ser admitida no céu. De acordo com esse pensamento os sofrimentos do
purgatório são dados por Deus em substituição à punição dos pecados que os
crentes deveriam ter recebido nesta vida, mas não receberam.
Mas essa doutrina não é ensinada na Escritura, e é de fato contrária aos
versículos citados anteriormente.A Igreja Católica Romana retirou o apoio para
essa doutrina não das páginas das Escrituras canônicas que os protestantes
aceitaram desde a Reforma, mas nos escritos apócrifos. Antes de tudo, deve ser
dito que essa literatura não é igual à Escritura em autoridade e não deve ser
tomada como fonte de doutrina cheia de autoridade. Além disso, os textos dos
quais essa doutrina é derivada contradizem afirmações claras do NT e, assim, se
opõem ao ensino da Escritura. Por exemplo, o texto primário usado nesse sentido
, 2Macabeus 12.42-45, contradiz as afirmações claras da Escritura citadas
anteriormente a respeito de partir para estar com Cristo. O texto diz o
seguinte: [Depois, tendo organizado uma coleta individual, Judas Macabeus, o
líder das forças judaicas] enviou a Jerusalém cerca de duas mil dracmas de
prata, a fim de que se oferecesse um sacrifício pelo pecado: agiu assim
absolutamente bem e nobremente, com o pensamento na ressurreição. De fato, se
ele não esperasse que os que haviam sucumbido iriam ressuscitar, seria
supérfluo e tolo rezar pelos mortos. Mas, se considerava que uma belíssima
recompensa está reservada para os que adormecem na piedade, então era santo e
piedoso o seu modo de pensar. Eis por que ele mandou oferecer esse sacrifício
expiatório pelos que haviam morrido, afim de que fossem absolvidos do seu
pecado.
Aqui fica claro que tanto a oração pelos mortos como fazer uma oferta a
Deus para libertar os mortos de seus pecados são práticas aprovadas. Mas isso
contradiz o ensino explícito do NT de que somente Cristo fez expiação por nós.
Essa passagem em 2Macabeus é difícil de enquadrar mesmo com o ensino católico
romano, porque ele ensina que orações e sacrifícios deviam ser oferecidos pelos
soldados que haviam morrido no pecado mortal da idolatria (que não pode ser
perdoado, segundo o ensino de Roma) para possibilitar que eles viessem a ser
libertos de seu sofrimento.
Outras passagens às vezes usadas para dar suporte à doutrina do
purgatório são Mateus 12.32 e 1 Coríntios 3.15. Em Mateus 12.32, Jesus diz:
“Todo aquele que disser uma palavra contra o Filho do homem será perdoado, mas
quem falar contra o Espírito Santo não será perdoado, nem nesta era nem na que
há de vir”. Ludwig Ott comenta que essa frase “deixa aberta a possibilidade de
que pecados são perdoados não somente neste mundo, mas no mundo por vir” .
Contudo, isso simplesmente é um erro de raciocínio, pois dizer que alguma coisa
não acontecerá na era por vir não implica que possa acontecer na era por vir! O
que é necessário para provar a doutrina do purgatório não é uma afirmação
negativa como essa, mas uma afirmação positiva que diga que pessoas sofrem com
o propósito de ser continuamente aperfeiçoadas até morrerem. Mas a Escritura
não diz isso em lugar algum.
Em 1 Coríntios 3.15 Paulo diz que, no diz do julgamento, a obra que uma
pessoa fez será julgada e testada pelo fogo, e então conclui: “Se o que alguém
construiu se queimar, esse sofrerá prejuízo; contudo, será salvo como alguém
que escapa através do fogo”. Mas isso não é o mesmo que falar de uma pessoa
sendo queimada ou sofrendo punição, mas simplesmente de sua obra sendo testada
pelo fogo — o que é bom será igual ao ouro, prata e pedras preciosas, que vão
durar para sempre (v. 12). Além disso, o próprio Ott admite que esse fato
ocorre não durante esta era, mas durante o dia do “julgamento geral” , o que
indica que dificilmente esse texto pode ser usado como argumento convincente
para o purgatório.
Um problema ainda mais sério com essa doutrina é que ela ensina que
devemos acrescentar alguma coisa à obra redentora de Cristo e que a sua obra
redentora por nós não foi suficiente para pagar a penalidade de todos os nossos
pecados. Mas isso é certamente contrário ao ensino da Escritura. Além disso, em
sentido pastoral, a doutrina do purgatório rouba dos crentes o grande conforto
que lhes deveria pertencer por saber que os que morreram foram imediatamente
para a presença do Senhor e por saber que eles também, quando morrerem,
partirão e estarão “com Cristo, o que é muito melhor” (Fp 1.23).
b. A Bíblia não ensina a doutrina do “sono da alma”.
O fato de que a alma dos crentes vai imediatamente para a presença de
Deus também significa que a doutrina do sono da alma é incorreta. Essa doutrina
ensina que, quando morrem, os crentes entram no estado de existência
inconsciente, e a próxima coisa de que terão consciência será quando Cristo
retornar e os ressuscitar para a vida eterna. Essa doutrina nunca encontrou
grande aceitação na igreja.
O suporte para esse pensamento tem sido geralmente encontrado no fato de
que a Escritura diversas vezes fala do estado dos mortos como de um sono ou de
“adormecer” (Mt 9.24; 27.52; Jo 11.11; At 7.60; 13.36; lCo 15.6,18,20,51; lTs
4.13; 5. l0). Além disso, certas passagens parecem ensinar que os mortos não
possuem existência consciente (v. Sl 6.5; 115.17 [mas repare no v. 18!] ; Ec
9.10; Is 38.19) . Porém, quando a Escritura apresenta a morte como sono,
trata-se simplesmente de uma expressão metafórica usada para indicar que a
morte é somente temporária para os cristãos, exatamente como o sono é
temporário. Isso é claramente visto, por exemplo, quando Jesus fala com seus
discípulos a respeito da morte de Lázaro. Ele diz: “Nosso amigo Lázaro
adormeceu, mas vou até lá para acordá-lo” (Jo 11.11). Então João explica:
“Jesus tinha falado de sua [de Lázaro] morte, mas os seus discípulos pensaram
que ele estava falando simplesmente do sono. Então lhes disse claramente:
‘Lázaro morreu”'(Jo 11.13,14). As outras passagens que falam a respeito de
pessoas dormindo quando morrem devem ser também interpretadas como simplesmente
uma expressão metafórica para ensinar que a morte é temporária.
Com respeito às passagens que indicam que os mortos não louvam a Deus ou
que há uma cessação de atividade consciente quando as pessoas morrem, devem ser
todas entendidas da perspectiva da vida neste mundo. De nossa perspectiva,
parece que, uma vez que as pessoas morrem, elas não se dedicam nunca mais a
essas atividades... Mas o salmo 115 apresenta uma perspectiva plenamente
bíblica desse ponto de vista. Ele diz: “Os mortos não louvam o SENHOR, tampouco
nenhum dos que descem ao silêncio”(v. 17). Todavia, ele prossegue no próximo
versículo com um contraste, demonstrando que os que crêem em Deus bendirão o
Senhor para sempre: “ Mas nós bendiremos O SENHOR, desde agora e para sempre!
Aleluia!” (v. 18).
Em última análise, as passagens citadas demonstrando que a alma dos
crentes vai imediatamente para a presença de Deus e desfruta comunhão com ele
ali (2Co 5.8; Fp 1.23; Lc 23.43; Hb 12.23) indicam, todas elas, que há para o
crente existência consciente e comunhão com Deus imediatamente após a morte.
Jesus não disse: “Hoje você não terá mais consciência de qualquer coisa que
está por acontecer”, e sim: “Hoje você estará comigo no paraíso” (Lc 23.43).
Certamente a concepção de paraíso entendida naquela época não era a de
existência inconsciente, mas de grande bênção e alegria na presença de Deus.
Paulo não diz: “Desejo partir e ficar inconsciente por um longo período de
tempo”, mas antes “desejo partir e estar com Cristo” (Fp 1.23). Ele certamente
sabia que Cristo não estava inconsciente, o Salvador adormecido, mas o Salvador
que estava vivo e reinando no céu. Estar com Cristo significava desfrutar a
bênção da comunhão da sua presença, e essa é a razão por que partir e estar com
Cristo era “muito melhor” (Fp 1.23). Assim, ele diz: “Temos, pois, confiança e
preferimos estar ausentes do corpo e habitar com o Senhor” (2Co 5.8).
c. Devemos orar pelos mortos?
Finalmente, o fato de que a alma dos crentes vai imediatamente para a
presença de Deus significa que nós não devemos orar pelos mortos. Embora a
oração pelos mortos seja ensinada em 2Macabeus 12.42-45 (v. anteriormente), em
lugar algum da Escritura isso é ensinado.Além disso, não há indicação alguma de
que essa tenha sido a prática dos cristãos no tempo do NT, nem deveria ter
sido. Uma vez que os crentes morrem, entram na presença de Deus e ficam no
estado de alegria perfeita com ele. Que bom não ter de orar por eles nunca
mais! A recompensa celeste final será baseada em atos praticados nesta vida,
como a Escritura repetidamente testifica (1 Co 3.12-15; 2Co 5.10; ect.) .
Ademais, a alma dos descrentes que morrem vai para o lugar de punição e de
eterna separação da presença de Deus. Não seria bom orar por eles também, visto
que o destino final deles é estabelecido por seus pecados e por sua rebelião
[Em outros dois usos do NT, a palavra paraíso significa ”céu”. Em 2Coríntios
12.4 é o lugar ao qual Paulo foi arrebatado em sua revelação do céu, e em
Apocalipse 2.7 é o lugar onde encontramos a árvore da vida.] contra Deus nesta
vida. Orar pelos mortos, portanto, é simplesmente orar por algo que Deus nos
disse que já foi decidido. Além disso, ensinar que devemos orar pelos mortos ou
incentivar outros a fazer isso seria encorajar a falsa esperança de que o
destino das pessoas pode ser mudado após a morte delas, algo que a Escritura
não nos orienta a fazer em lugar algum.
2. A alma dos descrentes vai imediatamente para a punição eterna.
A Escritura nunca nos encoraja a pensar que as pessoas terão outra
oportunidade de confiar em Cristo após a morte. De fato, trata-se exatamente do
contrário. A parábola de Jesus a respeito do rico e de Lázaro não dá esperança
alguma de que as pessoas possam passar do inferno para o céu após terem
morrido. Embora o rico no inferno tivesse gritado : “Pai Abraão, tem
misericórdia de mim e manda que Lázaro molhe a ponta do dedo na água e
refresque a minha língua, porque estou sofrendo muito neste fogo”, Abraão lhe
respondeu: “entre vocês e nós há um grande abismo, de forma que os que desejam
passar do nosso lado para o seu, ou do seu lado para o nosso, não conseguem”(Lc
16.24-26).
O livro de Hebreus associa a morte com a conseqüência do julgamento em
uma seqüência imediata: “Da mesma forma, como o homem está destinado a morrer
uma só vez e depois disso enfrentar o juízo” (Hb 9.27). Além disso, a Escritura
nunca apresenta o juízo final como dependente de qualquer coisa feita após a
nossa morte, mas dependendo somente do que aconteceu nesta vida (Mt 25.31-46;
Rm 2.5-10; cf. 2Co 5. 10) . Alguns argumentam a favor de outra oportunidade
para se crer no evangelho com base na pregação de Cristo aos espíritos em
prisão em 1 Pedro 3.18-20 e na pregação do evangelho “a mortos” em 1 Pedro 4.6
, mas essas são interpretações inadequadas dos versículos em questão e, numa
análise mais precisa, não dão apoio a tal pensamento.
Devemos também perceber que a idéia de que haverá outra oportunidade de
aceitar Cristo após a morte é baseada na suposição de que cada pessoa merece
uma oportunidade para aceitar Cristo e que a punição eterna vem aos que
conscientemente decidem rejeitá-lo. Mas certamente essa idéia não tem o apoio
da Escritura; todos nós somos pecadores por natureza e escolha, e realmente
ninguém merece nenhuma graça de Deus nem nenhuma oportunidade de ouvir o
evangelho de Cristo — que vêm ao homem somente por causa do favor imerecido de Deus.
A condenação vem não somente por causa da rejeição deliberada de Cristo, mas
também por causa dos pecados que todos cometemos e da rebelião contra Deus que
esses pecados representam (v. Jo 3.18)
Embora os descrentes passem para o estado de punição eterna
imediatamente após a morte, o corpo deles não será ressuscitado até o dia do
juízo. Naquele dia, o corpo de cada um será ressuscitado e reunido à alma, e
comparecerão perante o trono de Deus para o juízo final que vai ser pronunciado
sobre eles, incluindo o corpo (v. Mt 25.31-46; Jo 5.28,29; At 24.15; Ap 20.12,1
5) . Isso nos conduz à consideração da ressurreição do corpo do crente, que é o
passo final de sua redenção.
D. Glorificação
Como foi mencionado anteriormente, Deus não deixará nosso corpo morto na
sepultura para sempre. Quando Cristo nos redimiu, ele não redimiu apenas nosso
espírito (ou alma) — ele nos redimiu como pessoas completas, e isso inclui a
redenção de nosso corpo. Portanto, a aplicação da obra redentora de Cristo a
nós não será completa até que nosso corpo seja inteiramente liberto dos efeitos
da queda e trazido ao estado de perfeição para o qual Deus o criou. De fato, a
redenção de nosso corpo ocorrerá somente quando Cristo retornar e ressuscitá-lo
dentre os mortos. Mas, no tempo presente, Paulo diz que esperamos pela
“redenção do nosso corpo” e então acrescenta: “Pois nessa esperança fomos
salvos” (Rm 8.23,24). O estágio da aplicação da redenção em que receberemos por
fim o corpo ressuscitado é chamado de glorificação. Referindo-se àquele dia
futuro, Paulo diz que participaremos da glória de Cristo (cf. Rm 8.17) . Além
disso, quando Paulo traça os passos na aplicação da redenção, o último que
menciona é a glorificação: “E aos que predestinou, também chamou; aos que
chamou, também justificou; aos que justificou, também glorificou” (Rm 8.30).
Podemos definir glorificação da seguinte maneira: A glorificação é o passo
final na aplicação da redenção. Ela acontecerá quando Cristo retornar e
ressuscitar dentre os mortos os corpos de todos os crentes de todas as épocas
que morreram e reuni-los às respectivas almas, e mudar os corpos de todos os
crentes que permanecerem vivos, dando assim a todos os crentes ao mesmo tempo
um corpo ressuscitado perfeito igual ao seu.
1. Razão bíblica apresentada para a glorificação.
A passagem mais importante do NT para a glorificação ou ressurreição do
corpo é lCoríntios 15.12-58. Paulo diz : [...] em Cristo todos serão
vivificados . Mas cada um por sua vez: Cristo, o primeiro; depois, quando ele
vier, os que lhe pertencem (v. 22,23). Paulo discute a natureza da ressurreição
do corpo em alguns detalhes nos versículos 35-50 , e a seguir conclui a
passagem dizendo que nem todos os cristãos morrerão, mas alguns que
permanecerem vivos quando Cristo retornar simplesmente terão seu corpo
instantaneamente transformado em um novo corpo ressurreto, que nunca irá
envelhecer, enfraquecer ou morrer: “Eis que eu lhes digo um mistério: Nem todos
dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de
olhos, ao som da última trombeta. Pois a trombeta soará, os mortos
ressuscitarão incorruptíveis e nós seremos transformados” (lCo 15.51,52).
Posteriormente Paulo explica em lTessalonicenses que a alma dos que
morreram e foram estar com Cristo voltará e se unirá ao corpo naquele dia, pois
Cristo a trará consigo :”Se cremos que Jesus morreu e ressurgiu, cremos também
que Deus trará, mediante Jesus e com ele, aqueles que nele dormiram” (lTs 4.14).
Mas aqui Paulo não somente afirma que Deus trará mediante Jesus os que
morreram; ele também afirma que “ os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro”
(lTs 4.16). Assim, esses crentes que morreram com Cristo também ressuscitarão
para se encontrar com ele (Paulo diz no v. 17 que “nós, os que estivermos vivos
seremos arrebatados com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos
ares”). Isso somente faz sentido se diz respeito à alma dos crentes que
partiram para a presença de Cristo e que retornam com ele, e se é o corpo deles
que é ressuscitado dentre os mortos para ser reunido à sua alma e, então,
ascender para estar com ele.
2. Com que se assemelhará o corpo ressurreto?
Se Cristo vai ressuscitar o nosso corpo dentre os mortos quando retornar
e se nosso corpo será igual ao seu corpo ressurreto (1 Co 15.20,23,49; Fp
3.21), então a que se assemelhará nosso corpo?
Usando o exemplo de lançar a semente no solo e então aguardá-la crescer
e se tornar algo muito mais maravilhoso, Paulo passa a explicar em detalhes com
o que nosso corpo será parecido: “Assim será a ressurreição dos mortos. O corpo
que é semeado é perecível e ressuscita imperecível; é semeado em desonra e
ressuscita em glória; é semeado em fraqueza e ressuscita em poder; é semeado um
corpo natural e ressuscita um corpo espiritual. [...] Assim como tivemos a
imagem do homem terreno, teremos também a imagem do homem celestial” (lCo
15.42-44,49).
Paulo primeiro afirma que nosso corpo ressuscitado será “imperecível”.
Isso significa que ele não se desgastará nem envelhecerá, nem mesmo estará
sujeito a qualquer espécie de doença ou enfermidade. Ele será completamente
sadio e forte para sempre.Além disso, já que o processo gradual de
envelhecimento é parte do processo pelo qual nosso corpo está agora sujeito à
pericibilidade, é apropriado pensar que nosso corpo ressuscitado não
apresentará qualquer sinal de envelhecimento, antes terá as características da
juventude mas ao mesmo tempo de masculinidade ou feminilidade madura para
sempre. Não haverá qualquer evidência de doença ou dano, pois todos se tornarão
perfeitos. Nosso corpo ressuscitado evidenciará o cumprimento da sabedoria
perfeita de Deus em nos criar como seres humanos que são a coroa da sua criação
e os portadores apropriados de sua imagem e semelhança. No corpo ressuscitado
claramente veremos a humanidade como Deus pretendeu que fosse.
Paulo também diz que nosso corpo será ressuscitado “em glória”. Quando
esse termo é contrastado com “desonra”, como é aqui, há uma insinuação da
beleza ou da atração que nosso corpo exercerá. Ele não mais será ”desonrável”
ou desprovido de atração, mas parecerá “glorioso” em sua beleza. Ele pode até
possuir um fulgor radiante em si mesmo (v. Dn 12.3; Mt 13.43).
Nosso corpo também será ressuscitado “em poder” (lCo 15.43). Isso
contrasta com a “fraqueza” que vemos em nosso corpo agora. Nosso corpo
ressurreto não será somente livre das doenças e do envelhecimento, também
receberá plenitude de força e poder — não um poder infinito como o de Deus,
naturalmente, e provavelmente nada que se assemelhe a um poder “super-humano”
no sentido dos super-heróis da moderna literatura de ficção para crianças, por
exemplo; mas ele terá mesmo assim a força e o poder humanos de maneira completa
e plena, a força que Deus pretendeu que os seres humanos tivessem em seu corpo
quando originariamente os criou. Portanto, ele terá força suficiente para fazer
tudo o que desejarmos e que estiver de conformidade com a vontade de Deus.
Por último, Paulo diz que o corpo ressuscitado é um “corpo espiritual”
(lCo 15.44). Nas cartas paulinas, a palavra “espiritual” (gr., pneumatikos)
nunca significa “não-físico”, e sim “consistente com o caráter e a atividade do
Espírito Santo” (v.,p.ex.,Rm 1.11; 7.14; lCo 2.13,15; 3.1; 14.37; Gl 6.1
[“vocês, que são espirituais”]; Ef 5.19). Por isso, a expressão “corpo
material” (encontrada em algumas traduções) é inadequada, pois em contraste com
“corpo espiritual”. 0 fato de o sinal dos cravos permanece nas mãos de Jesus é
um caso especial para nos fazer lembrar do preço que foi pago por nossa
redenção, não deve ser entendido que quaisquer marcas ou lesões permanecerão em
nós, daria a entender que “corpo espiritual” é um corpo não-físico, imaterial.
Em vez de “corpo material”, a tradução melhor seria “corpo natural”. A seguinte
paráfrase é esclarecedora: “É semeado um corpo natural [isto é, sujeito às
características e aos desejos desta era, dominado por sua vontade pecaminosa] e
ressuscita um corpo espiritual [isto é, integralmente sujeito à vontade do
Espírito Santo e suscetível à orientação dele] ”. Não se trata de um corpo
“não-físico”, mas de um corpo físico ressuscitado e elevado ao grau de
perfeição que originariamente Deus pretendeu que tivéssemos. Os exemplos
repetidos em que Jesus demonstrou aos discípulos que ele tinha um corpo físico
que era capaz de ser tocado, que possuía carne e OSSOS (Lc 24.39) e que poderia
comer mostram que o corpo de Jesus, que é modelo para o nosso, era claramente
um corpo físico que havia se tornado perfeito.
Para concluir, quando Cristo retornar, ele nos dará novos corpos para
que sejam iguais ao seu corpo ressurreto: “... sabemos que, quando ele se
manifestar, seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é” (lJo 3.2;
essa afirmação é verdadeira não somente no sentido ético, mas também em termos
de nosso corpo físico; cf. 1 Co 15.49; tb. Rm 8.29). Tal segurança proporciona
a afirmação clara de que a criação física de Deus é boa. Viveremos nos corpos
que terão todas as qualidades excelentes que Deus criou para que as tivéssemos
e, assim, para sempre seremos prova viva da sabedoria de Deus em fazer tudo na
criação material, desde o princípio, “muito bom” (Gn 1.31). Viveremos como
crentes ressuscitados no novo corpo,e ele será adequado para a nossa habitação
nos “novos céus e nova terra, onde habita a justiça” (2Pe 3.13).
O estado atual dos mortos
Que
os homens não entram no estado final quando morrem bastante evidentes é para
que se requeira provar minuciosa. As ressurreições, que ainda são futuras,
provam um estado intermediário para os mortos atuais. A coisa com que estamos
especialmente preocupados é a natureza do estado intermediário, matéria esta
para a qual nos dirigimos agora.
Os
adventistas do sétimo dia, russelitas e alguns outros ensinam o que é conhecido
comumente por “sono dalma”. Mas a substância real deste falso ensino é que dos
mortos não é inexistente entre a morte e a ressurreição. Isto é logicamente
verdadeiro desta teoria e é assim admitido pelos adventistas, pelo menos. É
logicamente verdadeiro, porque um espírito dormente (se tal fosse possível)
seria um espírito inexistente. A idéia de o espírito estar vivo e estar
incônscio quando livre do corpo é o limite do absurdo. É que este ensino vale
pela inexistência do espírito mostrado está nas seguintes palavras de “Signs of
the Times”, uma revista dos adventistas do sétimo dia (edição de 15 de dezembro
de 1931): “Seguramente nenhuma expressão mais vigorosa podia ser possivelmente
usada para mostrar a completa cessação da existência do que esta, – Na morte
“eu não serei” (Comentário de Jó 7:21, por Carlyle B. Haines, um dos seus escritores
notáveis)”.
I.
OS MORTOS NÃO SÃO INEXISTENTES
Contra
esta teoria afirmamos e nos comprometemos provar pelas Escrituras que o
espírito do homem não cessa de existir na morte. Pelo termo “espírito” queremos
dizer a natureza imaterial do homem no seu parentesco mais elevado. Empregamos
o termo “espírito” de preferência ao termo “alma” porque cremos que espírito
melhor expressa a parte imaterial do homem em distinção da vida corporal.
“A
parte imaterial do homem encarada como uma vida individual e cônscia, capaz de
possuir e animar um organismo físico é chamada psuche (alma); como um agente
racional e moral, suscetível de influência e moradia divinas, esta mesma parte
imaterial chama-se pneuma (espírito)” (A. H. Strong). O espírito é a natureza
imaterial do homem olhando na direção de Deus. “O espírito é a parte mais
elevada, mais profunda e nobre do homem. Por ele está o homem ajustado para
compreender coisas eternas e é, em suma, a casa que residem à fé e a Palavra de
Deus. A … alma é este espírito, segundo a natureza, mas com tudo outra espécie
de atividade, nomeadamente, nisto, que ela anima o corpo e opera por meio dele”
(Lutero). “A alma é o espírito modificado pela união com o corpo” (Hovey).
Algumas
vezes as palavras para espírito, tanto no hebreu como no grego, denotam vento
ou fôlego, mas que nem sempre são assim está evidenciado em Mat. 26:41; Lucas
23:46; Atos 7:59; 1 Cor. 2:11; 5:5; 7:34; 14:14 e 1 Tess. 5:23. Estudem os
interessados estas passagens e substituam espírito por fôlego e vejam que sorte
de sentido se forma. Então sabemos que espírito pode significar mais que
fôlego, porque “Deus é espírito” (João 4:24).
1.
A MORTE FÍSICA NÃO ACARRETA A INEXISTÊNCIA DO ESPÍRITO DO HOMEM, PORQUE O
ESPÍRITO NÃO ESTÁ SUJEITO À MORTE FÍSICA.
Temos
a prova disto em Mat. 10:28. Se o homem não pode matar o espírito, então a
morte física não tem poder para dar cabo da existência do espírito. O homem
pode matar qualquer coisa que esteja sujeita à morte física. Na morte física o
corpo cessa de funcionar e começa a desintegrar-se, o homem cessa de ser uma
“alma vivente” no sentido distinto do vocábulo “alma”. Ma o espírito não pode
ser mata do e dele nunca se fala como cessar na morte. Em vez achamos Jesus, ao
morrer, entregando o Seu espírito nas mãos de Deus e Estevão entregando o seu
espírito nas mãos de Jesus (Lucas 23:46; Atos 7:59). A morte física é meramente
a separação do espírito do corpo.
2.
A REPRESENTAÇÃO DA MORTE COMO UM SONO NÃO ENSINA QUE O ESPÍRITO DORME E QUE É,
PORTANTO, INEXISTENTE.
O
sono é puramente um fenômeno físico. A morte é sono só por analogia, não
atualmente. E a analogia está na aparência do corpo, não no estado quer do
corpo quer do espírito. No sono o espírito ainda está unido com o corpo e,
portanto, condicionado por ele. Mas, na morte, como todos são forçados a
admitir, espírito e corpo estão separados e o espírito separado do corpo não
está mais condicionado pelo corpo.
Estevão
dormiu (Atos 7:59), mas o seu espírito não cessou de existir, porque Estevão o
encomendou nas mãos de Jesus e um espírito inexistente não podia ser
encomendado nas mãos de ninguém. Paulo descreveu a morte como um sono (1 Cor.
15:6; 1 Tess. 4:14), mas não ensinou a inexistência dos mortos. Paulo
considerou a morte, não como uma cessação da existência, mas como uma partida
para estar com Cristo (Fil. 1:23). Estando ausente do corpo, Paulo quis dizer,
não inexistente, mas presente com o Senhor (2 Cor. 5:6). Aquilo que é
inexistente não pode estar presente em logar algum ou com pessoa alguma.
3.
A REFERÊNCIA AOS ÍMPIOS MORTOS COMO “ESPÍRITO EM PRISÃO” MOSTRA QUE OS MORTOS
NÃO SÃO INEXISTENTES (1 PED. 3:20).
Um
espírito inexistente é uma não entidade e uma não entidade não pode estar em
qualquer logar, porque ser é existir.
4.
MOISÉS NÃO CESSOU DE EXISTIR QUANDO ELE MORREU, PORQUE SÉCULOS DEPOIS ELE
APARECEU COM Cristo NO MONTE DA TRABSFIGURAÇÃO (MAT. 17:3)
Dirão
alguns que Moisés foi ressuscitado imediatamente depois do enterro? Se sim, por
eles está esperando uma refutação em 1 Cor. 15:20. Sendo Cristo as primícias
dos mortos proíbe a teoria de Moisés ter sido ressuscitado logo depois do seu
enterro.
5.
OS HABITANTES DE SODOMA E GOMORRA NÃO CESSARAM DE EXISTIR QUANDO MORRERAM
(JUDAS 7).
Judas
os descreve nos tempos do Novo Testamento como “sofrendo a vingança do fogo eterno”.
A palavra sofrendo nesta passagem é um particípio presente, que expressa ação
durativa progressiva. E que isto não é um presente histórico está mostrado pelo
tempo presente do verbo “são postos.”
6.
O RICO E O LÁZARO NÃO CESSARAM DE EXISTIR QUANDO MORRERAM (LUCAS 16:19-31).
Isto
não é uma parábola, mas pouco importa que fosse. O Filho de Deus não recorreu a
desvirtuamentos mesmo em parábolas. Todas as Suas parábolas são verdadeiras a
fatos.
7.
CRISTO E O LADRÃO PENITENTE NÃO CESSARAM DE EXISTIR QUANDO MORRERAM.
Cristo
não estava dependendo do corpo para a vida, porque Ele viveu antes que tivesse
um corpo (João 1:1, 2, 14). E, na cruz, Cristo asseverou que Ele e o ladrão
estariam naquele dia juntos no paraíso. Espírito inexistente não podiam estar
em logar algum, muito menos juntos.
8.
OS ESPÍRITOS QUE JÃO VIU DEBAIXO DO ALTAR NÃO TINHAM CESSADO DE EXISTIR (APOC.
6:9).
9.
A RESSURREIÇÃO PROVA QUE OS MORTOS AGORA NÃO ESTÃO INEXISTENTES.
Se
fosse inexistente, então seria necessário haver uma recriação em vez de uma
ressurreição. E isto destruiria totalmente a base de recompensas, porque os que
surgissem da sepultura seriam indivíduos diferentes daqueles que trabalham
obras aqui neste mundo.
10.
O FATO DE OS MORTOS BEM AVENTURADOS NÃO TEREM ATINGIDO O SEU MAIS ALTO ESTADO
DE BEATITUDE, E DEVEM AINDA PASSAR PELA RESSURREIÇÃO, NÃO PROVA QUE ELES SEJAM
AGORA INEXISTENTES.
“Aquela
bem aventurada esperança” (Tito 2:13; 1 João 3:2,3) é a união do espírito com o
corpo glorificado. Somente isto trará a satisfação completa da aspiração do
crente (Sal. 17:15). Mas Deus escolheu adiar a realização desta esperança até
um tempo por vir. E enquanto o estado desencarnado não é o ideal, todavia é
melhor do que continuar na carne (Fil. 1:23); e os eu estão neste estado estão presentes
com o Senhor (2 Cor. 5:8).
11.
O FATO QUE OS ÍMPIOS FALECIDOS AINDA ESTÃO PARA SER JULGADOS E LANÇADOS NO LAGO
DE FOGO NÃO PROVA QUE ELES AGORA SEJAM INEXISTENTES.
Aprouve
a Deus confirmar os espíritos dos ímpios falecidos em prisão (Isa. 24:22; 1
Ped. 3:19), finalmente trazê-los e destiná-los juntos ao lago de fogo (Apoc.
20:11-15); mas que os ímpios falecidos já estão em tormento cônscio de fogo
mostramo-lo previamente (Lucas 16:19-31; Judas 7). A miséria final dos ímpios,
como a felicidade dos justos, espera a ressurreição do corpo, em cujo tempo os
ímpios serão lançados, tanto corpo como alma, no inferno (Mat. 10:28).
12.
O FATO DE A VIDA ETERNA SER RECEBIDA PELA FÉ NÃO PROVA QUE OS QUE A NÃO POSSUEM
NÃO TEM EXISTÊNCIA ETERNA.
A
vida eterna nas escrituras quer dizer mais do que existência eterna. Está em
contraste com morte espiritual (João 5:24; Efe. 2:1; Col. 2:13; 1 João 3:14). A
morte espiritual é escravidão íntima num estado de pecado e separação de Deus,
no qual alguém está privado de vida espiritual divina, conquanto possua vida do
espírito humano. A vida eterna é liberdade e comunhão com Deus . “A morte
espiritual faz alguém sujeito à segunda morte, a qual é uma continuação da
morte espiritual numa outra existência sem tempo” (E. G. Robinson). E vida
eterna é isenção da segunda morte.
13.
A REPRESENTAÇÃO DA IMORTALIDADE COMO ALGO A SER ALCANÇADO NÃO PROVA QUE OS QUE
NÃO A ALCANÇARAM NÃO TEM EXISTÊNCIA ETERNA
Rom.
2:7 e 1 Cor. 15:53 tem referência ao corpo. O corpo se descreve como sendo mortal,
mas o espírito nunca. Revestir-se de imortalidade no sentido da Escritura supra
é receber um corpo imortal e, portanto, passar aquele estado no qual não
podemos mais ser afetado pela morte. Este se revestir de imortalidade é a
junção de um corpo imortal com um espírito imortal.
14.
A IMPUTAÇÃO DE IMORTALIDADE SÓ A DEUS (1 TIM. 6:16) NÃO QUER DIZER QUE OUTROS
NÃO POSSUEM EXISTENCIA ETERNA.
A
passagem acima quer dizer que só Deus é totalmente imortal em todas as partes
do Seu Ser e não afetado pela morte, que só Ele possui imortalidade inderivada
e independente. Ao passo que o homem é imortal quanto a uma só parte de sua
natureza, sua imortalidade, tanto do espírito como do corpo, deriva-se de Deus.
O caso de Elias é uma resposta suficiente ao argumento de “dormentes dalma”
sobre esta passagem. Elias cessou de existir em qualquer tempo? Se não, ele
tinha existência imortal.
15.
OS ENUNCIADOS DE JESUS EM JOÃO 3:13 E 13:33 NÃO ENSINAM QUE OS JUSTOS FALECIDOS
SÃO INEXISTÊNTES.
A
escritura deve ser interpretada à luz da Escritura. Portanto, a primeira
passagem supra não pode ser tomada com absoluta literalidade. Porque em 2 Reis
2:2,11 assevera-se duas vezes que Elias foi recebido no céu. O sentido da
afirmação de Cristo aqui, então, não pode ser mais do que ter Jesus só
ascendido ao céu e voltado para revelar os mistérios a Ele comunicados lá. A
segunda passagem é explicada pelo verso 36. Cristo quis dizer, meramente, que,
entrementes, aqueles a quem Ele estava falando não podiam seguir; não que eles
nunca O seguiriam, porque nesse caso eles nunca podiam ir ao céu.
16.
O ENUNCIADO DE PEDRO EM ATOS 2:34 NÃO QUER DIZER QUE DAVI ERA INEXISTÊNTE.
Este
enunciado sobre Davi está elucidado pelo de Cristo a Maria Madalena a respeito
de Si mesmo (João 20:17). Cristo disse: “Ainda não subi a meu Pai”. Mas o
espírito de Cristo ascendera ao Pai (Lucas 23:43,46; Apoc. 2:7; 22:1,2). O
significado então do enunciado de Pedro a respeito de Davi e o Cristo sobre Si
mesmo é que eles não tinham ascendido em corpo.
17.
AS ESCRITURAS DO VELHO TESTAMENTO NÃO PROVAM A INEXISTÊNCIA DOS MORTOS.
A
Escritura deve ser explicado pela Escritura. As revelações incompletas e
indistintas do Velho Testamento devem ser explicadas pelas revelações mais
amplas e mais claras do Novo Testamento. E à luz destas últimas algumas
afirmações no Velho Testamento concernentes ao estado dos mortos podem ser
tomadas somente como a linguagem de aparência. Escritores do Velho Testamento,
não tendo uma revelação clara concernente ao estado dos mortos, muitas vezes
falaram dos mortos do ponto de vista desta vida. É neste sentido que devemos
entender passagens tais como Jó 3:11-19; 7:21,22; Sal. 6:5; 88:11,12; 115:17;
Ecles. 3:19,20; 9:10; Isa. 38:18.
II.
OS JUSTOS FALECIDOS ESTÃO COM O SENHOR
Já
aludimos ao estado tanto dos justos como dos ímpios falecidos. Mas, por causa
da clareza, restabelecemos o ensino da Escritura sobre este assunto.
Os
justos falecidos estão com o Senhor. Isto está provado pelas seguintes
passagens:
“Enquanto
estamos no corpo ausente do Senhor… porém temos confiança e desejamos muito
deixar este corpo e habitar com o Senhor” (2 Cor. 5:6-8). Assim, para os
justos, estar ausente do corpo, isto é, estar naquele estado ocasionado pela
morte é estar na presença do Senhor.
“Estou
apertado entre os dois, desejando partir e estar com Cristo” (Fil. 1:23). Paulo
não podia decidir se ele preferia permanecer na carne, isto é, continuar a
viver aqui na terra, ou morrer para estar com Cristo. Assim, para os justos,
uma partida desta vida é uma entrada à presença de Cristo.
O
ladrão arrependido moribundo ouviu de Jesus: “Hoje estarás comigo no paraíso”.
O paraíso é o terceiro céu dos judeus, o logar do trono de Deus (2 Cor.
12:2,4). Mais prova disto encontra-se no fato de a árvore da vida estar no
paraíso (Apoc. 2:7), e perto do trono de Deus (Apoc. 22:1,2).
Pode
ser, como crêem alguns, que, até a morte de Cristo, os justos não foram à
presença de Deus senão a um logar intermediário de felicidade. Conquanto isso
possa ser, as passagens supra mostram que os justos agora vão imediatamente à
presença do Senhor através da morte.
III.
OS FALECIDOS ÍMPIOS ESTÃO EM TORMENTO CÔNSCIO E ARDENTE
Está
isto mostrado na história do rico e Lázaro (Lucas 16:19-31). Respondem alguns
que isto é somente uma parábola. Mas não há, sequer, um indício que o seja. E o
fato se estar nomeado o nome de uma pessoa envolvida é incoerente com todas as
outras parábolas. Mas suponde que é uma parábola, Cristo torceu fatos nas Suas
parábolas? Que propósito podia Ele ter tido em assim fazer? Uma caricatura de
fatos na passagem em foco não ensina um erro? Os que buscam fugir a isto com
fundamento que é uma parábola mostram o desespero de sua teoria com uma
semelhante miserável escapatória.
Este
fato também está patente, como já o frisamos, nas palavras de Judas no verso 7
de sua epístola a respeito dos habitantes de Sodoma e Gomorra. Ele os descreve
como “sofrendo (tempo presente) a vingança do fogo eterno”.
O
lugar onde os ímpios estão confinados é chamado uma prisão (1 Ped. 3:19). São
criminosos condenados esperando na prisão até ao tempo de serem colocados na
eterna penitenciária de Deus, o lago de fogo (Apoc. 20:15). Isto é para ter
logar no juízo do grande trono branco, tempo em que tanto o corpo como as almas
dos ímpios serão lançados no fogo (Mat. 10:28).
IV.
NENHUMA PROVAÇÃO DEPOIS DA MORTE
A
noção que há provação depois da morte toma duas formas. Contém-se a primeira
em:
1.
O ENSINO CATÓLICO SOBRE O PURGATÓRIO.
“A
Igreja Católica ensina a existência do Purgatório, onde aqueles que morrem com
leves pecados nas suas almas, ou que não satisfazem a punição temporal devida
aos seus pecados estão detidos até que se purifiquem suficientemente para
entrar no céu” (O que a Bíblia protestante ensina sobre a Igreja Católica,
Patterson).
As
passagens dadas para substanciarem este ensino são: Mat. 5:26; 12:32; 1 Cor.
3:13-15; Apoc. 21:27; 1 Ped. 3:19.
Antes
de abreviadamente cometer estas passagens, oportuno é observar a justificação e
salvação totalmente de graça por meio da fé em Cristo. Vimos que Deus não cobra
pecados ao crente (Rom. 4:8; 8:33). O crente foi eternamente quitado de todo
pecado. Mais ainda, Heb. 9:27 implica claramente que não é possível nenhuma
mudança entre a morte e o juízo. Estas passagens, para não mencionar muitas
outras, mostram que o Purgatório é uma invenção humana.
Quanto
às passagens empregadas para substanciarem a doutrina do Purgatório: Mat. 5:26
é para ser manifestamente considerada como se referindo à prisão romana. Mat.
12:32 faz simplesmente “uma declaração forte e expandida” que a blasfêmia
contra o Espírito Santo não será jamais perdoada. Achar aqui a insinuação em
que alguns pecados possam ser perdoados no porvir é fundar uma doutrina de
longo alcance sobre uma inferência incerta. Semelhante doutrina, se verdadeira,
acharia certamente afirmação mais clara do que a que esta passagem proporciona.
Em 1 Cor. 3:13-15 temos apenas uma forte alusão ao teste das obras humanas nos
dias de Cristo. Não há aqui nenhuma purificação ou purgamento, como os
católicos supõem ocorrer no Purgatório, mas somente um desejo de obras
inaceitáveis. Apoc. 21:27 declara somente que os ímpios não podem entrar em a
Nova Jerusalém. O espírito e o corpo glorificado do crente não tem pecado. O
espírito se purifica de todo pecado na regeneração. A última passagem (1 Ped.
3:19) será estudada no próximo título.
A
segunda forma desta noção de provação depois da morte jaz principalmente em:
2.
A CRENÇA QUE CRISTO PREGOU AOS ÍMPIOS FALECIDOS.
Baseia-se
a crença em 1 Ped. 3:19,20. Esta forma da noção de provação depois da morte é
diferente do ensino católico do purgatório, em que ela inclui somente
incrédulos, ao passo que o ensino católico inclui somente crentes, como tendo
provação. Segundo esta forma da doutrina de provação depois da morte, os
incrédulos terão a oportunidade de se arrependerem e serem salvos depois da
morte. Isto está discutido em extenso em What Happens After Death!(O Que
Acontece Depois da Morte!) por William Striker, publicado pela Sociedade de
Tratados Americana.
Deve
ser admitido que as traduções comuns de 1 Ped. 3:19,20, emprestam encorajamento
a esta crença; mas, mesmo nisso, estranho é que Jesus tivesse pregado somente
aos que foram desobedientes durante os dias de Noé, ou que, se a todos foi
pregado, apenas oito almas fossem mencionadas.
E
não pode insistir-se sobre o verbo “foi” como indicando que Jesus veio em
contato pessoal com os espíritos em prisão. “Grande peso se tem dado a esta
palavra em sustento da idéia que Cristo foi em prisão a prisão dos perdidos;
mas a palavra não implica necessariamente locomoção pessoal” (N. M. Williams,
Comment. In loco). Acham-se em Gen. 11:5-7 e Efe. 2:17 casos de uma palavra
igual em que não se indica locomoção pessoal.
Mas,
ainda mais, não é em absoluto necessário traduzir o verso 20 como nas traduções
comuns. A idéia de desobediência nesta passagem expressa-se em grego por um
particípio aoristo sem o artigo, apiethesasi; e, enquanto é verdade que o
particípio sem o artigo pode ser traduzido atributivamente, isto é, como
livremente equivalente a uma clausula relativa, contudo, isto é a exceção mais
que a regra. A regra é que o particípio sem o artigo é empregado
predicativamente, exigindo uma clausula temporal para a sua tradução. Segundo a
regra, então, a primeira clausula do v. 20 devera ser traduzida “quando
primeiramente foram desobedientes”, indicando que a pregação ocorreu (pelo
espírito de Cristo operando por Noé) no tempo da desobediência e não dois mil
anos depois.
Pode
ser perguntado porque a versão do Rei Tiago, a Revista e as versões da União
Bíblia, todas traduzem esta construção com uma clausula relativa. Respondemos
que isto, evidentemente, é por causa da influência da Vulgata e a parcialidade
teológica da cristandade que tem favorecido a noção de provação depois da
morte. Mas o Novo Testamento está em toda parte oposto à idéia de provação
depois da morte, sem a qual esta suposta pregação aos ímpios falecidos foi
inútil. Tal probação não é precisa para vindicar a justiça de Deus, porque
mesmo os pagãos sem o evangelho estão “sem desculpa” (Rom. 1:20).
1
Pedro 4:6 , que é outra passagem empregada para ensinar a provação depois da
morte, significa que o Evangelho foi pregado aos mortos enquanto estiveram
vivos.
Autor:
Thomas Paul Simmons, D.Th.
Digitalização:
Daniela Cristina Caetano Pereira dos Santos, 2004
Revisão:
Luis Antonio dos Santos, 12/05
Fonte:
www.PalavraPrudente.com.br
A DOUTRINA DA MORTE
“Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer,
temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus” (II
Co.5:1).
INTRODUÇÃO
- A título de complementação dos estudos que temos tido sobre a Segunda Carta
de Paulo aos Coríntios, faremos um breve estudo a respeito da doutrina da
morte, tema que é tratado pelo apóstolo nos primeiros dez versículos do
capítulo 5 daquela epístola, ainda que de passagem e sob o aspecto do desejo do
crente de estar com o Senhor.
- O tema da morte tem desaparecido dos púlpitos, em mais uma demonstração da
apostasia que grassa no meio da Igreja. A morte é uma realidade que deve ser
enfrentada e que não deve ser motivo de angústia, mas, sim, de esperança para
aquele que serve fielmente ao Senhor.
I – OS SIGNIFICADOS DISTINTOS DE MORTE NA BÍBLIA SAGRADA
- O apóstolo Paulo demonstrava aos coríntios que o crente, embora seja um vaso
de barro, tem um tesouro excelente dentro de si, tesouro este que o mantém
esperançoso apesar de todas as dificuldades que o cercam nesta jornada sobre a
face da Terra (II Co.4:7-10).
- Esta realidade da vida traz, também, uma postura do crente em relação à
morte, pois, como disse o escritor aos hebreus, “aos homens está ordenado
morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo” (Hb.9:27), postura esta que o apóstolo
anuncia ser completamente distinta com relação aos demais homens, que não têm
Cristo. O salvo em Jesus Cristo tem esperança, sabendo que, assim como Jesus
ressuscitou, também ele ressuscitará e será apresentado ao Senhor com toda a
Igreja (II Co.4:14).
- A morte é, sem dúvida, um dos fatos que mais intrigam o ser humano. Registros
de todas as comunidades humanas, em todas as épocas e em todos os estágios
civilizatórios, mostram que o tema da morte é uma questão com a qual o homem
sempre se depara, sem saber como dela cuidar. Esta perplexidade do homem diante
deste tema é, aliás, mais uma demonstração de que a morte surge como um
elemento intruso, inadequado e indevido na existência humana.
- A Bíblia mostra claramente que o homem não foi feito para morrer. O homem foi
criado para ser imagem e semelhança de Deus (Gn.1:26,27), um verdadeiro reflexo
da divindade na criação e, por isso, a eternidade, que é um dos atributos
divinos mais proeminentes (Gn.21:33; Dt.33:27), tinha de ser vista no ser humano,
ainda que como uma eviternidade, ou seja, uma existência que tivesse princípio
mas não tivesse fim.
- No entanto, a morte era uma possibilidade para o homem, pois o próprio Deus
assim o quis, dizendo ao homem que a morte seria conseqüência da sua desobediência
(Gn.2:17). O primeiro casal pecou e, como conseqüência do pecado, tivemos a
inserção da morte na existência humana. Por isso, é dito que o salário do
pecado é a morte (Rm.6:23).
- Morte significa separação e, a partir do pecado, houve, de imediato, uma
separação entre Deus e o homem. Esta separação deu-se logo naquele dia, quando
o Senhor Se apresentou no jardim. A Bíblia diz-nos que o primeiro casal
procurou fugir da presença de Deus (Gn.3:8), a demonstrar, pois, que não havia
mais a comunhão entre Deus e o homem, que o pecado havia produzido a separação
entre o Criador e a sua mais sublime criatura sobre a face da Terra (Is.59:2).
- Vemos, nesta atitude do homem, a morte espiritual, que é o primeiro
significado da morte para o ser humano. A morte espiritual é a separação entre
Deus e o homem, é a ausência de comunhão entre Deus e o homem. É chamada de
“morte espiritual” porque é o espírito humano que promove este elo de ligação
entre Deus e o homem, daí porque se dizer que, quando o homem aceita a Cristo
como seu Senhor e Salvador, há a vivificação do espírito (I Co.15:22), bem como
que o homem, antes da salvação, está morto em seus delitos e pecados (Ef.2:1).
- Como consequência da morte espiritual, vemos que houve, também, uma morte
moral do ser humano. Tendo sido descoberto por Deus na sua inútil tentativa de
d’Ele se esconder, o homem é posto diante da presença do Senhor e vemos, então,
não mais o ser que era a imagem e semelhança de Deus, cônscio de seus deveres e
responsabilidades, cientes de seus direitos, mas alguém que não assume qualquer
responsabilidade, que procura culpar o próximo, mesmo sendo a pessoa que tanto
amava. Adão, diante do seu erro, tenta culpar sua mulher e esta, por sua vez,
acusa a serpente.
- O homem, espiritualmente morto, também se encontrava moralmente morto. A
morte moral é decorrência direta da morte espiritual. A morte espiritual
separou o homem de Deus, enquanto que a morte moral separou o homem do seu
próximo. O ser humano não mais passou a amar o semelhante, a amar o próximo,
mas a ser egoísta, querendo apenas o interesse próprio, enxergando somente a si
mesmo. Adão quis se safar de qualquer punição, imputando a Eva toda a
responsabilidade e Eva, por sua vez, fez o mesmo, imputando tudo à
serpente(Gn.3:12,13). O homem se encontrava separado do próximo, encontrava-se
separado da virtude, do que é certo. Era a morte moral deste ser que havia sido
feito com capacidade de discernimento. Estavam separados da liberdade e seu
desejo, agora, estava escravizado pelo pecado (Gn.4:7).
- Mas não é apenas a morte espiritual ou a morte moral que advêm por causa do
pecado. Ainda naquele fatídico dia da queda do primeiro casal, Deus impôs uma
outra conseqüência do pecado, a saber: a morte física. “No suor do teu rosto,
comerás o teu pão, até que te tornes à terra, porque dela foste tomado,
porquanto és pó e em pó te tornarás” (Gn.3:19). Deus determinou que, por causa
do pecado, passasse o ser humano a ter uma degeneração de seu corpo físico, até
que ele se separasse do homem interior (alma e espírito), que é a morte física.
O corpo, feito do pó da terra, teria de voltar a esta terra, voltar a ser pó, o
que ocorreria no momento determinado por Deus, quando, então, ocorreria a
separação entre o homem exterior e o homem interior.
- A morte física foi, assim, a segunda espécie de morte que surge para o homem,
morte esta que não escolhe idade nem tem uma causa certa ou predeterminada. O
primeiro homem cuja morte física é narrada na Bíblia foi Abel, filho de Adão e
de Eva, mais jovem do que eles, portanto, que morreu de “morte matada”, ou
seja, foi vítima de crime praticado por seu irmão Caim, a chamada morte
violenta(Gn.4:8). Depois, o próprio Adão é apresentado como tendo morrido,
depois de ter vivido 930 anos após a perda da imortalidade (sim, o tempo de
vida de Adão nos é desconhecido, apenas sabemos que viveu 930 anos depois que
foi sentenciado à morte física por Deus). É o exemplo de morte natural, morte
decorrente da degeneração do organismo, diante da sentença divina dada no jardim
do Éden (Gn.5:5).
- Mas também Deus mostraria que as pessoas também morrem por conta de um juízo
divino, como ocorreu quando do dilúvio, quando o Senhor resolveu destruir o
gênero humano da face da Terra por causa da sua impiedade(Gn.7:21). Mas ainda
há o caso da morte por enfermidade, por uma doença ou por complicações
orgânicas que acometem o homem e aceleram o processo de degeneração, como
aconteceu com Raquel (Gn.35:18,19) ou com Jacó (Gn.48:1; 49:13).
- Ainda que seja por causas várias, o fato é que ninguém escapa da morte
física, todos quantos nasceram sobre a Terra, morreram fisicamente, sejam ricos
ou pobres, doutos ou indoutos, homens ou mulheres, fiéis ou infiéis. A morte
física é inevitável, é o resultado de uma sentença dada por Deus a toda a
humanidade, através do primeiro casal(Ec.9:5 “in initio”), algo que somente
Cristo mudaria, como adiante se verá nesta lição.
- Mas, além da morte espiritual, da morte moral e da morte física, a Bíblia
fala-nos da morte eterna ou “segunda morte” (Ap.20:14), que é a separação
eterna de Deus, resultado da condenação no julgamento final, quando, então,
aqueles que resolveram viver longe da presença de Deus, que recusaram o Seu
senhorio em suas vidas, serão lançados no lago de fogo e de enxofre para todo o
sempre. Esta separação é definitiva e não representa aniquilamento ou fim da
existência, mas uma separação eterna e irreversível de Deus.
II – O ESTADO INTERMEDIÁRIO DOS MORTOS
- Pelo que podemos verificar, portanto, segundo as Escrituras, o homem, feito
para viver para sempre, acabou por escolher a morte, visto que desobedeceu a
Deus e, ao pecar, d’Ele se separou. Esta separação nada mais é que a própria
morte em si.
- A salvação do homem é precisamente a iniciativa divina para que o homem torne
a ter vida, volte a ter comunhão com o seu Criador. Já no Éden, Deus prometeu
ao homem que seria desfeita a inimizade que se instalou entre Ele e o homem por
causa do pecado, prometendo que da semente da mulher surgiria um que reataria a
amizade entre Deus e o homem (Gn.3:15).
- Não é por outro motivo que o Senhor Jesus diz que quem n’Ele crê passa da
morte para a vida (Jo.5:24), bem como que n’Ele crê não perece mas tem a vida
eterna (Jo.3:16), como também que não mais chamaria os Seus discípulos de
servos mas de amigos (Jo.15:15).
- Jesus veio trazer a possibilidade para que o homem retome a sua comunhão com
Deus, passando a ter vida em todos os sentidos, ou seja, tendo o pronto
restabelecimento de sua vida espiritual, de sua vida moral e, ainda, a certeza
da vida eterna. O único obstáculo para que haja uma completa restauração da
situação anterior ao pecado é, precisamente, a morte física, visto que a carne
e o sangue não herdarão o reino de Deus (I Co.15:50), visto que o nosso corpo
físico foi afetado pela corruptibilidade por causa do pecado e, agora, deverá
ser transformado em outro corpo, um corpo glorioso pelo qual poderemos entrar
nas mansões celestiais, assim como ocorreu com Nosso Senhor e Salvador Jesus
Cristo (I Co.15:52-54).
- Mas quando ocorrerá esta transformação do corpo para o salvo? Paulo deixa bem
claro, tanto na primeira carta aos coríntios, quanto na primeira carta aos
tessalonicenses, que isto ocorrerá, para os salvos em Cristo Jesus, quando do
arrebatamento da Igreja, evento ainda não ocorrido. Diante disso, vemos, com
clareza, que há um instante na vida de cada ser humano entre a sua morte física
até o dia do arrebatamento da Igreja (para os salvos) e o juízo do trono
branco, também chamado de “juízo final” em que as pessoas que morreram fisicamente
aguardarão a ressurreição, ou seja, a reunião de espírito, alma e corpo para
enfrentar o julgamento divino, pois, depois da morte, segue-se o juízo
(Hb.9:27). É a esta situação entre a morte física e a ressurreição que se
denomina de “estado intermediário dos mortos”, em que houve já a morte física,
mas ainda não se tem a ressurreição e o julgamento do destino eterno do
indivíduo.
- Muito se especula sobre o estado intermediário dos mortos, assunto que não é
minudentemente tratado nas Escrituras, o que se entende pelo simples fato de
que nossa decisão em relação à salvação deve ser dada nesta vida. Deus, ao
revelar Seu plano ao homem, quis que o homem tomasse uma decisão no momento
oportuno e este momento é o da sua vida sobre a face da Terra. Aqui é o
instante em que devemos crer ou não em Cristo e alcançar a vida eterna. Depois
que dermos aqui o último fôlego de vida, nosso destino já estará selado e não
há, mesmo, qualquer utilidade em se saber o que se passa “do outro lado da
vida”. As Escrituras, desta maneira, estão muito mais voltadas para explicar
qual é o destino eterno do homem do que em dar pormenores de um estado que é,
ademais, passageiro.
- De qualquer maneira, não há um silêncio completo da Bíblia a respeito. Embora
sem precisar detalhes, o texto sagrado mostra-nos que o estado intermediário
dos mortos inicia-se com uma decisão imediato, um juízo provisório de Deus a
respeito de onde aguardará a pessoa o seu julgamento.
- Com efeito, a Bíblia diz que, quando há a morte física, o corpo volta ao pó
da terra, em cumprimento à sentença divina exarada sobre a humanidade pecadora,
enquanto que o homem interior (alma e espírito) apresentam-se diante do Senhor
(Gn.3:19; Ec.12:7; Rm.5:12). O corpo, que é matéria, desfaz-se, corrompe-se (I Co.15:42;
II Co.4:16), enquanto que a alma e o espírito são levados à presença de Deus,
pois têm origem direta do Senhor (Gn.2:7), quando, então, num “juízo
provisório”, são mandados ou para o Paraíso ou terceiro céu (Lc.23:43; II
Co.12:4; Ap.2:7), se foram fiéis ao Senhor Jesus e alcançaram a vitória
guardando a fé (Mt.24:12; II Tm.4:7), ou, então, são encaminhados para o Hades,
o lugar dos mortos, i.e., daqueles que tiveram uma vida separada de Deus, que
se mantiveram debaixo do pecado, onde aguardarão, entre tormentos, o dia do
juízo final (Lc.16:23).
- Na história que Jesus contou a respeito do rico e de Lázaro (Lc.16:19-31), o
Senhor Jesus mostra-nos, claramente, que o estado intermediário dos mortos é um
estado de plena consciência, ou seja, não se trata de um “sono profundo” em que
alma e espírito aguardam a ressurreição. Jesus deixa-nos bem claro que tanto o
rico quanto Lázaro, enquanto aguardavam a ressurreição (e estão a aguardar até
o dia de hoje), tinham plena consciência de onde estavam e porque ali estavam.
Os tormentos vividos pelas almas que se encontram no Hades é, precisamente, a
certeza de que não há para elas mais oportunidade de salvação, de que tudo
quanto havia sido pregado a elas a respeito do Evangelho de Cristo é a
realidade e que a incredulidade deles levou-os a uma irreversível e eterna
separação de Deus. Quer maior tormento do que este?
- Muitos advogam a tese da “inconsciência” do homem interior durante este
estado intermediário diante de expressões bíblicas como “dormir no Senhor” (I
Ts.4:13-15). No entanto, devemos observar que a expressão “dormir” não
significa que eles estejam inconscientes, mas, sim, dois pontos importantes:
a) que eles estão em descanso, ou seja, que não sofrem tormentos nem aflições,
pois, ao contrário dos que se encontram no Hades, têm uma paz incomensurável,
pois sabem que fizeram a escolha certa, que creram na verdade e, por isso, o
que os aguarda é a vida eterna com o Senhor.
b) que eles não têm consciência do que acontece aqui na Terra. Eles não sabem
nem tem acesso aos fatos e acontecimentos deste mundo e, neste aspecto, e só
neste, é que são inconscientes.
- Que não há inconsciência vemos no episódio da história do rico e Lázaro.
Defendem alguns que ali se teria uma “parábola”, ou seja, não seria um fato
real, mas apenas um ensino de Jesus. Mas, ainda que se tivesse uma parábola,
Jesus não iria se utilizar de uma história que não correspondesse à realidade
espiritual, pois aí estaria a distorcer a verdade para ensinar, o que é
inadmissível em se tratando da própria verdade (Jo.14:6). Também, quando
observamos as palavras de Jesus ao ladrão arrependido, como admitir que ele
saberia que estaria com Jesus no Paraíso naquele mesmo dia se tanto ele quanto
Jesus ficassem inconscientes diante da morte física? E nem se diga que Jesus
ressuscitou, pois a Sua ressurreição se deu ao terceiro dia e, portanto, não
haveria como saber que o ladrão estava com ele no primeiro dia de morto.
- Mas analisemos mais detidamente o uso da expressão “dormir no Senhor”. O
apóstolo Paulo inicia seu ensino a respeito da morte física aos crentes de
Tessalônica, informando que os crentes falecidos “dormiam”, fazendo, assim, uma
grande distinção entre os crentes falecidos e as demais pessoas que haviam
morrido. A expressão “dormiam” (em grego, κοιμωμένων, i.e., “koimoménon”) que
surge neste que é, talvez, o primeiro escrito do Novo Testamento, será repetida
por mais quatorze vezes nas Escrituras, sempre se referindo a morte de pessoas
crentes (Mt.27:52- santos que ressuscitaram depois de Jesus; Jo.11:11- Lázaro;
At.7:60 – Estevão; At.13:36 – Davi; I Co.7:39 – marido crente; I Co.11:30 –
crentes em Corinto; I Co.15:6,18,20,51 – crentes falecidos; I Ts.4:13,14,15 –
crentes falecidos em Tessalônica; II Pe.3:4 – crentes falecidos da primeira geração
da igreja). Assim, é uma expressão reservada para os crentes, para os fiéis,
que não se reproduz com relação à morte física dos ímpios.
- O uso desta expressão por parte do apóstolo já demonstra haver, pois, uma
diferença entre a morte física dos crentes e a morte física daqueles que não
haviam aceitado a Cristo como seu Senhor e Salvador, o que já é um indicador de
que não se refere a um estado do homem após a morte física, como têm entendido
alguns segmentos religiosos, em especial, os adventistas. A utilização de uma
expressão diferenciada para designar a morte física dos crentes reflete uma
distinção de destino entre uns e outros, o que, de pronto, já revela não ser
possível considerar que, após a morte física, tanto crentes quanto ímpios participarão
de um estado de inconsciência.
- A expressão “dormiam” aqui foi empregada por Paulo em significado figurado,
ou seja, não deve ser considerado do ponto-de-vista literal, mas revela que
havia um descanso, que havia apenas uma interrupção do convívio dos crentes
falecidos com os que ainda viviam, assim como acontece quando estamos dormindo.
Quando dormimos, separamo-nos daqueles com quem convivemos. Estamos presentes
em corpo, mas ausentes, separados de todos aqueles que estão à nossa volta,
inconscientes em relação aos que nos cercam, mas vivos e ativos na dimensão
interna do nosso inconsciente, onde, inclusive, temos sonhos, sonhos estes que,
como têm os psicólogos revelado ao longo dos anos, muitos nos revelam a
respeito de nosso mundo interior e até fazem associações que o estado de
acordado não nos permite atingir.
- Quando Paulo usa a expressão “dormiam”, em hipótese alguma estava dizendo
que, quando uma pessoa morre, ela passa a ficar inconsciente, a ter um sono
espiritual que somente terminará quando da volta de Cristo ou do julgamento
final. Se Paulo estivesse dizendo isto, estaria contradizendo o próprio Jesus,
que, ao relatar a história do rico e de Lázaro, mostra claramente que, após a
morte, a pessoa mantém plenamente a sua consciência, sendo levada a um lugar
onde aguardará ou a primeira ressurreição, ou a ressurreição do último dia
(Ap.20:5,12 e 13).
- Se Paulo estivesse dizendo que os homens, ao morrerem, entram num estado de
inconsciência, estaria contradizendo o próprio ministério de Jesus Cristo, que,
ao se transfigurar, conversou e teve a companhia de Elias e de Moisés, tendo
este último morrido fisicamente (Dt.34:5). Como ainda não havia ocorrido seja a
primeira ressurreição, seja a ressurreição do último dia, como o libertador de
Israel poderia estar consciente naquele evento? E, o que é relevante, uma
testemunha desta aparição, o apóstolo Pedro, é precisamente um dos escritores
que se refere à morte física do crente como sendo “dormir” (I Pe.3:4).
- Se Paulo estivesse dizendo que os homens, ao morrerem, entram num estado de
inconsciência, estaria contradizendo o próprio Jesus Cristo que, quando
indagado sobre a ressurreição, pelos saduceus, disse que Deus Se identificou a
Moisés como o Deus de Abraão, Isaque e Jacó porque era um Deus de vivos e não
de mortos (Mc.12:27), acrescentando ainda que eles, saduceus, erravam muito por
entenderem que a morte física era o fim de tudo.
- Vemos, portanto, que não há como se defender que a morte física é uma
circunstância de inconsciência por parte do homem, até porque, como vimos, a
morte física é tão somente a separação do corpo do homem interior, pois o que
Deus sentenciou foi o retorno do pó à terra e o homem interior não veio do pó
da terra, mas do fôlego de vida inserido no homem pelo próprio Deus (Gn.2:7).
- Paulo utiliza-se da expressão “dormiam” precisamente para mostrar aos crentes
de Tessalônica que a morte física para o crente era um estado de separação da
comunidade, mas uma separação temporária, passageira, assim como é a separação
daquele que dorme dos seus familiares. Quando dormimos, separamo-nos daqueles
com quem convivemos por um período de tempo, sem, no entanto, deixar de viver,
sem que nem sequer deixemos de ter atividades psíquicas e mentais. Vezes há,
até, em que, no sono, Deus mesmo Se revele ao homem, através de sonhos, como há
diversos registros nas Escrituras, mais um fator a nos mostrar que o sono
indica inatividade apenas para aqueles que cercam o que dorme e que, em momento
algum, signifique suspensão de vida, como, erroneamente, defendem os
adventistas, capitaneados por Ellen White.
- Paulo, ao usar esta expressão, que se consagraria nos escritos do Novo
Testamento, que foi fruto da inspiração do Espírito Santo, a um só tempo,
mostra que a morte física é um estado passageiro, como é o sono, como também
revela que há apenas uma aparência de inatividade para os que convivem com o
falecido, para a comunidade, mas que não deixa de haver vida, de haver
atividade, a atividade do homem interior, a consciência no relacionamento com
Deus.
- Ao dizer que os crentes falecidos “dormem”, entretanto, o apóstolo deixa
também claro que não há como haver comunicação entre os crentes que estão vivos
e os que “dormiram”. Mais uma vez, de forma peremptória, as Escrituras
indicam-nos não ser possível a comunicação entre vivos e mortos, assim como não
pode alguém que está acordado se comunicar com alguém que está dormindo.
- Muitos, aliás, se impressionam com a tese da inconsciência após a morte
física exatamente para demonstrar que os mortos não se comunicam com os vivos,
tese esta que é a própria essência do espiritismo. O Pequeno Dicionário
Enciclopédico Koogan-Larousse define espiritismo como sendo “ a doutrina cujos
partidários pretendem provocar a manifestação dos ‘espíritos’, em particular a
das almas dos defuntos, e entrar em comunicação com eles, através de um
mediador a que chamam médium” (p.337). O próprio Allan Kardec, considerado o
“codificador da doutrina espírita”, em seu Livro dos Espíritos, afirma que “…a
Doutrina Espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo
material com os Espíritos ou seres do mundo invisível…”(Trad. de J. Herculano
Pires. São Paulo: FEESP, s.d., p.19). Assim, é espírita quem crê que os mortos
podem se comunicar com os vivos.
- Entretanto, não há a necessidade de se crer na tese da inconsciência do homem
após a morte física para se negar o espiritismo, como defende Ellen White. A
expressão “dormiam” significa precisamente isto: não há comunicação entre
mortos e vivos, assim como não há comunicação entre quem dorme e quem está
acordado, mas isto, em absoluto, significa que o que dorme está inativo ou sem
vida.
OBS: No capítulo 34 de sua obra A um passo do Armagedom, Ellen White, a
principal doutrinadora do adventismo, faz a correlação entre a crença na
comunicação entre vivos e mortos com a da consciência do homem após a morte
física, o que, como se vê, não tem qualquer respaldo ou fundamentação. Ademais,
para White, a idéia da imortalidade da alma teria origem pagã, o que, como
vimos, é apenas uma meia verdade. O paganismo fala da imortalidade da alma, mas
é a Bíblia quem ensina que o homem foi feito para ser imortal.
- Por causa disto, também, não podemos, de modo algum, concordar com alguns
“testemunhos” que têm sido proferidos por simpatizantes do sr. Ouriel de Jesus,
de diálogos e conversas entre crentes falecidos, que estariam no “paraíso”, no
“terceiro céu”, e crentes que estão conosco aqui, esperando Jesus. Tais
“experiências” são sem qualquer respaldo bíblico e, se não forem farsas ou
fraudes, nada mais são do que manifestações demoníacas, idênticas às
manifestações mediúnicas dos kardecistas. Os crentes que morrem fisicamente
“dormem”, ou seja, não se comunicam com os que com ele pertenciam a parte do
corpo de Cristo que está viva aguardando a volta do Senhor Jesus.
- Mas, poderão alguns dizer que Jesus Se comunicou com Elias e com Moisés no
monte da transfiguração, o que, aliás, dissemos há pouco como prova de que não
há inconsciência após a morte física. Entretanto, se bem verificarmos o
episódio, que é descrito tão somente por Mateus, veremos que Jesus, antes de
conversar com os dois homens de Deus, Se transfigurou(Mt.17:2,3), no único
episódio em todo o Seu ministério em que Sua humanidade foi absorvida pela Sua
deidade. Com isto, temos claramente que não foi o homem Jesus, ainda vivo, que
conversou com Moisés, mas, sim, o Filho de Deus, na plenitude da Sua glória.
Enquanto Deus, Jesus poderia, sim, conversar com os mortos, porque Deus não é
Deus de mortos, mas Deus de vivos, para Ele não há esta barreira, que é fruto
do pecado na vida humana. Assim, ao Se transfigurar para poder dialogar com
quem já passou desta dimensão física da vida, Jesus, uma vez mais, confirma que
não há comunicação entre os homens vivos e os homens que já morreram
fisicamente. Ademais, observemos que nenhum dos discípulos conversou com Moisés
e Elias, apenas Jesus, enquanto esteve transfigurado.
- Paulo, ao usar da expressão “dormiam”, portanto, não disse que os que morrem
ficam inconscientes, mas apenas afirmou que os que morrem não mais se comunicam
com os vivos e desfrutam de um estado passageiro, transitório, que se encerrará
com a ressurreição.
- Advém, então, a segunda parte do ensino de Paulo àqueles crentes. O apóstolo
afirma aos crentes de Tessalônica que eles não deveriam se entristecer como os
demais, ou seja, a morte física é motivo, sim, de tristeza e os crentes,
enquanto seres humanos, sentirão, sim, a dor da separação, a angústia da
interrupção de uma convivência com pessoas queridas, pessoas que compartilhavam
conosco da mesma fé, da mesma esperança, pessoas que se amavam umas às outras,
como ocorria na igreja de Tessalônica, como temos tido ocasião de estudar neste
trimestre.
- Ninguém pense que o crente, por ser crente, não irá sentir a partida de um
ente querido, de um familiar, ainda que esta pessoa não seja crente (o que,
aliás, aumenta ainda mais a dor para o cristão, por saber que esta separação é
definitiva, ao contrário daquele que tão somente “dorme”). Paulo apenas não
podia tolerar nem admitir que os crentes tessalonicenses encarassem a morte
física da mesma maneira que os demais, que não tinham esperança, que não tinham
a compreensão do significado da morte física para o salvo.
- “Não quero que sejais ignorantes acerca dos que já dormem para que não vos
entristeçais como os demais, que não têm esperança” (I Ts.4:13). O apóstolo
sabia que a tristeza era natural aos que ficavam vivos diante de uma morte. Não
havia como deixar de sentir tristeza diante da separação de um irmão em Cristo,
mormente numa igreja onde havia tanto amor fraternal como Tessalônica, nem a
comunhão com Cristo nos transforma em robôs, em seres insensíveis, antes, pelo
contrário, aguça a nossa humanidade, pois ser humano é ser imagem e semelhança
de Deus e isto, sem dúvida alguma, só o crente pode ser em toda a sua
plenitude.
- Jamais se pode exigir de um crente que não sinta tristeza numa ocasião
fúnebre, pois, além da tristeza própria de cada um, sentimos, em situações como
esta, a tristeza de todos os que nos cercam, num ambiente que aumenta, ainda
mais, a tristeza, tanto que assim que Jesus, mesmo sabendo que ressuscitaria
Lázaro, chorou diante do clima fúnebre quatro dias depois do sepultamento de
Lázaro. Se Jesus chorou, quem somos nós para não nos entristecermos diante
disto?
- Sentimos tristeza quando alguém querido se separa fisicamente de nós porque
somos humanos e isto é perfeitamente natural, não residindo aí a diferença
entre o crente e o ímpio. O apóstolo enfatiza que a tristeza do crente, embora
natural e perfeitamente compreensível, não pode ter o mesmo sentido da tristeza
do ímpio e é este sentido, este significado que faz a diferença entre uma e
outra. “Não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança” (destaque
nosso). O crente fica triste quando alguém morre, mas não pode agir como os
ímpios, que não têm esperança.
- A distinção entre a tristeza do crente e a tristeza do ímpio em ocasiões
fúnebres está na esperança que tem o crente de que, além da morte física,
existe uma eternidade de delícias com o Senhor, existe uma plenitude da vida
eterna que já começamos a gozar aqui. O crente sabe que, com a morte física, há
tão somente uma passagem para uma comunhão mais perfeita com o Senhor, é uma
etapa a mais na caminhada rumo à glorificação, quando, então, no dia do
arrebatamento da Igreja, tanto mortos quanto vivos, que agora são filhos de
Deus, terão manifestado o que haverão de ser, pois, quando Cristo Se
manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque assim como é O veremos (I
Jo.3:2).
- Quando estivermos diante de uma ocasião fúnebre de um servo do Senhor, não
devemos nos desesperar, como é costumeiro ocorrer quando se trata da morte de
ímpios ou da reação de ímpios diante da morte de entes queridos, como estava
acontecendo em Tessalônica, mas, pelo contrário, ainda que entristecidos,
porque humanos somos, temos de nos consolar e nos confortar com a esperança que
temos de que Jesus virá buscar a Sua igreja e que, vivos e mortos, serão
reunidos nos ares e se encontrarão com o Senhor, para vivermos uma plenitude de
comunhão com o Senhor.
- Em mais um paradoxo da vida cristã, no momento da tristeza pela separação de
uma pessoa querida, com quem compartilhávamos o amor divino, o amor fraternal,
a alegria de servirmos e sermos abençoados pelo mesmo Deus e Pai, sentimos
alento espiritual, conforto e consolo pelo fato de sabermos que há uma promessa
de nos reunirmos, num corpo glorioso e transformado, com o Senhor naquele dia
em que seremos glorificados. A morte física do crente, portanto, não é apenas
um motivo de tristeza, mas uma fonte de esperança e de estímulo e incentivo em
seguirmos até o fim com fidelidade e santidade, assim como aquele que se separa
fisicamente de nós.
- Os estudiosos das Escrituras, inclusive, afirmam que, com a morte de Jesus,
ocorreu uma importante modificação no chamado “estado intermediário dos
mortos”. Até então, como Jesus deixa claro na história do rico e Lázaro, que
tanto o “seio de Abraão” quanto o “Hades” ficavam lado a lado, ou seja, nas
“regiões inferiores” (daí a palavra latina “inferno”). No entanto, quando da
morte de Cristo, o Senhor teria, ao vencer a morte e o pecado, transferido o
seio de Abraão para o terceiro céu, para o Paraíso, daí porque para lá ter sido
arrebatado o apóstolo Paulo (II Co.12:2-4).
- Esta retirada do “seio do Abraão” para o terceiro céu é a profecia constante
do Sl.68:18, reproduzido em Ef.4:8, em que se mostra que o Senhor Jesus subiu
ao alto e levou cativo o cativeiro, recebeu dons para os homens e até para os
rebeldes, para que o Senhor habitasse entre eles. O próprio apóstolo Pedro, na
pregação do dia de Pentecostes, menciona a profecia divina (Sl.16:10) segundo a
qual Deus não permitiria que a alma do Senhor ficasse no Hades nem que Seu
corpo se corrompesse (At.2:27,31).
- Como explica o apóstolo Paulo, quando as Escrituras dizem que Cristo subiu,
foi porque desceu às partes mais baixas da terra, o que se deu com a Sua morte,
morte que foi por Ele vencida e, deste modo, pôde o Senhor ter, em Suas mãos, a
chave da morte e do inferno (Ap.1:18), de forma que, agora, os que n’Ele creem
não mais vão às regiões inferiores para aguardar a ressurreição, mas, sim, são
levados ao Paraíso, onde aguardam o arrebatamento da Igreja, pois, contra a
Igreja, não prevalecem “as portas do inferno” (Mt.16:18).
- A consciência do estado intermediário é ainda demonstrada no livro do
Apocalipse. Com efeito, após o arrebatamento da Igreja, ainda ocorrerá a morte
física e, como sabemos, ainda que bem diminuta, ainda haverá salvação durante a
Grande Tribulação, salvação esta que, feita pela fé em Jesus, levará
inevitavelmente os salvos para a morte física (Ap.13:10), pois, nesse tempo,
será permitido ao Anticristo destruir todos os santos do Altíssimo (Dn.7:25).
Estes mortos, que somente ressuscitarão no início do reino milenial de Cristo
(Ap.20:4), (completando, assim, a “primeira ressurreição” —Ap.20:6 — iniciada
com Cristo, as primícias — I Co.15:20 — e, posteriormente, ampliada com os que
dormem em Cristo na Sua vinda — I Co.15:23) são apresentados plenamente
conscientes enquanto aguardam a sua ressurreição na abertura do quinto selo
(Ap.9:6-11).
- O que fazem os salvos durante este estado intermediário? A Bíblia não nos
fala e, ainda, o apóstolo Paulo diz que o que ouviu são “palavras inefáveis
[i.e., que não podem ser faladas], de que ao homem não é lícito falar” (II
Co.12:4). Assim, diante de tal afirmativa bíblica, tudo que se disser será mera
especulação. Sabemos apenas que, em contraste com os tormentos de quem está no
Hades, no Paraíso há a doce presença do Senhor, a paz e a alegria daqueles que
venceram o mal e sabem que já estão a desfrutar da eternidade com Deus, sendo
este, ademais, o “comer da árvore da vida” mencionado em Ap.2:7, que nada mais
é que a comunhão plena com o Senhor Jesus, sem quaisquer obstáculos ou
imperfeições, precisamente o que havia sido retirado do primeiro casal quando
de sua queda (Gn.3:22,24). Se temos imensa alegria espiritual com a nossa vida
espiritual aqui nesta Terra, que dirá o gozo que desfrutaremos caso partamos para
a eternidade antes do arrebatamento? Como disse a poetisa sacra Eufrosine
Kastberg: “Já os filhos de Deus bem alegres estão, porém, no céu prazer melhor
terão, os gozos do cristão apenas gotas são do mar de bênçãos em Sião!”
(estrofe do hino 351 da Harpa Cristã).
- O estado intermediário encerrar-se-á com a ressurreição. A Bíblia fala-nos de
duas ressurreições, a saber:
a) a primeira ressurreição – uma bem-aventurança (Ap.20:6) – é a ressurreição
dos santos, ou seja, daqueles que se separaram do pecado e, por isso, têm vida,
estão em comunhão com Deus. Esta ressurreição dá-se em três instantes, a saber:
as primícias dos que dormem, que é Cristo, que já ressuscitou e está à direita
do Pai aguardando o tempo de restaurar todas as coisas (At.3:21; I Co.15:20);
os que creram em Cristo, que ressuscitarão quando do arrebatamento da Igreja (I
Co.15:23; I Ts.4:16) e os que crerem em Cristo e, por causa disso, serão mortos
durante a Grande Tribulação (Ap.20:4). Estes estarão para sempre com o Senhor.
b) a segunda ressurreição – é a ressurreição de todos os demais que morreram
sem ter crido em Cristo. Esta ressurreição é uma ressurreição para julgamento.
Esta ressurreição se dará por ocasião do juízo do trono branco, após a rebelião
final da humanidade, que se dará no término do Milênio, e a retirada dos atuais
céus e Terra de cena (Ap.20:11-15). Os que tiverem rejeitado Cristo serão
condenados à morte eterna e lançados no lago de fogo e enxofre, que não se
confunde com o Hades, que, aliás, ele mesmo será também lançado naquele lago
(Ap.20:14). É a chamada “segunda morte”, como já dissemos supra, a morte
espiritual, a morte eterna.
- A morte física é uma realidade inevitável, que temos de enfrentar, da qual só
escaparemos se estivermos vivos e em comunhão com o Senhor no dia do
arrebatamento da Igreja. Por isso, devemos estar bem conscientes da necessidade
de vivermos uma vida santa a todo instante. Temos de estar preparados para
morrer, pois, se estamos em Cristo e Cristo está em nós, temos de ter com a
morte a mesma reação que tem o nosso Deus, para quem a morte do santo é
preciosa à Sua vista (Sl.116:15). Qual é o nosso sentimento a respeito?
Caramuru Afonso Francisco
TANATOLOGIA (ESTUDO DA
MORTE)
Tanatologia em simples palavras, quer dizer o Estudo acerca da Morte.
Pergunta de Aluno(a) I.T.Q. Bahia, enviada ao Prof. Rodrigo:
1. a morte é um ser que retira a vida ou é um fenômeno ?
2. se a morte é um ser, ele é angelical ou demoníaco ?
3. se é um ser demoníaco, como explicar a morte dos crentes por esse ser ?
4. se é um ser(angelical ou demoníaco), como explicar a quantidade de mortes
que acontecem diariamente em todo o mundo?
Resposta:
Com a resposta a sua primeira pergunta, perceberás que automaticamente as
outras três são respondidas durante o contexto, acompanhe:
A morte é um fenômeno vital, uma realidade que todos os seres humanos estão
destinados a vivenciar.
A "morte" e a "vida" são irreconciliáveis e condições
opostas de existência. Sem Cristo, a morte conduz somente a uma coisa -
julgamento eterno: "E assim como aos homens está ordenado morrerem uma só
vez e, depois disto, o juízo" (Hebreus 9.27). Mas com Cristo, a morte
conduz à vida: "Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que
morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim, não morrerá, eternamente"
(João 11.25-26). E: "Em verdade, em verdade vos digo: Quem ouve a minha
palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, não entra em juízo, mas
passou da morte para a vida" (João 5.24).
A Bíblia ensina que antes da salvação, mesmo estando vivos, todos os homens e
mulheres existem num estado de morte espiritual ou separação de Deus. Seus
espíritos humanos estão mortos para as coisas em que Deus está realmente
interessado (veja Lucas 15.24-32; Efésios 2.1; 1 Timóteo 5.6; Apocalipse 3.1).
Muito embora estando vivos fisicamente, eles não consideram o único Deus verdadeiro,
nem Lhe agradecem, nem se importam com Seus interesses. Qualquer que seja o
conceito de Deus que tenham, eles não aceitam o único Deus verdadeiro. Daí
porque o próprio Jesus disse: "Deixa aos mortos o sepultar os seus
próprios mortos", ensinando explicitamente que os seres humanos vivos ao
redor dele estavam, no que dizia respeito a Deus, espiritualmente mortos (Lucas
9.60; Romanos 3.10-18).
Todo ser humano, tanto crente quanto incrédulo, está sujeito à morte. A palavra
“morte” tem, porém, mais de um sentido na Bíblia. É importante para o crente
compreender os vários sentidos do termo morte.
A MORTE COMO RESULTADO DO PECADO
Gênesis 2-3 ensina que a morte penetrou no mundo por causa do pecado. Nossos
primeiros pais foram criados capazes de viverem para sempre. Ao desobedecerem o
mandamento de Deus, tornaram-se sujeitos à penalidade do pecado, que é a
morte.
1. Adão e Eva ficaram agora sujeitos à morte física. Deus colocara a árvore da
vida no jardim do Éden para que, ao comer continuamente dela, o ser humano
nunca morresse (ver Gn 2.9 ). Mas, depois de Adão e Eva comerem do fruto da
árvore do bem e do mal, Deus pronunciou estas palavras: “és pó e em pó te
tornarás” (Gn 3.19). Eles não morreram fisicamente no dia em que comeram, mas
ficaram sujeitos à lei da morte como resultado da maldição divina.
2. Adão e Eva também morreram no sentido moral, Deus advertia Adão que se
comesse do fruto proibido, ele certamente morreria (Gn 2.17). Adão e sua esposa
não morreram fisicamente naquele dia, mas moralmente, sim, i.e., a sua natureza
tornou-se pecaminosa. A partir de Adão e Eva, todos nasceram com uma natureza
pecaminosa (Rm 8.5-8), i.e., uma tendência inata de seguir seu próprio caminho
egoísta, alheio a Deus e ao próximo (ver Gn 3.6 ; Rm 3.10-18 ; Ef 2.3; Cl
2.13).
3. Adão e Eva também morreram espiritualmente quando desobedeceram a Deus, pois
isso destruiu o relacionamento íntimo que tinham antes com Deus (ver Gn 3.6 ).
Já não anelavam caminhar e conversar com Deus no jardim; pelo contrário,
esconderam-se da sua presença (Gn 3.8). A Bíblia também ensina que, à parte de
Cristo, todos estão alienados de Deus e da vida nEle (Ef 4.17,18); i.e., estão
espiritualmente mortos.
4. Finalmente, a morte, como resultado do pecado, importa em morte eterna. A
vida eterna viria pela obediência de Adão e Eva (cf. Gn 3.22); ao invés disso,
a lei da morte eterna entrou em operação. A morte eterna é a eterna condenação
e separação de Deus como resultado da desobediência do homem para com
Deus.
5. A única maneira de o ser humano escapar da morte em todos os seus aspectos é
através de Jesus Cristo, que “aboliu a morte e trouxe à luz a vida e a
incorrupção” (2Tm 1.10). Ele, mediante a sua morte, reconciliou-nos com Deus,
e, assim, desfez a separação e alienação espirituais resultantes do pecado (ver
Gn 3.24 ; 2Co 5.18 ). Pela sua ressurreição Ele venceu e aboliu o poder de
Satanás, do pecado e da morte física (ver Gn 3.15 ; Rm 6.10 ; cf. Rm
5.18,19;
1Co 15.12-28; 1Jo 3.8).
A MORTE FÍSICA DO CRENTE
Embora o crente em Cristo tenha a certeza da vida ressurreta, não deixará de
experimentar a morte física. O crente, porém, encara a morte de modo diferente
do incrédulo. Seguem-se algumas das verdades reveladas na Bíblia a respeito da
morte do crente.
1. A morte, para os salvos, não é o fim da vida, mas um novo começo. Neste
caso, ela não é um terror (1Co 15.55-57), mas um meio de transição para uma
vida mais plena. Para o salvo, morrer é ser liberto das aflições deste mundo
(2Co 4.17) e do corpo terreno, para ser revestido da vida e glória celestiais
(2Co 5.1-5). Paulo se refere à morte como sono (1Co 15.6,18,20; 1Ts 4.13-15), o
que dá a entender que morrer é descansar do labor e das lutas terrenas (cf. Ap
14.13).
2. A Bíblia refere-se à morte do crente em termos consoladores. Por exemplo,
ela afirma que a morte do santo “Preciosa é à vista do SENHOR” (Sl 116.15). É a
entrada na paz (Is 57.1,2) e na glória (Sl 73.24); é ser levado pelos anjos
“para o seio de Abraão” (Lc 16.22); é ir ao “Paraíso” (Lc 23.43); é ir à casa
de nosso Pai, onde há “muitas moradas” (Jo 14.2); é uma partida bem-aventurada
para estar “com Cristo” (Fp 1.23); é ir “habitar com o Senhor” (2Co 5.8); é um
dormir em Cristo (1Co 15.18; cf. Jo 11.11; 1 Ts 4.13); “é ganho... ainda muito
melhor” (Fp 1.21,23), é a ocasião de receber a “coroa da justiça” (ver 2Tm 4.8
).
3. Quanto ao estado dos salvos, entre sua morte e a ressurreição do corpo, as
Escrituras ensinam o seguinte:
3.1. No momento da morte, o crente é conduzido à presença de Cristo (2Co 5.8;
Fp 1.23).
3.2. Permanece em plena consciência (Lc 16.19-31) e desfruta de alegria diante
da bondade e amor de Deus (cf. Ef 2.7).
3.3. O céu é como um lar, i.e., um maravilhoso lugar de repouso e segurança (Ap
6.11) e de convívio e comunhão com os santos (Jo 14.2 ).
3.4. O viver no céu incluirá a adoração e o louvor a Deus (Sl 87; Ap 14.2,3;
15.3).
3.5. Os salvos nos céu, até o dia da ressurreição do corpo, não são espíritos
incorpóreos e invisíveis, mas seres dotados de uma forma corpórea celestial
temporária (Lc 9.30-32; 2Co 5.1-4).
3.6. No céu, os crentes conservam sua identidade individual (Mt 8.11; Lc
9.30-32).
3.7.Os crentes que passam para o céu continuam a almejar que os propósitos de
Deus na terra se cumpram (Ap 6.9-11).
4. Embora o salvo tenha grande esperança e alegria ao morrer, os demais crentes
que ficam não deixam de lamentar a morte de um ente querido. Quando Jacó
faleceu, por exemplo, José lamentou profundamente a perda de seu pai. O que se
deu com José ante a morte de seu pai é semelhante ao que acontece a todos os
crentes, quando falece um seu ente querido (ver Gn 50.1 ).
Prof. Rodrigo
Professor de Apocalipse e Escatologia no Instituto Teológico Quadrangular
TANATOLOGIA PARTE 2 (O
ESTUDO DA MORTE EM RELAÇÃO AO ESTADO INTERMEDIARIO DOS MORTOS)
O Dilema Existência Humano
Toda criatura humana enfrenta esse dilema. Não foi sua escolha vir ao mundo,
mas não consegue fugir à realidade do fim de sua existência. O dilema
existencial resulta da realidade da morte que tem que ser enfrentada. Em
Eclesiastes, o pregador diz: “Todos vão para um lugar; todos são pó e todos ao
pó voltarão”, Ec 3.20,21. São palavras da Bíblia e não de nenhum materialista
contempoprâneo. Quanto à realidade da vida e da morte, o homem é, dentro da
criação, o único que sabe que vai morrer. Analisemos alguns sistemas
filosóficos os quais discutem esse assunto.
Definição Bíblica para a Morte
1. O sentido literal e metafórico da palavra morte
· Separação. No grego a palavra morte é thanatosque quer dizer separação. A
morte separa as partes materiais e imateriais do ser humano. A matéria volta ao
pó e a parte imaterial separa-se e vai ao mundo dos mortos, o Sheol – Hades,
onde jaz no estado intermediário entre a morte e a ressurreição (Mt 10.28; Lc
12.4;Ec 12.7; Gn 2.7).
· Saída ou partida. A morte física é como a saída de um lugar para outro (Lc
9.31; 2 Pe 1.14-16).
· Cessação. Cessa a existência da vida animal, física (Mt 2.20).
· Rompimento. Ela rompe as relações naturais da vida material. Não há como
relacionar-se com as pessoas depois que morrem. A idéia de comunicação com
pessoas que já morreram é uma fraude diabólica.
· Distrinção. Ela distingue o temporal do eterno na vida humana. Toda criatura
humana não pode fugir do seu destino eterno: salvação ou perdição (Mt
10.28).
2. O Sentido bíblico e doutrinário da morte.
· A morte como o salário do pecado (Rm 6.23). O pecado, no contexto desse
versículo, é representado pela figura de um cruel feitor de escravos que dá a
morte como pagamento. O salário requerido pelo pecado é merecidamente a morte.
Como pagamento, a morte não aniquila o pecador. A verdade que a Bíblia nos
comunica é que a morte não é a simples cessação da existência física, mas é uma
consequência dolorosa pela prática do pecado, seu pagamento, a sua justa
retribuição. Quando morre, o pecador, está ceifado na forma de corrupção aquilo
que plantou na forma de pecado (Gl 6.7,8; 2 Co 15.21; Tg 1.15).
· A morte é sinal e fruto do pecado. O homem vive inevitavelmente dentro da
esfera da morte e não pode fugir da condenação. Somente quem tem a Cristo e o
aceitou está fora desta esfera. Só em Cristo o homem consegue salvar-se do
poder da morte eterna. Tiago mostra-nos uma relação entre o pecado e a morte
quando diz: “Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria
concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado;
e o pecado, sendo consumado, gera a morte”, Tg 1.14-15. O pecado, portanto,
frutifica e gera a morte.
· A morte foi vencida por Cristo no Calvário. A resposta única, clara, evidente
e idenpendente de quaisquer idéias filosóficas a respeito da morte é a Palavra
de Deus revelada e pronunciada através de Cristo Jesus no Calvário (Hb 1.1).
Cristo é a última palavra e a única solução para o problema do pecado e a
crueldade da morte (Rm 5.17).
Tipos Distintos de Morte
A Bíblia fala de três tipos distintos de mortes: física, espiritual e
eterna.
· Morte Física. O texto que melhor elucida esta morte é 2 Sm 14.14, que diz:
“Porque certamente morreremos e seremos como águas derramadas na terra, que não
se ajuntam mais”. O que acontece com o corpo quando é sepultado? Depois de
alguns dias, terá se desfeito e esvaído como águas derramadas na terra. É isso
que a morte física acarreta literalmente.
· Morte Espiritual. Este tipo tem dois sentidos n a perspectiva bíblica;
negativo e positivo. No sentido negativo, a morte pode ser identificada pela
expressão bíblica “morte no pecado”. É um estado de separação da comunhão com
Deus. Significa estar debaixo do pecado, sob o seu domínio (Ef 2.1,5). O seu
efeito é presente e futuro. No presente, refere-se a uma condição temporal de
quem está separado da vida de Deus (Ef 4.18). No futuro, refere-se ao estado de
esterna separação de Deus, o que acontecerá no Juízo Final (Mt 25.46).
No sentido positivo é a morte espiritual experimentada pelo crente em relação
ao mundo. Isto é: a sua pena do pecado foi cancelada e, agora vive livre do
domínio do pecado (Rm 6.14). Quanto ao futuro, o cristão autêntico terá a vida
eterna. Ou seja: a redenção do corpo do pecado (Ap 21.27; 22.15).
· Morte eterna. É chamada a Segunda morte, porque a primeira é física (Ap
2.11). Identificada como punição do pecado (Rm 6.23). Também denominada castigo
eterno. É a eterna separação da presença de Deus – a impossibilidade de arrependimento
e perdão (Mt 25.46). Os ímpios, depois de julgados, receberão a punição da
rejeição que fizeram à graça de Deus e, serão lançados no Geena (lago de fogo)
(Ap 20.14,15; Mt 5.22,29,30); 23.14,15,33). Restringe-se apenas aos ímpios (At
24.15). Esse tipo de morte tem sido alvo de falsas teorias que rejeitam o
ensino real da Bíblia.
Texto áureo
“ E no Hades, ergueu os olhos , estando em tormentos , e viu ao longe Abraão e
Lázaro, no seu seio.” (Lc 16.23).
Para onde as pessoas vão ao morrerem? Esta é uma pergunta intrigante que todos
fazem em algum momento da vida. A Bíblia nos fala do juízo final, quando todos
serÃo encaminhados para seus lugares eternos: O céu ou o lago de fogo. E antes
desse julgamento? Onde estarão os mortos?
O estado intermediário representa um lugar espiritual fixo onde as almas dos
mortos aguardam a resposta de seus corpos , para apresentarem-se,
posteriormente, perante o Supremo Juiz.
O estado intermediário, é o estado do morto entre a morte a ressurreição.
Argumento histórico. Se questão da vida após além- morte estivesse fundamentada
apenas em teoria e conjecturas filosóficas, ela já teria desaparecido. Mas as
provas na crença da imortalidade estão impressas na experiência da
humanidade.
Argumento teleológico. Procura que a vida ao ser humano tem uma finalidade além
da própria vida física. Há algo que vai além da matéria de nossos corpos, é a
parte espirítual. Quando Jesus aboliu a morte e trouxe á luz a vida e a
incorrupção, estava, de fato, desfazendo a morte espiritual e concedendo vida
eterna., a imortalidade ( 2 Tm 1.10). A vida humana tem uma finalidade superior
, uma razão de ser, um desígnio.
Argumento moral. Há um governador moral dentro de cada ser humano chamado
consciência que reage as suas ações. Sua existência dentro do espirito humano
indica sua função interna, como um sensor moral, aliado a soberania
divina.
Argumento metafïsico. Os elementos imateriais do ser humano, denunciam o
sentido metafïsico que compõem a sua alma e espírito. Esses elementos são indissolúveis;
portanto, como evitar a realidade da vida além da morte? Ë impossível ? A
palavra imortalidade no grego é athanasia e significa
literalmente ausênsia de morte. No sentido pleno somente Deus possui vida total
, imperecível e imortal (1 Tm 1.17). Ele é a fonte da vida eterna e ninguém
mais pode dá-la. No sentido relativo, o crente possui imortalidade conquistada
pelos méritos de Jesus no Calvário ( 2 Tm 1.8-12).
O que é estado intermediário:
1. É uma habitação espiritual fixa e temporal . Biblicamente, o Estado
intermediário é um modo de existir entre a morte física e a ressurreição final
do corpo sepultado. No Antigo Testamento, esse lugar é identificado como Sheol
(no hebraico), e no Novo Testamento como Hades (no grego). Os dois termos dizem
respeito ao reino da morte (Sl 18.5; 2 Sm 22.5,6). É um lugar espiritual em que
as almas dos mortos habitam fixamente até que seus corpos sejam ressuscitados,
para a vida eterna ou para a perdição eterna. É o estado das almas e espíritos,
fora de seus corpos, aguardando o tempo em que terão de comparecer perante
Deus.
2. É um lugar de consciência ativa e ação racional. Segundo Jesus descreveu
esse lugar, o rico e Lázaro participam de uma conversação no Sheol-Hades,
estando apenas em lados diferentes (Lc 16.19-31). O apóstolo Paulo descreve-o,
no que tange aos salvos, como um lugar de comunhão com o Senhor (2 Co 5.6-9;
Fp1.23). A Bíblia denomina-o como um “lugar de consolação” , “seio de Abraão”
ou “Paraíso” (Lc 16.22,25; 2Co 12.2-4). Se fosse um lugar neutro para as almas
dos mortos, não haveria razão para Jesus identificá-lo com os nomes que deu. Da
mesma forma, “o lugar de tormento”não teria razão de ser, se não houvesse
consciência naquele lugar.
Rejeita-se segundo a Bíblia, a teoria de que o Sheol-Hades é um lugar de
repouso inconsciente. A Bíblia fala dos crentes falecidos como “os que dormem
com o Senhor”(1 Co 15,6; 1 Ts 4,13), e isto não refere-se a uma forma de dormir
inconsciente, mas de repouso, de descanso. As atividades existentes no Sheol-
Hades não implicam que os mortos possam sair daquele lugar, mas que estão
retidos até a ressurreição de seus corpos para apresentarem-se perante o Senhor
(Lc 16.19,31; 23.43; At 7.59).
O Sheol-Hades, antes e depois do Calvário
1. Antes do Calvário. O Sheol-Hades dividia-se em três partes distintas. Para
entender essa habitação provisória dos mortos, podemos ilustrá-lo por um
círculo dividido em três partes. A primeira parte é o lugar dos justos, chamada
“Paraíso”, “seio de Abraão”, “lugar de consolo” (Lc 16.22,25; 23.43). A Segunda
é a parte dos ímpios, denominada “lugar de tormento” (Lc 16.23). A terceira
fica entre a dos justos e a dos ímpios, e é identificada como “lugar de
trevas”, “lugar de prisões eternas”, “abismo” (Lc 16.26; 2 Pe 2.4; Jd v. 6).
Nessa terceira parte foi aprisionada uma classe de anjos caídos, a qual não sai
desse abismo, senão quando Deus permitir nos dias da Grande Tribulação (Ap
9.1-12). Não há qualquer possibilidade de contato com esses espíritos caídos;
habitantes do Poço do Abismo.
2. Depois do Calvário. Houve uma mudança dentro do mundo das almas e espíritos
dos mortos após o evento do Calvário. Quando Cristo enfrentou a morte e a
sepultura e as venceu, efetuou uma mudança radical no Sheol-Hades (Ef 4.9,10;
Ap 1.17,18). A parte do “Paraíso” foi trasladada para o terceiro céu, na
presença de Deus (2 Co 12.2,4), separando-se completamente das “partes
inferiores” onde continuam os ímpios mortos. Somente, os justos gozam dessa
mudança em esperança pelo dia final quando esse estado temporário se acabará, e
viverão para sempre com o Senhor, num corpo espiritual ressurreto.
Essa doutrina Bíblica fortalece a nossa fé ao dar-nos segurança acerca dos
mortos em Cristo, e é a garantia de que a vida humana tem um propósito elevado,
além de renovar a nossa esperança de estar para sempre com o Senhor.
Entendemos assim, pelas escrituras que a alma permanece viva e consciente após
a morte do corpo. Nesse estado, a alma do justo já se encontra na presença do
Senhor, em um lugar que normalmente denomina-se “paraíso”. O ímpio, por sua
vez, já se encontra em tormentos no inferno. Tais lugares são de permanência
temporária, até que venha o Juízo Final.
Após o juízo, os justos serão introduzidos no céu e os ímpios serão lançados no
lago de fogo.